Plena e sem tempo para enrolar, Leila diz ser sincera 'doa a quem doer'

Em entrevista exclusiva ao UOL, Leila Pereira falou sobre como é ser presidente do Palmeiras. "A gente chega duro quando precisa. No profissional, no atleta. Mas sempre com muito respeito e sabendo que todos nós estamos aqui com o único objetivo: conquistar títulos."

"Sou muito, como você diz, plena. Porque eu falo a verdade. E quando você fala a verdade, doa quem doer, você fica mais leve. E eu digo não. Tem gente que tem uma dificuldade incrível em dizer não. Eu, não. É muito pior você ficar enrolando a pessoa."

Sou muito fria, nasci assim: "Eu não sou muito emotiva, sabe? Eu fiquei muito emocionada quando eu tomei posse como presidente do Palmeiras, isso me deixou emocionada. Eu acho que é o ápice da minha vida, ser presidente de um clube da grandeza do Palmeiras. Mas, na minha vida normal, eu sou muito fria. É a minha característica, eu nasci assim."

Só sou conhecida por causa do Palmeiras: "Eu não tenho dúvida que eu só sou conhecida como eu sou hoje por causa do Palmeiras. Eu sempre existi como pessoa, como empresária, mas nada como o futebol para te dar essa visibilidade, essa popularidade. Principalmente num clube tão vitorioso como o Palmeiras"

Ela adora ser famosa: "Eu adoro (a fama). Eu costumo dizer que se não gostasse, não estaria aqui, sabe?"

Cartolas são o problema do futebol. "Futebol é uma área com um potencial espetacular, espetacular. Quem destrói esse potencial são os administradores dos clubes. Eu administro o Palmeiras para que o Palmeiras seja exemplo.

Dirigente não pode fomentar rivalidade: "Eu acho um absurdo, uma falta de responsabilidade, um dirigente fomentar a raiva do seu rival. O futebol é entretenimento, é uma atividade familiar. Pai, mãe e filho assistem aos jogos. A rivalidade tem que existir, sim, mas dentro de campo. Fora, tem que existir o respeito."

No futebol, ninguém fala a verdade. "E, quando você fala, é tida como prepotente, como presunçosa. Aquela entrevista eu vi diversas vezes, porque foi tanto barulho... Gente, onde aí eu menti em uma vírgula? Nada".

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Leia outros trechos da entrevista:

Leila do Palmeiras

Eu não tenho dúvida que eu só sou conhecida como eu sou hoje por causa do Palmeiras. Eu sempre existi como pessoa, como empresária, mas nada como o futebol para te dar essa visibilidade, essa popularidade. Principalmente num clube tão vitorioso como o Palmeiras. Quando eu comecei como patrocinadora aqui do clube, as minhas empresas já eram muito conhecidas, porque sempre fomos grandes anunciantes na imprensa. Mas não trabalhávamos com futebol. Quando os títulos começaram, o torcedor vinculou muito a ascensão do Palmeiras a essa parceria. E eu comecei a ficar muito popular, muito conhecida. Graças a essa década espetacular.

"Eu assisto aos jogos do Palmeiras com muita tranquilidade. É claro que estou nervosa por dentro porque quero vencer, mas sou uma pessoa muito fria. Eu não sou muito emotiva, sabe? Eu fiquei muito emocionada quando eu tomei posse como presidente do Palmeiras, isso me deixou emocionada. Eu acho que é o ápice da minha vida, ser presidente de um clube da grandeza do Palmeiras. Mas, na minha vida normal, eu sou muito fria. É a minha característica, eu nasci assim."

Gosto pela fama

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Imagem: Lucas Seixas/UOL
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"Eu adoro. Eu costumo dizer que se não gostasse, não estaria aqui, sabe? É uma escolha minha. Quando eu tenho um objetivo, eu sempre cumpro à risca. E tem os seus ônus, mas tem muito mais bônus."

