Patrícia Toledo faz parte de uma geração de jogadoras pioneiras, que viveram todas as incertezas do futebol feminino. Com passagens por Corinthians, Palmeiras e Flamengo, a ex-atacante realizou o sonho de ser atleta no Brasil, mas foi nos Estados Unidos que estabeleceu a carreira.
Há dois anos, Patchy, como é apelidada, treina a categoria sub-16 da seleção estadunidense e ajuda a preparar jovens talentos para o elenco principal. A empreitada começou de forma curiosa, por meio de uma vaga anunciada pelo LinkedIn, rede social focada em negócios e empregos.
Eu trabalhava no Albion, um clube de San Diego, na Califórnia, e meu amigo, que era treinador no mesmo clube que eu, chegou em mim e falou: 'Patchy, você viu que no LinkedIn tem uma vaga para ser treinadora do Sub-16 dos Estados Unidos?'. Na mesma hora, eu comentei: 'Até parece, eles devem colocar ali só por colocar, mas com certeza já deve ter alguém em mente para essa posição'.
Patchy Toledo, técnica da seleção sub-16 dos EUA, em entrevista ao UOL
Mesmo assim, fui lá e fiz a minha parte. Preenchi todas as informações, coloquei as cartas de referência e entreguei nas mãos de Deus.
Uma semana após se candidatar, ela recebeu uma ligação da gerente geral da Federação de Futebol dos Estados Unidos (USSF).
Na hora, eu não acreditei. Falei: 'Gente, será que é uma piada ou alguém passando trote?' Mas as coisas aconteceram.
Universidade e futebol nos EUA
A treinadora deixou o Brasil ainda muito nova. A falta de um mercado realmente profissional e de perspectiva na carreira foram os principais motivos para ela tentar a vida de imigrante.
Como sempre, o futebol feminino é algo incerto, a gente nunca tem uma garantia de nada. Quando o time do Flamengo acabou [em 2002], decidi ir para a universidade. Isso era algo que eu já tinha no meu coração, porque entendia a dinâmica do futebol feminino em termos financeiros.
À época, Patchy contou com o apoio de Ademar Fonseca Junior, o Dema, um dos treinadores mais emblemáticos da modalidade, para conseguir uma bolsa de estudos no exterior. Dema faleceu em 2017, mas deixou um legado importante para a seleção brasileira.
Era um sonho meu jogar, mas naquele momento alcancei o máximo que poderia no Brasil. Eu falei: 'O que eu posso fazer para dar continuidade nisso [futebol] e ao mesmo tempo investir na minha parte acadêmica?'. O Dema me ajudou, eu enviei vídeos para universidades nos EUA, e fui aceita.
Enquanto atuava pelo UWF Argonauts, time da Universidade de West Florida que disputa a segunda divisão da liga americana, Patchy concluiu o bacharelado e o mestrado em ciência do esporte. Ao pendurar as chuteiras, decidiu que continuaria trabalhando na área.
Saí do país para estudar, investir na minha carreira futura, e realmente isso aconteceu. Foi foi muito boa essa jornada que eu tive de universitária e poder continuar jogando profissionalmente.
Do futebol de rua ao Corinthians
Patchy não teve a oportunidade de viver cada etapa do amadurecimento enquanto atleta. Há pouco mais de duas décadas, quando ela se profissionalizou, não existiam categorias de base para as mulheres.
O Corinthians foi um clube muito importante na minha vida, porque foi a minha primeira equipe feminina do profissional. Foi a primeira experiência que eu tive de estar com jogadoras que eu assistia pela televisão. Lembro de ter assistido a um jogo da seleção brasileira em um estádio, e jamais imaginaria que em tão pouco tempo estaria jogando ao lado de Roseli, Nenê, Maravilha, [Márcia] Taffarel.
Patchy Toledo
Do futebol de rua fui direto para uma equipe profissional. Hoje em dia é muito difícil isso acontecer. Você vê as categorias sendo preparadas, desde sub-15, sub-17, e eu fico imaginando que, na época em que eu jogava na rua, em três meses de peneira estava na equipe profissional do Corinthians.
Foi exatamente a falta de uma base que motivou a preferência de Patrícia em desenvolver meninas na modalidade: "Quero que elas tenham aquilo que eu não tive".
Em duas temporadas, já são quatro resultados expressivos integrando a comissão técnica de categorias juvenis dos Estados Unidos: campeã do Torneio Amistoso Sub-16 da Uefa (2024); terceiro lugar no Pan-Americano Sub-19 (2023); vice-campeã das Eliminatórias Sub-20 da Concacaf (2023); e campeã do Torneio de Montaigu (2022).
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