Cassundé diz que não fez intermediação e que encontrou Vai de Bet em IA
Livia Camillo
Do UOL, em São Paulo
25/06/2024 19h00Atualizada em 25/06/2024 22h53
Alex Cassundé, que consta como intermediário do contrato envolvendo Corinthians e Vai de Bet, disse à polícia que não atuou diretamente na negociação entre clube e casa de apostas.
Detalhes do depoimento de Cassundé
O empresário afirmou em depoimeno que não participou da intermediação que culminou em escândalo e rescisão de contrato. Ele disse que, a princípio, não havia solicitado nenhum valor ao Corinthians — a comissão foi oferecida e estipulada pelo próprio clube. O UOL apurou detalhes do que foi dito no depoimento na tarde desta terça-feira (25), que durou mais de três horas.
Cassundé revelou ter achado a Vai de Bet por meio do Chat GPT, um sistema baseado em inteligência artificial. A pergunta usada pelo empresário à plataforma de IA foi: "Dicas de como encontrar empresas de bet (aposta)".
Depois disso, ele entrou em contato com José André da Rocha Neto, CEO da casa de apostas, que afirmou só tratar do patrocínio diretamente com o clube.
A partir daí, ele acionou Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing do Corinthians), que o orientou a procurar Marcelo Mariano (diretor administrativo) antes das negociações do clube com a empresa de apostas esportivas.
Cassundé, ainda segundo sua versão, encaminhou o contato da pessoa responsável da Vai de Bet ao diretor.
Na sequência, a diretoria do Corinthians tocou a negociação e fechou o vínculo sem a presença de Alex. Em janeiro, houve um convite a Cassundé para constar como "intermediador" do contrato e receber 7% da transação, cerca de R$ 25 milhões.
Já a defesa de Cassundé contradiz o depoimento do próprio empresário.
O contrato foi feito por ele, existe a documentação, existe o contrato do intermediador, tudo isso. Tem mensagens trocadas, tem Whatsapp, tem e-mail. Se eles [investigadores] requisitarem, a gente vai apresentar. Cláudio Salgado, advogado de Alex Cassundé, em entrevista.
Repasses da Rede Social Media à Neoway
Em sua versão, Alex também diz ser vítima de um golpe milionário da Neoway Soluções Integradas Ltda., empresa de fachada.
Após receber os valores de comissão do Corinthians, Cassundé procurou um representante da Neoway, que teria conhecido em uma feira de negócios, para adquirir um sistema de telemedicina. O acordo foi feito de forma totalmente verbal, mas o sistema não foi entregue dentro do prazo.
Ainda segundo fontes da polícia, o empresário disse ter acionado seu advogado quando percebeu que tinha sido lesado. Então, Cláudio Salgado estruturou um contrato e enviou ao endereço da empresa, mas o representante não foi localizado.
Advogado vê dúvidas esclarecidas
Cláudio Salgado, advogado de Cassundé, falou depois do depoimento. Ele disse que não houve qualquer recusa por parte do empresário e sinalizou que seu cliente foi vítima de um "golpe".
Depoimento. "O Alex foi tranquilo, foi ouvido. Foram três horas de depoimento, ele respondeu a todas as perguntas. Não teve nenhuma à qual ele não respondeu ou 'não sei'. Esclarecemos todas as dúvidas que a polícia tinha, todos os detalhes e, por fim, o telefone dele foi entregue por determinação judicial. Mais uma prova de que não há nenhum tipo de problema quanto a isso, não apagou mensagens, não mexeu no telefone, é o telefone que ele sempre usou. Está resolvido."
Intermediação com a Vai de Bet. "Ele foi em busca no mercado de parcerias possíveis para o Corinthians, porque foi solicitado uma possibilidade nesse mercado para ele. Ele verificou que a Vai de Bet até então não tinha patrocínio. No princípio, o primeiro momento foi para o time de futebol feminino, e aí, numa negociação que ele não tem conhecimento internamente do clube, acabou caindo para o profissional. Teve uma fase dentro desse processo, em que foi necessária a intermediação, porque ele participou de algum momento e foi chamado para fazer essa parte da intermediação. Inicialmente não teria, mas depois houve a necessidade de regularizar."
Vítima de golpe. "Foi feita [a transferência], foi uma parceria de negócio que ele fez, regularizada. Houve este questionamento: se o depósito foi feito de forma irregular, e ele esclareceu que não foi desta forma. Ele foi um vítima, de repente, de um golpe. Estamos tomando as atitudes para ir atrás disso. É bastante detalhado [a questão do repasse]. É muito detalhe para eu passar, mas é de negócios dele. Ele está envolvido nessa situação de negócios e teve que fazer este pagamento. Foi mostrado, justificado e esclarecido. Não há repasse para Corinthians, corrupção, nada disso."
Relação com diretores do Corinthians. "Eles tiveram relações [Alex Cassundé, Sérgio Moura e Marcelo Mariano], até porque ele foi intermediário do negócio, mas não há questão de corrupção, de repasse de valores, nada disso. Ele atuou na campanha do presidente do Corinthians, já trabalhou com isso, atuou na campanha, foi fazer a mídia e teve muito sucesso. Ele não tem relação com o presidente. Se não me falha a memória, ele viu o Augusto uma vez, pessoalmente, em um podcast [live] ou alguma coisa assim, mas nada. Foi esse o único momento."
Sobre repasses à Neoway. "Ele tem outro negócio, que não vem ao caso agora, e ele fez uma parceria: comprou um sistema e ele não foi entregue. Quem conhece um pouco essa parte digital sabe que são parcerias caras, com valores elevados. Ele explicou o que é isso. Ele comprou um 'sistema' que não foi entregue, ele foi vítima e daí é que, possivelmente, começou essa investigação, que fez o caminho inverso. Ele não tinha a informação [sobre a Neoway ser empresa fantasma], nunca teve. Ficou sabendo agora pela situação."
Prints. "Ele não foi questionado [sobre prints]. Aquilo é falso, não tem sentido. A própria polícia nem perguntou sobre isso."