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Pupilo de Sampaoli fala de quase ida para o Corinthians: 'Não me arrependo'

Fevereiro de 2024. Após demitir Mano Menezes, o Corinthians foi atrás de um novo técnico e chegou ao nome de Márcio Zanardi, que na época estava no comando do São Bernardo, sensação do Campeonato Paulista e na Série C.

Estava tudo certo para o treinador assumir o comando do Timão, mas um erro de comunicação e de administração fez a negociação ir por água abaixo: como já tinha treinado uma equipe no Paulistão, Zanardi não poderia assumir um outro clube na mesma competição.

"Alertei eles (regulamento), eles foram ver e foi isso que aconteceu. O Gustavo Delbin, que é da Federação Paulista, que foi meu atleta e é vice-presidente de esportivo, falou: 'Márcio, o Reinaldo (presidente da Federação Paulista de Futebol) não vai liberar'. Quando o Augusto viu que não tinha condições realmente, ele até tentou, mas falou: 'Olha, Márcio, ainda se eu tentar eu vou perder ponto'", conta Zanardi.

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Eu fiquei muito feliz, muito lisonjeado. Qual é a decepção? Eu, com 46 anos, ser procurado para ser treinador do Corinthians, eu acho que eu só tenho que estar muito feliz. Conversei muito com a minha esposa, com a Fabi, disse que tudo no momento certo, na hora certa, as coisas vão acontecer, e eu tive a oportunidade de ir para o Goiás, não me arrependo, e torço muito pelas pessoas, porque são pessoas do bem lá no Corinthians, e eu tenho certeza que eles vão dar a volta por cima.

O interesse do Corinthians em Márcio Zanardi vinha de antes. Ainda em janeiro, o presidente Augusto Melo tentou a contratação do técnico para ser o treinador da equipe sub-20, cargo que o próprio já havia comandado no Timão anos atrás. Zanardi conta que recusou o convite por estar em outro momento da carreira, mas sabia que logo isso iria mudar.

"Eu tive uma conversa com o presidente em janeiro. Ele quis me contratar para ser treinador do Sub-20 e ser auxiliar técnico da casa. Eu estava na pré-temporada com o São Bernardo. Eu falei para o Augusto que já estava há quatro anos no profissional, eu acho que a minha história de auxiliar e de base ficou para trás. Fiquei muito lisonjeado, mas eu não vou aceitar esse convite porque eu tenho outros caminhos. Disse que iria encontrar o Corinthians no Campeonato Paulista, você vai ver o meu trabalho. E foi o que aconteceu. Ganhei de um a zero, com um a menos. Fizemos um trabalho e veio o convite, só que teve a questão do regulamento".

'Pupilo' de Sampaoli

Márcio Zanardi, ex-técnico do Goiás, já comandou as categorias de base de Santos e Corinthians Imagem: Reprodução/Instagram/@marcio.zanardi

Ganhar a confiança e estar no dia a dia com Sampaoli é para poucos, e Márcio Zanardi pode dizer que teve esse privilégio. No Santos, o técnico ajudou o argentino no desenvolvimento de treinamentos com o elenco, com foco na integração de jovens do sub-20 e 23, categorias em que comandava.

O jeito Sampaoli de ser também foi notado rapidamente por Zanardi. O técnico relembrou, ao Zona Mista do Hernan, sobre o jeito peculiar do companheiro no cotidiano e como se adaptou para 'pescar' o que o argentino tem de melhor.

"Ele tomava café com você, chegava na hora do almoço e ele não olhava na sua cara. É assim. Eu aprendi como fazer e como não fazer. Porque o Santos foi mal no Campeonato Paulista, foi eliminado na Copa do Brasil, mas o trabalho era tão bom que nós somos vice-campeões brasileiros. Mas realmente, realmente a gestão de pessoas O dia-a-dia dele não é fácil, ele é uma pessoa difícil, complicada, mas a comissão é muito boa, muito trabalho, ele entende muito, mas é um cara extremamente vaidoso, um cara complicado".

"Foi uma adaptação, mas eu tive que saber levar ele como pessoa. Até o momento que ele me abraçou e falou assim: 'Márcio, agora faz parte da metodologia'. Então eu convivi, participei até de churrasco, de estar na casa dele. Não foi todo mundo, foi só eu ali e olhe lá, não era fácil o dia-a-dia com ele".

Zanardi participou da formação de grandes nomes que saíram do Santos, como Yuri Alberto (Corinthians), Kaio Jorge (Cruzeiro) e Marcos Leonardo. O último penou para entender a metodologia de Sampaoli.

"Eu tinha no Sub-23 o João Paulo, o John, Yuri Alberto, Kaio Jorge, Jobson, Marcos Leonardo, todos jogadores que ele não queria, nem olhava. O treino era quatro horas, ele fazia o sparring chegar a uma hora da tarde. Mas aí quando ele pegava o time titular para fazer, o sparring dava certo, fazia as coisas, ele parava e dava dura nos caras. O Marcos Leonardo chegou a falar: 'Pô Márcio, eu estou fazendo certo e estou tomando dura'".