Claro, recebo críticas quando o Palmeiras não vai bem esportivamente. Mas tem tempo que eu não sei o que é isso, sabe? E tem torcedores que me criticam, mas eu não me importo. Eu tenho toda a paciência, quando estou em público, de atender a todos os torcedores. Eu nunca estou cansada. E quando eu estou cansada, eu fico em casa. O torcedor tem o direito de ser tratado com todo carinho pela dedicação que eles têm ao Palmeiras.

Fomentar rivalidade é absurdo

Eu acho um absurdo, uma falta de responsabilidade, um dirigente fomentar a raiva do seu rival. O futebol é entretenimento, é uma atividade familiar. Pai, mãe e filho assistem aos jogos. A rivalidade tem que existir, sim, mas dentro de campo. Fora, tem que existir o respeito. Esse é o caminho para os dirigentes, sabe? Respeitar os torcedores para que o espetáculo realmente seja um espetáculo positivo.

O que carrega da gestão empresarial

Tem um ponto fundamental: valorizar os profissionais. O Palmeiras é administrado profissionalmente, como uma empresa. Com as suas peculiaridades, porque aqui você mexe com paixão e, quando as pessoas são apaixonadas, elas não agem com a cabeça, mas com o coração. Eu sou uma palmeirense apaixonada, mas, como presidente, não posso agir com o coração. O que eu trago das minhas empresas? Respeitar e valorizar os profissionais.

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Reunião de cartolas x reunião de empresários

Eu achei que fosse ter alguma dificuldade, mas na primeira reunião que tive, na Federação Paulista, o presidente da federação falou: 'Leila, parece que você nasceu aqui.' Eu me senti em casa. Eu sempre estive muito acostumada com esses ambientes muito masculinos porque o mundo corporativo tem mulheres, mas a grande maioria é homem.

Sou a primeira presidente mulher da história do Palmeiras e alguém que não era do meio do futebol. Acredito que as pessoas pensaram que eu iria mudar tudo. Mas quando cheguei, vi quais eram as áreas que estavam produzindo bem e as que não estavam. Em três ou quatro meses fiz essa análise e mudei pouca gente. A espinha dorsal continuou. Eu peguei um clube vitorioso da última gestão e dei mais responsabilidades aos grandes profissionais que já trabalhavam aqui. Responsabilidade e autonomia. Todos sabem que eu estou aqui para caminhar ao lado deles. As grandes questões são decididas sempre comigo, mas eles decidem primeiro.

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Imagem: Lucas Seixas/ UOL

Futebol tem potencial, mas é desorganizado

Futebol é uma área com um potencial espetacular, espetacular. Quem destrói esse potencial são os administradores dos clubes. Eu administro o Palmeiras para que o Palmeiras seja exemplo. Mas você só vai conseguir isso com a real profissionalização dos clubes. É chegar para a parte política e avisar: "Vocês não vão se meter aqui. Vocês não querem que o clube cresça, seja vitorioso? Deixe na mão dos profissionais. Vamos contratar os melhores".

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"Só que aí fica antipático e você perde voto. Não é possível administrar pensando em dar benesses para todos. Aqui a nossa cabeça é outra e minha base política entende bem isso. O potencial do futebol brasileiro é fantástico, mas precisa de uma palavra: credibilidade. Sem credibilidade, não se vai para lugar nenhum. Nós resgatamos a credibilidade aqui dentro do Palmeiras."

