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Crise no apito 'esgota' Seneme, que tira licença sem CBF avisar árbitros

Wilson Seneme é presidente da comissão de arbitragem da CBF Imagem: Staff Images / CBF

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

17/09/2024 05h30

Há uma crise e instabilidade na arbitragem brasileira. Até com reflexo na saúde do presidente da comissão de arbitragem, Wilson Seneme.

Ele está afastado há cerca de 25 dias e tem retorno esperado para esta quinta-feira (19). Segundo o UOL apurou, há uma pressão dos clubes, reconhecimento de problemas por parte do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e árbitros notando que o clima não está bom dentro e fora de campo.

Há clubes que querem a saída de Seneme. Mas Ednaldo, por enquanto, mantém a ideia de seguir com o dirigente no comando da arbitragem. Ele tem contrato até 2026, quando acaba o primeiro mandato do atual presidente da CBF.

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Os bastidores da arbitragem dão conta de um "esgotamento" por parte de Seneme. Árbitros só souberam da licença informalmente — não houve comunicado por parte da CBF. Emerson Augusto de Carvalho, o segundo na escala hierárquica, tem conduzido a comissão de arbitragem, com suporte imediato de Hilton Moutinho.

Seneme apresentou atestado médico logo depois de uma reunião de emergência convocada por Ednaldo Rodrigues, em 23 de agosto, quatro dias depois de o árbitro Marcelo de Lima Henrique validar gol de Dinenno, no empate entre Vitória e Cruzeiro, por 2 a 2. O chefe da arbitragem está afastado, portanto, há 25 dias. O Vitória é o clube de origem de Ednaldo, ex-presidente da Federação Bahiana.

'Climão' na reunião

A questão é que a licença de Seneme vem após uma reunião com os clubes na qual os presentes sentiram um "climão" com o presidente da CBF.

Uma fala de Ednaldo na reunião foi vista como se estivesse desautorizando Seneme. O fio inicial do conflito ali foi a profissionalização da arbitragem, mas evoluiu sobre o trabalho da comissão de arbitragem. Os clubes notaram o mal-estar e apontaram que Seneme ficou "exposto" na ocasião.

Além disso, a leitura entre os árbitros foi a de que Seneme até estava bem na defesa da classe durante a primeira parte da reunião — da qual participaram clubes e árbitros. Mas em outro momento o presidente da CBF acabou direcionando a discussão para um problema, na visão deles, menos grave.

Ednaldo bateu na tecla de evitar mais as rodinhas de reclamação e que isso deve ser punido com amarelo. Da parte do presidente, há ainda um incômodo com a atuação de alguns árbitros experientes.

Depois do papo com os clubes, Seneme teve reunião só com os árbitros depois. Eles perceberam um clima pesado e prometeram melhora principalmente na questão disciplinar. Mas entendem que não há "milagre" para que passem a acertar todas as decisões de uma hora para a outra.

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF Imagem: Igor Siqueira/UOL

Discussão entre clubes

O nível de tensão estava alto nos árbitros porque, na visão deles, a reunião foi convocada para que eles fossem cobrados por algo que não vão alcançar: o campeonato sem erros.

Mas o assunto arbitragem também gerou bate-boca entre os presidentes do Vitória, Fabio Motta, e do Fluminense, Mário Bittencourt.

O fato é que o papo esquentou porque já havia animosidade: o dirigente do clube baiano acusou a arbitragem de errar no empate com o Cruzeiro para ajudar Corinthians e Fluminense, que brigam contra o rebaixamento também.

O tricolor, claro, não gostou. Rebateu a tese de privilégio, e Motta se exaltou.

Há divergência sobre a versão exata e os termos usados. No meio da discussão, há quem diga que o presidente do Vitória chegou a provocar dizendo que passou pelas três séries do Brasileirão para voltar à elite. E o Fluminense, não. O lado tricolor nega isso e também a frase que teria sido estopim para essa resposta: de que o Vitória "chegou agora e quer sentar na janelinha".

A discussão parou quando Seneme retomou a palavra.

Reclamações adjacentes

O papel de Ednaldo na reunião puxa o fio para um cenário mais amplo na CBF. Em outros departamentos, incluindo o de seleções, o que se diz é que Ednaldo centraliza decisões e, às vezes, ignora ou passa por cima de diretores. Aliados, por sua vez, argumentam que o regime é presidencialista e que essa prerrogativa é legítima.

Só que a centralização gera efeito dominó. Clubes da Série B reclamam da demora da aprovação do desmembramento de tabela, o que impacta na compra de passagens aéreas para toda a delegação. Só para citar um exemplo.

E agora?

Na segunda-feira (16), houve reunião dos clubes com a comissão de arbitragem e, pela segunda vez, sem a presença de Wilson Luiz Seneme.

O penúltimo presidente da comissão de arbitragem, Leonardo Gaciba, foi demitido em novembro de 2021, após polêmica em partida Flamengo 3 x 0 Bahia. Vinicius Gonçalves Dias Araújo marcou pênalti contra o Bahia, após a bola bater no peito do zagueiro Conti. Mesmo depois de rever a imagem pelo vídeo, o árbitro manteve a decisão equivocada.

Ednaldo demitiu o presidente da comissão de arbitragem, mas pagou seu salário até o fim do contrato, pelos seis meses seguintes.

Recentemente, Ednaldo disse que não demitira Seneme porque, "se fosse assim, já tinha trocado dez vezes os presidentes, porque está tendo erro sempre".

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