Filipe Luís dá novo estilo ao Flamengo: de jogo, roupa e abordagem

O Flamengo passou por uma mudança de estilo. Saíram a calça e a camisa sociais de Tite. Entrou um jovem técnico com seu modelo casual preto, tênis e uma ideia que culminou com a vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians, no jogo de ida das semifinais da Copa do Brasil.

A estreia de Filipe Luís é o início, muito promissor, de um novo jeito de praticar futebol no Flamengo. Um contraste com as atuações recentes com Tite.

Foi emocionante para o agora técnico, que até ano passado estava ali no campo, como jogador. Uma ascensão meteórica que o emocionou ao chegar à área técnica para comandar o time profissional pela primeira vez.

"Vi meus companheiros correndo por mim", disse ele.

A abordagem é clara. De proximidade aos jogadores, por conhecê-los ao longo dos últimos anos e saber muito bem pelo que estão passando.

Em curto espaço de tempo no Fla, Filipe passou pelo sub-17, foi campeão mundial sub-20 - ali mesmo no Maracanã - e pela primeira vez teve o nome gritado como técnico do time principal.

Esqueceu de almoçar e dormiu pouco

Foi quem mais ganhou aplausos no anúncio da escalação. E quem foi mencionado no primeiro cântico após o apito final do árbitro. A arquibancada deu apoio, mesmo o Maracanã tendo um sentimento de que o resultado poderia ser ainda melhor.

A semana fora caótica para ele. E ainda era quarta-feira à noite. Desde segunda-feira, quando foi anunciado, dormiu pouco e mal viu os filhos. Em um dos dias antes do jogo, esqueceu de almoçar.

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Tudo em nome da nova função de técnico, pela qual se apaixonou e para a qual tanto se preparou.

Hora de colocar em prática. Filipe é um técnico ativo à beira do campo, mas não espalhafatoso. Dá instruções constantemente. Uma das que surtiu efeito foi reforçar a importância de um Flamengo pressionando, marcando alto. A tônica do ótimo primeiro tempo foi essa.

Já rolou até jogada ensaiada em cobranças de falta. A execução, no entanto, precisa melhorar.

Aplausos com as mãos elevadas ao alto, conversas ao pé do ouvido com Gabigol — em quem apostou de cara para tentar resolver o problema ofensivo - e também trocas com Gerson, mantido como capitão.

Bebendo água à beira do campo, tentava se refrescar como podia. A mão molhada ajeitava o cabelo, refrescava o rosto, enquanto o time trocava passes e envolvia o Corinthians.

Do gol às correções

O gol foi um alívio. E logo de um lateral-esquerdo, com quem Filipe Luís dividiu a seleção brasileira. Na posição em que jogava, o agora técnico diz ter ótimos jogadores. Mas vê em Alex Sandro uma alternativa mais equilibrada. E ele não se esquece do concorrente: "Ayrton Lucas foi um cara que me botou no banco".

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Se não tivesse chutado ao gol, Alex Sandro já seria protagonista de um retrato que é uma premissa do estilo do professor Filipe Luís:

Meu dever é fazer com que, quando meus laterais chegarem no fundo, tenham três jogadores na área.

Isso contagiou o Flamengo nessa primeira experiência com ele. Gabigol foi mais acionado, Bruno Henrique estava dinâmico, Gerson com liberdade de movimentação e Arrascaeta com uma visão de jogo apuradíssima:

Cada vez que o Arrascaeta pegar a bola, que tenham dois jogadores dando espaço.

Mudança de zagueiro à parte — Léo Ortiz foi titular no lugar de Fabrício Bruno —, a pulsação do Fla de Filipe Luís vem do meio-campo:

Para mim, os dois jogadores mais importantes do time são os dois volantes.

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As interações com o auxiliar Ivan Palanco foram constantes. No segundo tempo, David Luiz também deu uma força.

Quando chamou os jogadores do banco para as primeiras alterações - Michael e Matheus Gonçalves -, o Flamengo já estava numa fase do jogo em que a conta do esforço físico já estava sendo paga.

O time criou muito. Foram 19 finalizações. Defesas difíceis de Hugo Souza e bola na trave, Mas deu alguns espaços. Se a marcação encaixou facilmente no primeiro tempo, ficou um pouco descompassada no segundo. Até porque Ramón Díaz mudou o esquema, colocando uma linha de cinco defensores.

Filipe reconheceu que o time precisa melhorar. Mas bebendo da fonte de quem passou pela carreira dele — inclusive, o demitido Tite e, claro, Jorge Jesus —, ele colocou o primeiro tijolinho nesse novo Flamengo que deseja construir. Os primeiros traços. As primeiras combinações.

O gol de Gabigol poderia ter dado um grau ainda mais apoteótico ao jogo. Mas foi anulado pelo VAR.

Depois do apito, Filipe Luís entrou em campo e abraçou cada jogador individualmente. Retribuiu o incentivo da torcida com aplausos.

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Certamente vai perder mais horas de sono nos próximos dias pensando no que fazer contra o Bahia, de Rogério Ceni, que também foi seu treinador. O jogo pelo Brasileirão é sábado, na Fonte Nova. O que dá tranquilidade é saber:

Eu tenho uma máquina na mão.

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