Por que Vini Jr. ainda deve 'jogo de Bola de Ouro' na seleção brasileira
Sobe a plaquinha aos 25 minutos do segundo tempo do frustrante empate em 0 a 0 com a Costa Rica: entra Savinho, sai Vini Jr. A substituição fez Neymar reagir incrédulo em um dos camarotes do SoFi Stadium, em Los Angeles. Era o fim de mais uma partida discretíssima do craque do Real Madrid pela seleção brasileira.
O que aconteceu
A estreia de Vini na Copa América foi ruim, longe de uma atuação digna de quem é favorito para a conquista da Bola de Ouro nessa temporada.
Trata-se de mais um jogo no qual ele enfrentou dificuldades. E tem sido assim, sobretudo em um período no qual a seleção não encontra um padrão tático e há mudanças de peças.
Desde a Copa 2022, houve três microciclos na seleção: Ramon Menezes, Fernando Diniz e agora com Dorival Júnior — isso entra na conta da CBF. Em nenhum deles, o Brasil, como conjunto, empolgou. Isso atrapalha pretensões individuais e Vini não decola com a camisa amarela. Diante de visões diferentes de futebol em tão pouco tempo, o atacante, assim como os demais, sofre para assimilar as ideias de forma rápida.
Contra a Costa Rica, Vini não finalizou uma vez sequer e perdeu a posse de bola 18 vezes. Dorival Júnior justificou que o atacante "estava muito bem marcado" e o melhor foi tirá-lo, para surpresa de Neymar, que estava em um camarote no estádio.
As atuações ruins ou medianas na seleção geram reflexo nos números. O craque tem três gols em 31 jogos e não marca desde o pênalti no amistoso contra Guiné, há um ano. O protagonismo recente foi na assistência para Endrick na vitória suada sobre o México.
Vini jogou onde gosta na estreia na Copa América: no lado esquerdo do ataque e com liberdade para se movimentar. Mesmo assim, pareceu não lidar bem com a responsabilidade de ser "o cara" e decepcionou novamente. O jogador sabe que os holofotes estão sobre ele e tenta lidar com naturalidade. Na prática, no entanto, a responsabilidade cobra seu preço.
Temos que melhorar, eu sei que devo melhorar, o que posso fazer pela nossa seleção, nosso país. Como eu falei antes, é um treinador novo, jogadores novos. Tudo requer tempo. Claro que a torcida quer resposta imediata, mas vamos pouco a pouco, no próximo jogo atuaremos melhor. Hoje entendemos melhor a competição, campo, árbitro e jogadores. Toda vez que entro em campo pela seleção tem três ou quatro para marcar
Vini Jr.
Ancelotti faria diferente?
O paralelo com o Real Madrid é inevitável. Sobretudo depois de uma temporada tão positiva.
A diferença em relação à seleção não só envolve a capacidade coletiva e técnica do time espanhol, mas abrange o papel tático de Vini Jr. (que lá forma dupla de ataque com Rodrygo) e o quanto Carlo Ancelotti aposta no brasileiro como fator de desequilíbrio nos jogos.
Vini não costuma ser substituído no Real, principalmente nas partidas mais importantes. Ancelotti sempre espera que o atacante encontre o espaço ou a jogada necessária.
Nos 10 jogos da última edição da Champions League, Vini não foi substituído antes dos 35 minutos do segundo tempo. Foram quatro alterações, nenhuma com o time perdendo e duas enquanto havia empate no placar (ambas nas quartas de final contra o Manchester City). Só que no segundo duelo contra o City, ele saiu já na prorrogação e por questões físicas.
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Quero receberEntre as quatro substituições totais de Vini na Champions, a última foi uma homenagem: já aos 45 minutos do segundo tempo, com o título encaminhado sobre o Borussia Dortmund.
E na seleção?
Dorival fez nesta segunda-feira apenas o primeiro jogo em competição oficial. E Vini apareceu na primeira leva de trocas. Nos quatro amistosos anteriores sob o comando do treinador, o craque só atuou por completo contra os Estados Unidos.
Diante do México, entrou no segundo tempo e deu assistência para o gol salvador de Endrick. Antes, tinha saído aos 26 minutos do segundo tempo contra a Espanha, e já aos 45 minutos do segundo tempo na vitória sobre a Inglaterra.
O recorte no período de Fernando Diniz foi prejudicado pelas lesões. Ele ficou fora dos dois primeiros jogos. Foi sacado aos 34 minutos do segundo tempo no empate com a Venezuela (o Brasil ainda vencia por 1 a 0) e também saiu já aos 39 da etapa final diante do Uruguai. Mas o placar já estava 2 a 0 para a Celeste. Contra a Colômbia, se machucou aos 27 minutos do primeiro tempo.
Frustração
A expectativa para esse jogo contra a Costa Rica era grande. Mesmo sem ser uma decisão, marcaria uma estreia e a ansiedade pelo "Vinicius do Real Madrid" na seleção. E sem Neymar para atrair holofotes em campo.
O desempenho de Vini Jr. em jogos de Liga dos Campeões ou duelos contra os maiores clubes na Espanha é diferente do que o que o jogador apresenta em duelos contra equipes da parte de baixo da tabela. É nítido, e os números comprovam.
Na última temporada, 18 dos 24 gols marcados por Vini Jr foram em partidas da Liga dos Campeões, outros torneios de mata-mata ou em partidas contra adversários que terminaram na metade de cima da tabela do Campeonato Espanhol. Na final da Supercopa da Espanha, por exemplo, Vini anotou um hat-trick na vitória por 4 a 1 contra o rival Barcelona.
Nos dois torneios de maior importância que disputou até aqui com a seleção, Vini Jr. não tinha o protagonismo que tem hoje e precisava enfrentar uma outra questão: o técnico Tite não era o maior fã do futebol do atacante. Vini se sente muito mais à vontade agora com Dorival no comando.
Na Copa América de 2021, ele foi reserva e não somou nem 90 minutos no torneio. Para a Copa do Mundo, as boas atuações no Real Madrid forçaram sua entrada no time titular. Vini deu duas assistências, marcou um gol, e a seleção só balançou a rede sem ele em campo uma vez: no gol de Neymar contra a Croácia. Até hoje, a saída dele no segundo tempo daquele duelo gera discussão.
O desempenho de Vini Jr. até aqui na seleção brasileira não satisfaz nem a ele, nem a seu estafe, nem aos torcedores. Mas há um entendimento de que a Copa América ainda pode ser a virada de chave para ele: um torneio importante, em que ele é o principal jogador da seleção. Espera-se que seja decisivo.
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