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Cartola é preso após tramar sucessão em federação mesmo banido do futebol

Francisco Cezário, ex-presidente da FFMS, foi preso por descumprir acordo que o bania do futebol Imagem: Divulgação/FFMS

Rafael Emiliano

Colaboração para o UOL

28/08/2024 20h17

Presidente afastado da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), Francisco Cezário de Oliveira foi preso na manhã desta quarta-feira (28), em Campo Grande (MS), pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público Estadual por descumprir acordo que o baniu do futebol.

Cezário foi preso pela primeira vez em 21 de maio, durante a "Operação Cartão Vermelho", que acusou ele e outras seis pessoas, todas funcionárias da FFMS, de desviar mais de R$ 6 milhões dos cofres da entidade. A quantia seria proveniente de verbas públicas do governo do estado local e da CBF para fomento do futebol sul-mato-grossense, sem representantes na primeira divisão do Campeonato Brasileiro desde 1986.

Em nota, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul disse que as investigações duraram 20 meses e que os acusados usavam de artifícios para tentar driblar a apuração. Mais de 1.200 saques em caixas eletrônicos foram feitos para diluir os valores.

Cezário permaneceu pouco mais de um mês detido e foi liberado em 27 de junho após a Justiça aceitar o pedido de habeas corpus e substituir a prisão preventiva pelo uso de tornozeleira eletrônica. O cartola também acabou banido do futebol pelo MP-MS, sendo proibido de se aproximar da sede da FFMS ou de se encontrar com dirigentes do futebol do estado. Mas, segundo o Gaeco, Cezário não cumpriu a norma.

Após a saída do cartola, a CBF nomeou Estevão Petrallas, ex-presidente do Operário, time mais tradicional do estado, como interventor na FFMS. Ele tem até o final de novembro para marcar novas eleições. Porém, o antecessor agiu nos bastidores para que não houvesse pleito e um indicado seu assumisse o comando.

O UOL apurou que Cezário viajou pelo menos duas vezes à sede da CBF no Rio de Janeiro (RJ) para tentar destituir Petrallas, evitar eleições e conseguir a nomeação de um apadrinhado. Além disso, conforme atestou o Gaeco, ele seguiu uma rotina de encontros e reuniões com dirigentes do estado mesmo banido do futebol, influenciando em decisões da federação local.

O que diz a defesa de Cezário

Em contato com a reportagem, o advogado de Cezário, André Borges, disse que "ainda estava sendo atualizado sobre a situação da nova prisão". Sobre a viagem ao Rio, ele afirma que seu cliente pode viajar por até oito dias, mesmo com a tornozeleira, e que ele não foi à CBF, "apesar de não estar proibido de falar com a entidade".

Sobre as denúncias do MP-MS contra Cezário, Borges alega que a "origem do dinheiro é lícita e será declarada no momento oportuno". E reitera ainda que Cezário "cumpre o determinado e se afastou completamente de suas funções como dirigente de futebol".

Procurada, a CBF não quis se pronunciar sobre o caso.

Ao UOL, Petrallas se disse surpreso com o fato de Cezário se manter na ativa, mas que conduz a transição na FFMS como o combinado. Segundo ele, a entidade já tem novo estatuto social. Entre os principais pontos, estão o mandato de quatro anos com apenas um direito à reeleição, proibição de nepotismo de parentes até 3º grau e eleição para diretoria executiva (a ser formada por presidente, vice-presidente, secretário geral, diretor de competições e tesoureiro).

Cezário já foi condenado em outro caso

Esta não é a primeira denúncia contra Cezário por desvio de verbas da FFMS para benefício próprio. Em 2009, o dirigente acabou condenado por usar quase R$ 57 mil da federação para custear sua candidatura à Prefeitura de Rio Negro (cidade a 150km da capital Campo Grande). O caso veio à tona após a Polícia Federal descobrir em 2001, por meio da CPI do Futebol, que a CBF doou R$ 15 mil para a campanha do dirigente, que acabou eleito. A Justiça converteu a pena de quatro anos e cinco meses em pagamento de multa.

O caso acabou abrindo precedente para que Cezário fosse impedido de concorrer a uma reeleição à presidência da FFMS em 2010, mas uma decisão da CBF acabou lhe beneficiando. A entidade máxima do futebol permitiu a prorrogação por cinco anos no mandato dos presidentes de federações que concorriam a ser sede da Copa do Mundo de 2014. Campo Grande acabou perdendo a escolha para Cuiabá (MT).

Cezário presidiu a FFMS por 26 anos, ostentando o título de presidente de federação estadual de futebol que estava há mais tempo no poder no Brasil. Ele acumulou sete mandatos seguidos.

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