Críticas à entrevista de 2023

Se você perguntasse para mim qual foi a melhor entrevista que eu já dei, a mais representativa, não tenho dúvida, foi a das mulheres, aquilo foi um marco na minha vida. Mas a melhor entrevista que eu dei, 'hors concours', foi essa de outubro [de 2023]. As pessoas disseram que eu era prepotente, que só falava na primeira pessoa. Você sabe qual o grande problema do futebol brasileiro? As pessoas não estão acostumadas a ouvir a verdade. Por isso que eu cito Nietzsche: quanto de verdade vocês suportam ouvir? No futebol ninguém fala a verdade. E, quando você fala, é tida como prepotente, como presunçosa. Aquela entrevista eu vi diversas vezes, porque foi tanto barulho... Gente, onde aí eu menti em uma vírgula? Nada. Eu vou continuar a minha vida aqui no Palmeiras falando a verdade. Se for para ficar fazendo média, mentindo, eu saio do futebol. Eu e meu marido construímos uma credibilidade no mercado. As pessoas confiam. Eu não vou deixar o futebol manchar a minha história, a história do meu marido. E, no fundo, no fundo, quem olha aquilo sabe que eu estou falando a verdade.

"Quando eu falo do avião, as pessoas falam que sou presunçosa, prepotente. Gente, aquele avião é de quem? É do Palmeiras? Não. É meu, não é nosso. As pessoas têm que ser diretas, objetivas e verdadeiras. Só assim a gente consegue mudar o futebol brasileiro. Sem credibilidade, nós não vamos chegar a lugar nenhum."

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Imagem: Lucas Seixas/UOL

Leila patrocinadora x Leila presidente

"Como patrocinadora, só colocava dinheiro e assistia aos jogos. Quando me tornei conselheira, eu fiquei mais próxima da política, mas nunca me envolvi na administração do clube. Mas nós temos um avião particular, e eu viajo muito nesse avião para ver jogos do Palmeiras. E levo muitos amigos, levo conselheiros, levo sócios do clube. Era isso. Como conselheira, eu assistia aos jogos junto com os meus convidados. Mas viajava sempre às minhas custas, não do Palmeiras. No meu avião, com meus convidados, separado do elenco. Não chegava perto de jogador. A parte política não tem que se envolver com o futebol."

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Eu tenho certeza que os profissionais aqui têm muita confiança em mim. Sabem que eu não tenho medo de nada, que eu os protejo contra tudo e contra todos. Eu blindo totalmente o nosso pessoal das confusões que acontecem do muro para fora. Do muro para dentro, isso aqui é uma paz e é isso que eles precisam. A gente chega duro quando precisa. No profissional, no atleta. Mas sempre com muito respeito e sabendo que todos nós estamos aqui com o único objetivo de conquistar títulos.

O que tira a Leila do sério?

É difícil alguém me tirar do sério. Mas eu sou brava. Muito, sabe? Quando as pessoas inventam alguma coisa, eu detesto mentira. Quando as pessoas inventam coisas que eu falei... Mas eu desminto e resolvo o assunto. É por isso que eu sou muito, como você diz, plena. Porque eu falo a verdade. E quando você fala a verdade, doa quem doer, você fica mais leve.

E eu digo não. Tem gente que tem uma dificuldade incrível em dizer não. Eu, não. É muito pior você ficar enrolando a pessoa. Como eu não tenho tempo pra ficar enrolando, eu sou direta. Você pode falar tudo o que você quiser, com educação, com respeito. Você pode perguntar isso pra qualquer pessoa que trabalha comigo.

"E sou muito decidida também. Eu sempre sei o que eu quero, sempre. Nunca fico em cima do muro. Quando chega pra mim, as coisas já foram discutidas, já pesou-se os prós e contras, está na minha mão e eu tenho que resolver. Só faltava a presidente do Palmeiras falar "eu não sei o que fazer". Imagina?"

Preocupação com segurança

Antes do futebol eu não era uma pessoa conhecida. As minhas marcas eram, mas a gente nunca deu entrevista. Meu marido não fala de jeito nenhum. A gente sempre foi muito low-profile. Quando eu me torno presidente, é obrigação se posicionar. Eu represento o clube. Não tem como ser low-profile e presidente de um clube.

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Eu sou muito bem tratada onde eu vou, mas quando você é presidente de um clube com uma torcida tão grande, um clube com tanta projeção, não tem como não ter cuidado.

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Imagem: Lucas Seixas/ UOL

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