Não a 'técnico bombeiro'

Marcio Zanardi, técnico do São Bernardo, em jogo pela Série C de 2023 Imagem: Abner Dourado/Agif

O rótulo de 'técnico bombeiro', aquele que apaga o incêndio em um clube em crise e depois vai embora, é rejeitado por Zanardi. Após ser desligado do Goiás, o treinador chegou a receber cinco propostas de clubes da Série B. Recusou todas e revelou alguns dos times que receberam o famoso 'não'.

"Hoje eu tenho um empresário, Paulo Pitombeira, e ele primeiro falou assim: "Olha, eu não contratei você para te colocar em qualquer lugar. E quando eu saio do Goiás, a gente negou cinco propostas importantes. Teve do Paysandu, CRB, Chapecoense e alguns outros clubes aqui de São Paulo. Fiquei muito lisonjeado com as propostas, com os interesses. Mas eu acho que a gente tem que saber escolher sim, saber tomar as melhores decisões. Mas a gente sabe aonde o calo aperta pra cada um também, não é fácil você ficar desempregado".

Sonhar não faz mal, e Zanardi sabe disso. Um objetivo? Treinar uma equipe que disputa a Champions League. Mas para isso, o técnico entende que, para alcançar seu ponto alto na carreira, precisa passar por outras etapas.

"Outro dia me perguntaram onde eu queria chegar. Eu falei, olha, eu queria ser um treinador de Champions League. Sonhar não custa. Mas para eu chegar numa Champions League, quero ser o treinador do Corinthians, do Palmeiras, do São Paulo, chegar numa seleção brasileira, eu acho que tem processos, né?".

Corinthians e a falta de profissionalismo na base

Márcio Zanardi, ex-técnico do Goiás, já comandou as categorias de base de Santos e Corinthians Imagem: Reprodução/Instagram/@marcio.zanardi

Foi nas categorias de base do Corinthians que Zanardi ficou por mais tempo. Ele dirigiu as equipes sub-13, sub-15 e sub-17 do Timão entre 2012 e 2016, empilhando taças nas categorias.

Questionado do por que o Corinthians deixou de revelar grandes jogadores para o cenário nacional e internacional nos últimos anos, Márcio Zanardi foi direto: "Deixou de ser profissional". Em comparação, o rival Palmeiras já faturou mais de R$ 1 bilhão no mercado com jogadores da base, fator que o técnico faz questão de exaltar e usar como exemplo.

"É pegar o Palmeiras como exemplo, o que o João Paulo (diretor das categorias de base) fez. É contratar, formar, trazer os melhores. O Corinthians de 2009, de 2010 até 2016, era exatamente o que o Palmeiras é hoje. Então, eu estava no Sub-15, era o Osmar Loss no Sub-20, era o Rodrigo Leitão, era o Coelho. A gente tinha vários treinadores, Caco Espinosa. Então, nós ganhamos tudo, Sub-15, Sub-17, Sub-20, Copa São Paulo, campeão mundial".

"Mas aí quando as pessoas começam a entrar, mandar embora, começam a trazer os amigos... Você manda muitos jogadores embora, você acaba com o sonho. Então, você precisa ser muito profissional. E o Palmeiras se reestruturou. A gente ia jogar contra o Palmeiras, a gente sabia que ia ganhar de dois, de três, de quatro. E aí o Palmeiras foi mudando, foi mudando. Hoje o Palmeiras sabe que vai ganhar de dois, de três, de quatro, de todos eles e está anos luz na frente".

Técnicos brasileiros desacreditados

Zanardi faz parte de uma nova geração de técnicos no futebol brasileiro que, aos poucos, vem tomando o espaço dos medalhões na busca dos clubes. Apesar disso, uma coisa não muda: o imediatismo por resultado, fator que Zanardi acredita estar minando o trabalho de profissionais que há pouco ingressaram no mercado.

"Hoje eu olho. Eu tenho duas coisas, eu sou treinador jovem, apesar de ter 46 anos, eu sou jovem para assumir um cargo. Então você sempre tem: 'Pô, esse cara é novo'. E o treinador brasileiro vem estudando. A CBF vem abrindo mercado, e quando a gente pega esses estudos lá fora, já são 40, 50 anos. Tem treinadores muito bons [no Brasil], mas eu acho que precisava ter um pouco mais de tranquilidade, acreditar mais. A gente estava falando desses caras de fora, mas o Roger, que foi para o Internacional, oscilou, perdeu alguns jogos, e agora o Inter está voltando a jogar. Eu acho que precisa ter um pouco de calma, precisa ter tempo para se trabalhar, mas o futebol brasileiro não te dá tempo".

O Zona Mista do Hernan, apresentado pelo colunista do UOL André Hernan, vai ao ar às segundas-feiras, às 12h, no canal do UOL Esporte no YouTube

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