Conheci a cidade que recebeu Brasil no tetra e foi difícil achar lembranças

Casa da seleção brasileira há 30 anos, quando a equipe nacional conquistou o tetracampeonato mundial, o pequeno vilarejo de Los Gatos, cidadezinha próxima a San Francisco (EUA), não guarda nenhuma recordação física da passagem canarinha por lá, mas quem viveu a história guarda com carinho na memória.

Quando eu cheguei a Los Gatos, a primeira tentativa de encontrar uma referência foi óbvia: ir ao hotel Villa Felice, que hospedou a seleção. Só que o hotel não existe mais: ele fechou as portas em 1999.

O prédio foi derrubado e em seu lugar hoje há um condomínio residencial. Até mesmo a rua que tinha o nome Villa Felice mudou para Milani, nome do novo dono do pedaço.

Ao andar pelas ruas do condomínio, o único verde encontrado é o dos jardins e o único amarelo fica por conta do hidrante. Referências ao esporte? Exceção feita a uma tabela de basquete pendurada na garagem de uma casa, nenhuma.

Hidrante é a única coisa amarela que sobrou do hotel que hospedou a seleção brasileira em 1994
Hidrante é a única coisa amarela que sobrou do hotel que hospedou a seleção brasileira em 1994 Imagem: Eder Traskini/UOL

A calma do lugar, que pesou para a seleção escolher o hotel, segue intacta. Conversei com seis pessoas que saíam de suas casas de carro ou para andar com o cachorro e ninguém conhecia a história brasileira ali, bem como não sabiam nada sobre o Villa Felice Hotel.

Acontece que o condomínio ali é novo e quem mora ali chegou na cidade há pouco tempo. O sétimo carro que parei para perguntar sobre o Brasil foi o primeiro a lembrar da história.

"Sim, eu me lembro. Eu estive lá na cidade, foi muito divertido". Ele me explicou onde tinha sido a festa e, então, eu fui até lá.

Escolhi logo um bar esportivo pensando que ali encontraria algo relacionado ao Brasil. Errei feio. Não só não havia nada verde e amarelo por ali como não havia nenhuma foto do nosso futebol: as paredes eram cobertas somente com referências aos esportes americanos.

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Resolvi perguntar a um senhor já com certa idade que tomava um chopp no bar. "É verdade? Não conheço a história, na verdade nem gosto de soccer", me disse ele se referindo ao nosso futebol. Eu estava no lugar errado.

Mas será que havia um lugar certo? Comecei a andar pela rua principal sem muita esperança. Passei por restaurantes e lojas por algumas quadras até que avistei, dentro de uma barbearia, uma camisa amarela por trás de um avental. Seria do Brasil?

Entrei no lugar e confirmei minha teoria: era do Brasil. Cole Dino Masouris, o dono da barbearia, namora uma brasileira e estava com a camisa em apoio ao Brasil na Copa América. Quando ouviu que eu era brasileiro, se animou ao lembrar da história que ouviu de sua mãe.

Cole Masouris, dono de uma barbearia na cidade, ouvia da mãe a história da seleção brasileira
Cole Masouris, dono de uma barbearia na cidade, ouvia da mãe a história da seleção brasileira Imagem: Eder Traskini/UOL

"Os mais velhos aqui sempre sentam para contar aos mais novos: uma vez, a seleção brasileira ficou aqui e a cidade foi tomada! Contam que foi loucura, insanidade", disse Masouris, que lamentou a ausência de recordações físicas da época.

Deveria haver estátuas disso, mas não há nada. A cidade aqui é muito pacata e quando o Brasil ficou aqui foi festa o tempo todo. As pessoas ouviam o que estava acontecendo e iam para a praça para ver a festa brasileira

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As estátuas têm seu valor em matéria de imortalizar algo. O Brasil pode não ter algo assim em Los Gatos, mas as memórias de pai para filho jamais vão deixar esse capítulo da história brasileira ser esquecido em terras americanas.

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