A noite que Neymar me obrigou a ficar uma hora fora do estádio
O vento cortante na fria noite de Montevideu castigava meu rosto. Com capuz e o melhor corta-vento que eu tinha no armário, eu estava no meio da calçada do lado de fora do estádio Centenário. Do lado de dentro daquelas paredes, em algum lugar próximo, estava Neymar, deitado em agonia em uma maca.
Momentos antes o camisa 10 da seleção brasileira havia desabado no gramado em um lance que parecia normal. Não era. Quando o carrinho-maca levou Neymar direto ao vestiário, não parando no gramado, todos os presentes notaram que algo grave tinha acontecido.
Foi neste momento que eu avisei: estou saindo do estádio e vou ficar no portão onde a delegação do Brasil sai. Naquele momento, o jogo tinha ficado em segundo plano para o repórter que estava in loco. O foco era descobrir o que tinha acontecido com o principal jogador da seleção.
Eu me espremi entre os dois ônibus da delegação da seleção e fiquei ali um tempo, um pouco mais abrigado do vento gelado. Nada acontecia. Minhas ligações não eram atendidas, minhas mensagens não tinham respostas. Percebi que havia outro portão pelo qual Neymar poderia sair e me reposicionei: agora estava de cara para o vento, mas tinha visão das duas entradas. Neymar não me escaparia.
O segundo tempo começou e eu segui ali. Ninguém confirmava o estado de Neymar, mas eu não podia sair da minha posição e correr o risco de perder a imagem do camisa 10 deixando o estádio para qualquer que fosse a finalidade.
Os gritos vindos de dentro do estádio alertaram e os seguranças ao meu lado, em sua pequena tela de celular, confirmaram: o Uruguai tinha ampliado o placar; o Brasil perderia aquela partida por 2 a 0.
O duelo terminou e de Neymar não havia notícia. Eu entrei novamente no estádio somente para me encaminhar para a zona mista, espaço onde os jogadores passam pelos repórteres rumo ao ônibus da delegação. Os atletas demoraram bastante para deixarem o vestiário, mas quando saíram a imagem que ninguém queria ver foi registrada: Neymar passou pela zona mista de muletas, sem conseguir apoiar o pé no chão. Ele não deu entrevista.
No dia seguinte, exames constatariam uma ruptura do ligamento cruzado anterior e do menisco do joelho esquerdo. Desde o dia 17 de outubro de 2023, quase um ano atrás, Neymar não joga futebol.
O plantão de mais de uma hora fora do estádio por Neymar naquela noite não foi bem-sucedido, mas faz parte do jogo: a incessante busca jornalística pela melhor informação.