O empresário William Rogatto, considerado um dos chefes do esquema de apostas investigado pela Justiça, revelou como operava na manipulação e disse uma série de frases fortes em depoimento à CPI de Manipulação e Apostas. A sessão ocorreu na terça (8) no Senado. Veja algumas declarações abaixo.
Como era o esquema na prática?
Qual é meu modus operandi? Pego um time com dificuldade financeira e que não tem dinheiro para disputar campeonato ou pagar taxas da federação, que cobra transferências, registros e tudo mais. [...] Aí eu entrava: eu vinha, como quem não quer nada, e falava: 'E aí, presidente, vamos fazer o time subir? Vai dar tudo certo, a gente vai ser campeão'. Eu tinha uma agência de atletas, a WR10, e falava para os jogadores que eles tinham que ganhar comigo, porém, eles tinham que facilitar os jogos para mim. Eles não entendiam no começo, mas eu explicava certinho e eles falavam: 'Poxa, a gente está sem salário, sem nada... vamos tentar'. Foi onde iniciei a prática. [...] Basicamente, eu enganava o presidente porque ele não tem dinheiro. Automaticamente, pago ele e pago para colocar meus atletas. Com isso, acabei de gerar uma máquina: aquele time vai perder de todos os jeitos, porque ele vai me beneficiar nas apostas.
Rei do rebaixamento
Alguns presidentes sabiam e aceitavam, e alguns não aceitavam, mas eu tinha que chegar. A gente causa sofrimento, às vezes, nas pessoas, por enganar. Eu vinha e bancava o registro dos atletas. Eu rebaixei 42 clubes do Brasil, e eles falam que sou o 'rei do rebaixamento'. É por causa da prática. Eu não tenho interesse nenhum sobre o time se posso ganhar com ele caindo. Eu não ganho dinheiro ganhando jogo. Eu ganho dinheiro perdendo o jogo, entregando o jogo. É lógica isso, por isso que eles me chamam de 'rei do rebaixamento'. Sempre rebaixei clube, e clube grande, viu? De primeira divisão estadual...
Clubes que caíram
Eu vou falar de [torneios] estaduais. O Coruripe, de Alagoas, eu rebaixei. Um time muito forte do Maranhão... Rio de Janeiro? É terrível isso aí, não vou nem entrar neste mérito, mas o melhor campeonato da minha vida é o Carioca. [Em São Paulo], rebaixei alguns, em Goiás também. É complicado a gente falar [nomes] porque expõe os clubes.
Classificação e jogos
Diferença de operação em torneios
Os jogos maiores é para a gente ganhar mais dinheiro porque a casa não limita, mas o alvo sempre foi time pequeno: 1ª divisão de estadual, Série D, Série C, Série B... na Série A, é bem limitado. Na Série A, a gente trabalha com atleta e árbitros. Em séries mais baixas, a gente trabalha com gestão. Pegamos um clube sem dinheiro, bancamos e colocamos nossos atletas, aí faço acontecer. O maior alvo são os clubes pequenos.
R$ 300 milhões embolsados
[Faturei] um pouquinho, hein? Acho que deve chegar a uns R$ 300 milhões, mais ou menos. Inclusive, entrei em um ramo de ouro na África e perdi quase a metade. O bom enganador também é enganado, infelizmente.
Torcedor x fanatismo
Existe torcedor se matando. Eu sempre fui corintiano, mas deixei de torcer para o Corinthians. Hoje, a gente vê a torcida do Corinthians sem entender nada, e não estou falando o que o Corinthians fez ou deixou de fazer. O torcedor sofre pelo time, mas mal sabe o que acontece nos bastidores. Se um jogador do Corinthians resolver fazer manipulação, você não vai saber. Se um cara falar: 'eu pago muito bem por um gol' e ele [goleiro] resolver entregar um gol, você não vai saber. Erro é cometido, e vai passar como se ele tivesse errado.
Textor "não é tão louco assim"
Não sei as provas que John Textor têm, mas uma coisa eu posso falar: as pessoas que trabalharam para mim também trabalharam contra ele neste campeonato, mas as pessoas falam que não. Não estou aqui para enfrentar. Leila, não quero te enfrentar jamais, não estou falando que você fez ou não, tá bom? Mas eu te garanto que o John Textor não está totalmente errado. Para entender a dimensão que está o futebol. Chamam de louco, e não é tão louco assim
Manipulação em Palmeiras x São Paulo e Palmeiras x Vasco?
Vou deixar entrelinhas. Estes são grandes, são literalmente grandes. Não posso enfrentar a Leila, eu não vou, é loucura da minha cabeça. Não vou enfrentar o presidente do São Paulo. Mas tem fundamento, total, total. [...] Minha opinião? Está nítido, é só olhar os gols. A gente que conhece... mas é minha opinião, pode ser que não tenha acontecido nada. Confesso que foi um jogo que apostei e ganhei.
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Todos os jogos que vi que estavam acontecendo em que o Botafogo vinha desestruturado... todos os jogos que fiz no Palmeiras, eu ganhei. São resultados. Não falo que tive envolvimento, mas informações chegam, muitas das vezes, porque o jogador não consegue segurar a boca. Aí a informação chega e fala: 'Hoje vai ter um resultado ali. Tal time vai ganhar e vai tomar uns gols aí'. E eu, supostamente, sou um apostador, não sou só de esquema de manipulação. Gosto de dinheiro, eu amo apostar também. E alguns jogos que eu fiz, eu ganhei. Tive êxito porque chegava uma informação: 'Olha, hoje vai ter um jogo assim, assim, assim... Coloca aí que vai dar bom'. Eu simplesmente falava: 'Então, está bom'. Eu colocava e dava bom. De onde veio a informação? Não sei. Quem estava fazendo? Também não sei. Eu sei que eu ganhava
Sistema forte
Os grandes não vão cair nunca, não vai adiantar [...] A gente está falando isso de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas, conversas e vídeos. Eu relato tudo. Não dei a cara porque existiram ameaças, mas hoje, depois do que passei... [...] Me perdoa, mas isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 30 ou 40 anos. Não vamos tentar tapar o sol com a peneira. Eu fiz parte do sistema, está aí, a polícia está investigando
Pessoas "perigosas"
Vocês vão ver o grau do esquema, que não é pequeno. Há pessoas que já ganharam muito dinheiro comigo. [...] É muito além disso daí que vocês estão buscando. Se eu não fui o maior, fui um dos maiores. Eu tinha um grupo, mas não existe só o grupo do William, não sou só eu que faço isso. Se não fui o maior do Brasil, fui o mais bem organizado do Brasil, mas tem outros grupos, e não vou ficar falando deles. São pessoas perigosas.
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