Folgado? Martinelli detalha amizade com goleiro argentino: 'Firmeza total'

Para muitos, o goleiro Emiliano Martínez, titular da seleção da Argentina, é "folgado" ou "maluco". Gabriel Martinelli, no entanto, mostrou outra versão do ex-companheiro de Arsenal em depoimento ao "The Players Tribune". Às vésperas da estreia brasileira na Copa América, o atacante detalhou a amizade com "Dibu" e alertou: quer marcar um gol no amigo em uma final. Os dois jogaram juntos entre 2019 e 2020.

Amigos, sim... mas adversários também

Recepção amigável. "Logo que cheguei no Arsenal [em 2019], um anjo veio tomar conta de mim. Um anjo argentino, mas beleza! Era o Emiliano Martínez, um dos nossos goleiros na época. Pô, o Emi foi firmeza total. Às vezes, as pessoas acham que ele é meio marrento, meio folgado... mas não é nada disso. O cara é muito parceiro, tem bom coração e foi importante nessa minha chegada ao time."

Relação de irmãos. "O Emiliano fala português, então me ajudava na comunicação. Me explicava como o dia a dia no clube funcionava. Me apresentou pros funcionários. Passava de carro em casa pra gente ir pro treino, ou pro Emirates em dia de jogo, depois me levava de volta. Na primeira temporada ele convidou a minha família inteira pra passar o Ano Novo na casa dele. O cara me acolheu mesmo, cuidou de mim como se fosse meu irmão mais velho."

Amigos, amigos... Negócios à parte. "Mas, Emi, meu amigo… Não leva a mal, mas preciso te dizer que… irmão faz gol em irmão — e eu tô doido pra marcar contra você nessa Copa América! A minha mãe até briga comigo por causa disso. Ela diz: 'Mas, Gabi, você vai fazer gol no Emi?! Justo no Emi, depois do tanto que ele te ajudou quando você chegou em Londres?'. Ah, mãe, eu vou sim. Se a oportunidade pintar, não posso desperdiçar. É Brasil x Argentina. Os caras são os campeões do mundo."

"Não" do United antes de vingar

Martinelli também detalhou, ao The Players Tribune, sua frustração ao ser rejeitado duas vezes pelo Manchester United ainda na adolescência. Ele admitiu que pensou em desistir dos testes e "fazer faculdade".

Primeiro "não". "Com pouco tempo no Ituano, ainda com 13 anos, fui chamado pra fazer um teste no Manchester United. Ali sim eu senti a pressão. Esmagadora. Eu era muito novo e tudo era novo demais pra mim. O frio, a cerimônia num clube daquele tamanho, o idioma, a primeira vez tantos dias longe da minha mãe… Tudo pesava e nada parecia divertido. Pra completar, uma tremenda expectativa de conseguir fazer tudo direito e ser aprovado tirava a minha tranquilidade. No fim, não deu. Eu não consegui 'cochilar no banco de trás' e a pressão me venceu. Fui mal no teste e dispensado.

Incerteza sobre futuro. "Voltei para o Ituano meio inseguro sobre o meu futuro no futebol, sem saber de onde tirar força pra continuar fazendo o que eu mais gostava na vida. Uma opção era desistir de tudo, ir fazer uma faculdade e… continuar inseguro sobre o futuro, quem sabe descolar um emprego que eu passaria o resto dos meus dias fazendo sem gostar. Então eu respirei e continuei treinando. "

Segundo "não". "Quando fiz 17, o United me chamou de novo. Agora, em vez de nervoso, eu fiquei muito empolgado. Trombei o Pogba, o Juan Mata, o McTominay e outros caras do videogame no refeitório, consegui treinar bem, estava certo de que ficaria por lá. Além do mais era a segunda oportunidade que eles me davam. Alguma coisa tinham visto em mim. Nada. Me mandaram pra casa de novo. Na volta, ainda passei 15 dias no Barcelona, o suficiente pra tomar outro não. Só que algo tinha mudado."

Continua após a publicidade

Serenidade e persistência. "Eu não me senti sem esperança. Um pouco triste, talvez. Mas pela primeira vez, eu tive consciência de que a minha força também podia vir da dificuldade. Ou melhor, de eu conseguir extrair energia, concentração e serenidade dela. Se na vida nem tudo são flores, eu posso me esforçar pra desviar dos espinhos. Essa é a minha natureza. E eu fiquei feliz de descobrir."

Aprovação e nova vida. "Um ano depois, quando o Arsenal me chamou pra testes também, eu estava mais fortalecido, eu acho, apesar da pouca idade. Eu tinha 18. Era a minha terceira vez na Inglaterra, no frio, longe da minha mãe e mais perto do que nunca do meu sonho. Eu também sabia exatamente como me sentiria e como reagiria se me mandassem pra casa outra vez. Então eu cheguei em Londres numa pegada, tipo… 'Vai que é sua, Gabi! A bola tá com você. Mais uma chance de ser protagonista da sua história.' E dessa vez rolou. Me transferi pro Arsenal com a certeza de que, se eu continuasse sendo eu mesmo, fiel à minha essência, focado e sereno, pressão nenhuma me impediria de encontrar um jardim inteiro de flores no norte de Londres. Tem sido uma jornada e tanto."

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.