Filho de árbitro, juiz do Brasileiro saiu de estádio em camburão da polícia

Árbitro mais velho a apitar um jogo de Série A, Marcelo de Lima Henrique revelou que teve de deixar uma partida escoltado pela polícia em entrevista ao Zona Mista do Hernan, no ar nesta segunda-feira (15) no canal do UOL Esporte no YouTube

Escolta da polícia pós-jogo: "Só daria para sair de camburão e nos levaram até o Rio com o policial dirigindo"

Aposentadoria? "Deus tem para mim que eu vou ser o árbitro mais velho do mundo".

Profissionalização da arbitragem: "Não temos uma profissão regulamentada, essa briga tem que ser de todo mundo".

Melhor ou pior com o VAR? "O desafio ficou maior, antigamente tinha árbitro que apitava no achismo".

Etarismo na profissão: "O preconceito existe, eu já ouvi de colega e magoa porque eu trabalho muito para estar aqui".

Escoltado pela polícia pós-jogo

"'Comecei' (arbitragem) aos oito anos quando saí de camburão pela primeira vez com meu pai. Ele foi árbitro no Rio de Janeiro, aí em uma semifinal de Série B entre Rubro de Araruama e Bonsucesso, ele deu um pênalti contra o Rubro, 40 do segundo tempo, e quando acabou o jogo o chefe do policiamento falou para o meu pai que ele era maluco de ter me trazido, só daria para sair de camburão e nos levaram até o Rio com o policial dirigindo".

Aposentadoria aos 52 anos?

"Eu mesmo já tentei me aposentar algumas vezes, já fui chamado para algumas funções, me inscrevi para outras atividades, mas tudo deu errado. Um dos maiores comentaristas do Brasil me ligou e disse que tinha me indicado (TV), me preparei, fiz curso de áudio e vídeo e não rolou. Chegou uma hora que falei que Deus tem para mim que eu vou ser o árbitro mais velho do mundo (risos). Esse ainda ainda vou apitar, muita gente que está em casa não consegue acompanhar a dinâmica que tem o futebol, então vou levando minha carreira ano a ano, mas eu gosto de estar no campo de jogo".

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Profissionalização da arbitragem

"Nós não temos uma profissão regulamentada. Eu ouço muito: 'A confederação tem que profissionalizar", mas essa briga tem que ser de todo mundo. Porque imagina, amanhã eu decido me aposentar, aí eu serei um ex-árbitro com vocês pagando meu salário? Daqui a pouco tem 50 Marcelos aposentados. Não é a (federação) Paulista, Carioca e nem a CBF, é todo mundo. Mas eu garanto que todos os árbitros que estão em alto nível apitando série A criam condições profissionais para estar na atividade".

Cobrança maior com o VAR

"O desafio ficou maior. Agora, toda vez que você vai no VAR você é cobrado que o campo não viu, tem que trabalhar mais, às vezes sendo um lance dificílimo, mas a gente é humano. Eu em casa, deitado, vendo na câmera por um ângulo superior eu não erro uma, mas no campo você tem jogadores que passam na frente, o desgaste mental, físico? não é que com o VAR ficou mais fácil nem mais difícil, mas houve uma modificação de arbitragem. Antes do VAR, os árbitros mais antigos sabem disso, tinham muitos que apitavam os lances no 'feeling', no achismo, agora não porque tem imagem, você tem o jogo do campo e o do vídeo. Se você marcou no campo e no vídeo está dizendo uma coisa totalmente diferente, o VAR vai sugerir revisão".

Etarismo em jogo do estadual

"É o que eu mais ouço hoje, principalmente por ser mais ativo nas redes sociais. Me xingou eu excluo, não me estresso. No campo eu ouvi esse ano em uma quarta de final do Campeonato Cearense. Vou preservar o cara porque ele deve ter se arrependido, apitei um jogo decisivo, o time dele perdeu a vaga, quando acabou o jogo ele me disse: "Você tem que parar, está muito velho". Falei que não ia parar porque apito para c?. Aí o treinador veio e me pediu desculpas".

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"A gente fica chateado porque o preconceito existe, eu já ouvi de colega e magoa porque eu trabalho muito para estar aqui. Óbvio que um dia a perna vai cansar, mas é só a galera ver o jogo que está dando (para correr), tenho feito bons jogos. A gente aprende que qualquer diferenciação hoje faz mal para a nossa sociedade. Não podemos fazer diferenciação de gênero, cor, localização? isso não cabe mais. A prova está aí, Fábio e Marcelo (Fluminense), tantos outros jogadores que estão nos grandes de São Paulo e Rio, David Luiz e Thiago Silva, vamos começar a rotular? Se o cara não desempenhar, tudo bem. Isso que eu mais ouço nas redes sociais, que tenho que parar, mas vou apitar mais um".

O Zona Mista do Hernan, apresentado pelo colunista do UOL André Hernan, vai ao ar às segundas-feiras, às 12h, no canal do UOL Esporte no YouTube.

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