Dormimos no hotel 'mal-assombrado' de sede da semifinal da Copa América
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Então esse hotel é mal-assombrado?
A frase capturou minha atenção imediatamente. Eu tinha chegado ao The Dunhill Hotel naquela manhã e, sem saber sobre o suposto perigo que estava correndo, já havia dormido algumas horas para descansar do voo noturno até Charlotte, cidade que recebeu a semifinal entre Uruguai x Colômbia.
O quarto tinha claramente sido reformado, mas a cama com quatro pilares altos nas extremidades, daqueles que servem de apoio para véus, cortinas ou mosquiteiros, denunciava a idade do local. Ao saber da história, aquela particularidade que poderia ser "vintage" pendeu mais para o lado do sinistro.
Eu estava saindo para almoçar quando ouvi aquela frase. Uma mulher com vestido de noiva sentava-se ao balcão do bar do hotel com seu par e conversava com a bartender. A moça que trabalha no local, então, contou a história.
O hotel The Dunhill foi construído na época da quebra da bolsa de valores americana, em 1929, e era um dos pontos mais altos da cidade naquela época. Diante do desespero com o dinheiro perdido na crise, há diversos relatos de empresários que pularam do 10º andar. Acredita-se que os espíritos de tais homens nunca tenham deixado o hotel e é daí que vem a história.
"Há relatos de hóspedes que viram coisas", continuou a atendente enquanto a noiva tomava mais um gole do drinque que havia pedido. Segundo ela, uma mulher que se hospedou no 10º andar, o mesmo em que ficamos, apareceu repentinamente correndo no saguão vinda das escadas. Ofegante, ela passou como um raio pela recepção e saiu pela porta da frente.
Lá fora, a mulher dobrou a esquina em direção à janela de seu quarto. Era noite, então ela precisou chegar mais perto para examinar o local. Um dos seguranças do hotel a seguiu. A moça olhava estupefata para o chão e logo depois para o alto. Parecia não entender.
"Eu vi ele cair, eu vi!", ela disse ao segurança.
Com alguma dificuldade, o empregado do hotel a conduziu para dentro e sentou-a no lobby. Depois de alguns copos d'água, ela se acalmou o suficiente para explicar. A moça havia ouvido passos no teto e estranhou o fato por estar no último andar. Momentos depois, ela alegou ter visto um vulto grande passar pela janela do seu quarto em direção ao chão. Quando se aproximou do parapeito e abriu o vidro para observar, disse que quase foi acertada por um corpo humano que despencou do telhado.
Então, ela desceu correndo horrorizada e foi checar a calçada pronta para ligar para a emergência. Quando chegou ao local, não havia nada.
"Ontem à noite mesmo eu ouvi passos vindos daquela sala ali e eu sabia que não tinha ninguém. Tive que chamar meu namorado para sair daqui do bar", disse a garçonete, em tom sombrio para a noiva.
Reforma e esqueleto
O hotel, que na época se chamava Mayflower, fechou as portas em 1981 e foi por duas vezes vendido. Em uma das reformas, foi encontrado um esqueleto debaixo do fosso do elevador. O mistério nunca foi desvendado na cidade.
"O esqueleto pertencia a um homem que cometeu suicídio pulando do 10º andar. Ninguém sabe como os ossos foram parar ali", me disse outro dos atendentes do bar do hotel. "Mas eu sou a pior pessoa para quem você pode perguntar, não acredito muito nessas coisas", continuou.
Ao ouvir isso, uma moça toda de preto que tomava um chope do outro lado do balcão interrompeu. "Ontem eu deixei minha maquiagem em cima da mesa de cabeceira e quando voltei ela estava no banheiro. Como você explica isso?". O homem que estava com ela foi quem respondeu: "Serviço de quarto". A mulher, porém, insistiu que conversou com a camareira e que ela não tinha ido ao quarto deles naquele dia.
O bar, inclusive, possui um drinque em homenagem ao "fantasma". O "The 'Dusty'", que pode ser traduzido como o empoeirado, tem uísque, uma mistura amarga, um toque defumado, uma pitada de açúcar e uma cereja. Segundo o bartender, é para os fortes e ajuda a ver o fantasma. A trabalho, não bebi.
Nossa experiência
Descobri sobre a fama de mal-assombrado antes da primeira noite. Eu estava no 10º andar, o mesmo da tal hóspede que viu as coisas, mas dizem que o quarto 906 é o mais assombrado. Naquela noite, quando retornei ao local, subi o elevador e dei uma boa olhada para ambos os lados antes de sair. Não havia nada para se ver, mas é exatamente assim que ocorre nos filmes de terror até que algo acontece.
Continuei desconfiado ao entrar no quarto. Abri a porta toda e segurei alguns segundos enquanto me certificava não ter companhia. Fechei a porta sem nenhum rangido típico daqueles filmes. A cortina estava aberta e tomei coragem para fechá-la, mas não me arrisquei abrir a janela e olhar para cima...
Dormi um sono tranquilo, até que no dia seguinte... Não aconteceu nada de novo. O máximo que passamos perto de algo sobrenatural foi quando eu olhei o cordão do meu shorts com um nó na ponta que eu achava não estar ali, mas aí estaríamos lidando com um saci e não com um fantasma. Me lembrei depois que o calção já foi comprado assim.
Por duas vezes o meu cartão chave da porta do quarto parou de funcionar, o que é raro em apenas três dias tirando como base o restante da viagem. Desci até a recepção nas duas vezes e brinquei sobre ter sido obra do tal fantasma. Na primeira, a moça respondeu "nunca se sabe" em tom brincalhão. Na segunda, a resposta foi "parece que o fantasma é bem amigável, então fique tranquilo".
Ainda temos mais uma noite no The Dunhill. Se algo de novo acontecer, a matéria será atualizada...
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.