O sonho sempre foi abrir uma barbearia na Espanha, mas nem ele acreditou quando o primeiro cliente famoso apareceu. De Minas Gerais, Tiago da Costa embarcou para Madri com uma mochila e uma máquina de cortar cabelo. Ao chegar à Europa, o caminho não foi fácil. Antes de se tornar barbeiro de astros do futebol, esse simpático mineiro trabalhou como pedreiro e também fez bicos como músico.
"O começo foi como o de todo imigrante: complicado. Trabalhei na construção durante um ano e meio. Foi um período desafiador até conseguir abrir minha primeira barbearia", disse Tiago.
Depois de batalhar muito e não desistir, os primeiros jogadores brasileiros começaram a aparecer, graças ao contato de conhecidos. O primeiro atleta famoso que ele cortou o cabelo em Madri foi Diego Costa, que atualmente joga no Grêmio; depois, o goleiro Júlio César e, em seguida, ninguém menos do que Ronaldo, o Fenômeno.
"Foi uma emoção muito grande! Cortar o cabelo do Ronaldo foi um ápice de 0 a 100, porque ele é um ídolo brasileiro que a gente só vê no videogame ou na televisão. Graças a Deus, já são seis anos que ele corta o cabelo comigo sempre que está em Madri", revela, orgulhoso.
Trajetória e determinação
Tiago saiu do Brasil com 28 anos e, hoje, aos 35, se sente completamente realizado com a profissão que escolheu. Ele já tinha uma barbearia em Minas Gerais, mas acabou fechando e vendendo tudo o que tinha para se aventurar na Espanha. A "Tijera de Oro" (Tesoura de Ouro) fica em Vista Alegre, em um bairro operário no sudoeste de Madri. As grandes cadeiras pretas com detalhes dourados e as camisetas autografadas de vários jogadores decoram as paredes, junto com um neon que avisa que essa barbearia tem um novo conceito.
Do lado de fora, várias fotos de jogadores famosos que já sentaram nessas cadeiras e a frase "A barbearia das estrelas, ouse brilhar com a gente" atraem a clientela e chamam a atenção de quem caminha pelas ruas tranquilas desse bairro madrilenho.
Na hora de lembrar quantos jogadores brasileiros já passaram por ali, Tiago perde até a conta. "Também já cortei o cabelo do Vini Jr, Marcos Senna, Matheus Fernandes, Éder Militão, Samuel Lino, Renan, Gabriel, Rodrigo, Júlio César. São tantos jogadores que eu nunca imaginei", relatou.
Atualmente, cinco pessoas trabalham com Tiago na barbearia e logo a equipe vai aumentar: "Aqui dentro somos uma grande família. Tenho sempre que estar inovando, dando um toque diferente. Primeiro tinha uma mesa de bilhar, mas decidi tirar para colocar mais duas cadeiras e, ali naquele espaço, vou fazer uma pequena sala de videogame para quando os clientes tiverem que esperar para cortar o cabelo".
Quando um jogador chega, se tiver gente na frente, ele também precisa sentar e esperar. "Todo mundo aqui, pode ser a pessoa mais humilde ou alguém famoso, o tratamento é igual para todos", contou.
Superstição
Depois de tantos anos no comando da maquininha que vai desenhando e aparando o cabelo de craques do futebol, Tiago revela que alguns atletas são bem supersticiosos e só querem cortar o cabelo uns dias antes do jogo.
"Eu gosto de cortar o cabelo no penúltimo dia antes da partida porque me sinto mais confortável e também porque usamos o último dia para ficar em casa e desconectar. Então, no penúltimo dia, eu aproveito para cortar o cabelo e ficar pronto para o jogo", explicou Samuel Lino, do Atlético de Madrid.
Enquanto apara o cabelo, o atacante sorri e faz piada com seu barbeiro-amigo: "O Tiago tem talento e o que me traz aqui toda semana é a qualidade do atendimento. Além de ser meu barbeiro, ele é meu amigo. Cada vez que venho aqui, a gente troca uma ideia e coloca o papo em dia. Não é só pelo corte, mas também pela amizade que eu tenho com ele.
Dicas de sucesso
Tiago precisou de vários anos e de muito aprendizado para chegar aonde está hoje. O caminho não foi fácil e, por isso, o brasileiro aproveita para compartilhar um pouco do que aprendeu.
"É tanta paulada que a vida vai te dando que você vai aprendendo. Se você se deslumbrar e deixar o sucesso subir à cabeça, do mesmo jeito que um dia você está em cima, pode cair, e o tombo pode ser bem pior. O melhor é não dar um passo maior do que a perna, ser humilde e ter os pés no chão", ensinou.
Sair do Brasil e ser imigrante nem sempre é um caminho fácil. Ao contar a sua trajetória, esse mineiro humilde respira e faz uma pausa: "Essa profissão também me permitiu ser amigo de muitos jogadores, estar dentro das suas casas. Ter a amizade deles vale mais do que qualquer corte de cabelo e, de vez em quando, me pergunto se mereço tudo isso. É quase como estar vivendo um conto de fadas".
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