TV: Vice do Corinthians é suspeito de contratar espiã que abordou laranja

Armando Mendonça, um dos vice-presidentes do Corinthians, é suspeito de contratar uma investigadora que abordou a laranja do caso Vai de Bet.

O que aconteceu

O Fantástico, da TV Globo, mostrou que a polícia tem indícios de que Armando Mendonça contratou uma empresa para investigar Edna Oliveira dos Santos.

O vice-presidente do Corinthians teria contratado a empresa de investigação particular Vênus, do dono Felipe de Lacerda Ferreira.

Procurado pelo UOL, o Corinthians disse que vai aguardar a conclusão das investigações. Já Armando Mendonça afirmou que aguarda a apuração da polícia e que não foi procurado pela Globo. O Fantástico disse que procurou o dirigente.

Respeito o trabalho jornalístico e sempre me coloquei à disposição de todos os profissionais da área. Sobre os fatos comentados na reportagem, aguardo a apuração da autoridade policial competente Armando Mendonça

O Sport Club Corinthians Paulista vai aguardar a conclusão das investigações e espera que as mesmas sejam encerradas com a maior brevidade possível. Desde o início das investigações, o Clube colabora ativamente com as autoridades e é o maior interessado na conclusão célebre do trabalho policial, para que assim possa tomar as providências cabíveis do que ficar apurado Corinthians

Felipe Ferreira, da empresa Vênus e supostamente contratado por Mendonça, teria escalado Adriana Ramuno para ir até a casa de Edna em Peruíbe, no litoral sul paulista, no dia 30 de abril, para perguntar sobre a abertura da empresa de fachada Neoway Soluções Integradas e se a mulher havia assinado algum documento para a firma que recebeu R$ 1 milhão da comissão da Vai de Bet.

Edna disse para Adriana Ramuno o mesmo que afirmou à polícia: não assinou nada e muito menos tem R$ 1 milhão. Ela sobrevive do Bolsa Família numa casa humilde no Jardim Caraminguava.

Armando Mendonça disse que avisou o presidente Augusto Melo sobre o repasse da comissão da Vai de Bet com antecedência e foi ignorado, mas não havia citado qualquer contratação de uma empresa de investigação.

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Ele [Augusto] recebeu minha informação com total insignificância. Não se importou e nem deu atenção para as minhas sugestões e preocupações. Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians, ao UOL, no dia 12 de junho

Mendonça foi intimado a comparecer à Drade (Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva), após ser citado em uma queixa-crime movida por Sérgio Moura, superintendente de marketing que pediu afastamento em 23 de maio.

No depoimento, o vice-presidente revelou que foi procurado pelo jornalista Juca Kfouri, do UOL, que denunciou os repasses à "laranja", no início do mês passado, e, em seguida, informou Augusto Melo. Toda a denúncia foi repassada ao presidente no dia 8 de maio.

Mendonça afirmou ter orientado o mandatário a iniciar imediatamente um procedimento interno de averiguação, além de suspender os pagamentos para a empresa intermediadora e solicitar a instauração de um inquérito policial.

Quando a reportagem foi publicada, Augusto foi orientado pela própria Ernst & Young, empresa que presta consultoria ao Corinthians, a afastar as pessoas do clube citadas no caso. Sérgio Moura e Marcelo Mariano, diretor administrativo, são apontados como os pivôs do caso.

A E&Y, bem como os antigos diretores jurídicos, sugeriram o afastamento de todos os envolvidos para a lisura da investigação, pois esse é o procedimento correto nesses casos, respeitando o princípio da presunção de inocência. O presidente não acolheu nenhum dos afastamentos, pois o Sérgio Moura quem pediu licença, e o Marcelo continua no cargo. Armando Mendonça

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O que Mendonça disse em depoimento

"No dia 8 de maio, informei ao presidente Augusto Melo que a empresa intermediadora do nosso patrocínio máster à época (Vai de Bet), a Rede Social Media, de São José dos Campos, recebeu um valor de patrocínio e que o dinheiro estava sendo desviado para uma conta de uma pessoa física, que é sócia de uma [empresa] 'laranja'.

Isso era de se causar estranheza e muita preocupação, sendo que o clube deveria interromper imediatamente qualquer pagamento para essa Rede Social Media [contrato intermediado por Alex 'Cassundé'], até que tudo fosse auditado minuciosamente. E que isso poderia causar um grande dano financeiro ao Corinthians e estaria 'abastecendo' outra considerada 'fantasma', ou seja, transformando um dinheiro lícito em ilícito.

Dito tudo isso para o presidente, ele preferiu, naquela oportunidade, não seguir com nenhuma das minhas sugestões e recomendações - nem a paralisação de pagamentos, nem pedido de instauração de inquérito policial e nem apuração interna com o afastamento dos citados (Sergio Moura e Marcelo Mariano), com a alegação de que essa questão (eventual pagamento de empresa de 'laranja') era um problema exclusivo da empresa intermediadora Rede Social e não do SCCP.

Já no dia 9 de maio, fui ter uma simples conversa com Sérgio Moura, que era o responsável pelo departamento e poderia aclarar dúvidas que eu tinha. Ainda, pelo relacionamento que era publicado na imprensa entre Alex Cassundé e Sérgio Moura, tive o cuidado de perguntar se era verdade da relação, que a imprensa divulgava entre ele e o sócio da empresa Rede Social. Ele confirmou.

Ainda aproveitei para perguntar se existia qualquer troca de mensagens, mesmo que de WhatsApp, ou contrato etc., com a empresa desse Alex, na época do fechamento da negociação da intermediação, que pudesse pôr fim a toda especulação envolvendo o intermediário. Ele me disse que, infelizmente, achava que não tinha nenhuma troca de mensagens ou contrato."

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- Trechos retirados do depoimento de Armando Mendonça à polícia

O caso Vai de Bet

Em janeiro 2024, o Corinthians anunciou o maior acordo de publicidade da história do futebol sul-americano com a Vai de Bet: R$ 370 milhões (incluindo as luvas) e divididos em três anos.

Fontes ouvidas pelo UOL afirmam que, inicialmente, o presidente Augusto Melo apontou que toda negociação teria sido conduzida por ele e por Marcelo Mariano, atual diretor administrativo do clube.

Após o acordo firmado, Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design, teria surgido como uma das partes envolvidas na negociação. Cassundé foi indicado por Sérgio Moura para integrar o time de comunicação que trabalhou na campanha eleitoral de Augusto Melo.

Em maio, Juca Kfouri revelou que a empresa de Cassundé recebeu dois pagamentos de R$ 700 mil do Corinthians em um espaço de três dias - R$ 1,4 milhão no total - e fez repasses a uma empresa "laranja".

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A repercussão negativa culminou na rescisão do contrato da Vai de Bet, que acionou a cláusula anticorrupção para romper o acordo com o clube.

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