Aloísio Chulapa chora ao relembrar trajetória: de garçom a campeão mundial
Arthur Macedo e Roberto Salim
Do UOL, em São Paulo
21/06/2024 04h00
Jogar pelo time de coração é sonho que poucos conseguem realizar. Ser campeão mundial vestindo a camisa amada? Coisa mais rara ainda. Aloísio Chulapa é um exemplo de sucesso nessa jornada.
São-paulino desde antes dos primeiros chutes como profissional, Aloísio conquistou o Mundial de Clubes representando a equipe em 2005. 13 anos depois do primeiro título do Tricolor dessa grandeza, em 1992, época em que o futuro atacante era um garçom que sonhava em pintar o mundo de vermelho, branco e preto.
O tempo passou e ele acabou no clube de coração. E chegou para jogar justamente o mundial. Virou titular e foi decisivo, com o passe para o gol do título.
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Quando acabou o jogo eu olhei para o céu ne parece que eu vi o rosto de Jesus. E eu perguntei pra ele: Isso é verdade que o senhor nos proporcionou? Quem diria que um negão trombador sai de Atalaia, cortador de cana, trabalhava na usina, garçom assistindo ao Mundial de 92 e 93 sendo são-paulino, vendo os caras conquistar o título e depois sai dali e tá la, conquistando o terceiro título. Isso é uma coisa que você tem que se emocionar, chorar e dizer: Eu estive ali. Um sonho de criança.Aloisio Chulapa
O ex-jogador é o entrevistado do quinto episódio da série História da Bola, do UOL. Ex-jogadores, treinadores e personalidades contam passagens inéditas e detalham casos famosos no futebol.
Entre bandejas e torcida
Aloísio trabalhava como garçom em sua cidade natal quando o São Paulo conquistou o mundo duas vezes. Natural de Atalaia, Alagoas, o futuro atacante ainda não havia iniciado sua carreira como jogador quando o time de seu coração bateu Barcelona e Milan em 1992 e 1993.
O bimundial rendeu preocupação no momento e risadas para anos depois. A final entre São Paulo e Milan, estava 2 a 2 até os 43 minutos do segundo tempo. Aloísio conta que trabalhava na churrascaria naquela manhã de 12 de dezembro de 1993. A combinação de dividir atenções entre as bandejas e o time do coração não deu certo.
A bola foi lançada para o Müller, na velocidade com o zagueiro, o goleiro. Ele se virou, a bola bateu. E eu com a bandeja para servir os casais. Quando a bola entrou, eu gritei gol e esqueci que estava com a bandeja, com a cerveja Aloísio
Voou tudo. Caiu em cima, filé acebolado com fritas. Melou a camisa das mulheres e dos caras. Eles ficaram muito bravos, o patrão da churrascaria deu aquela dura, mas graças a Deus não me mandou embora. Era meu pezinho de meia, o dinheiro para ajudar a mamãe em casa
Construindo a própria história no São Paulo
Aloísio realizou o sonho de jogar no São Paulo em 2005. Após passagens por clubes como Flamengo, Guarani e Goiás no Brasil, e PSG, Saint-Étienne e Rubin Kazan na Europa, defendeu o Athletico no primeiro semestre de 2005. O atacante participou da campanha rumo ao vice daquela Libertadores, perdendo na final justamente para o Tricolor Paulista.
Quando o São Paulo me contratou, fui para o lugar do Luizão, vendido para o Japão. Já tinha Amoroso e Grafite, Christian, Thiago Ribeiro. O Paulo Autuori disse lá no Japão que o Amoroso já tinha lugar garantido, desse jeito. 'Agora os quatro vão ver quem joga no lado do Amoroso'
Aloísio conquistou nos treinos a vaga no time titular. O camisa 14 estreou pelo São Paulo — já que havia ultrapassado o limite de jogos no Brasileirão representando o Athletico — na semifinal contra o Al-Ittihad, e também fez dupla com Amoroso na decisão diante do Liverpool.
Eu arrebentei [nos treinos]. Se foi 4 a 0 o coletivo, foi dois meus e dois do Amoroso. Quando acabou o coletivo, o Amoroso me disse: 'Já escolhi você. Já vou falar para o Autuori, vou pedir. Mas cala a boca'
A assistência para o título
Foi de Aloísio o passe que decidiu a final do Mundial. O atacante serviu o volante Mineiro, que marcou o único gol do jogo diante do Liverpool. São Paulo tricampeão do planeta.
O povo pergunta qual foi o gol mais bonito da sua carreira. Eu digo o passe. Não tem gol mais bonito na minha vida, na minha carreira, na minha história do que aquele passe. Eu fui reconhecido mundialmente. Onde eu chego, o povo não fala do gol do Mineiro. O povo só fala do passe
Aloísio revela que a jogada foi ensaiada. Segundo o ex-atacante, Paulo Autuori coordenou a conexão entre Fabão e Aloísio em momentos de pressão do Liverpool.
Quem diria que um 'negão' trombador ia sair de Atalaia, cortador de cana, garçom, assistindo ao Mundial de 1992 e 1993, sendo são-paulino e vendo os caras conquistarem o título, depois estaria lá, conquistando o terceiro título? Isso é uma coisa que você tem que se emocionar, chorar e dizer 'eu estive ali'.