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Vendedor que levou tiro no caos com uruguaios: 'Vieram para cena de guerra'

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/10/2024 12h00

Netinho, de 34 anos, trabalha na praia há pouco mais de um ano. Vende mate e biscoito Globo, combinação típica carioca quando se trata de praia.

O que nitidamente não estava combinando era aparecer no posto 12 da praia do Recreio, na Zona Oeste do Rio, com a perna enfaixada.

O ferimento foi resultado do que ocorreu na véspera: a pancadaria e depredação envolvendo torcedores uruguaios do Peñarol. Netinho disse que levou um tiro de raspão e que estava no estopim da confusão.

No dia seguinte ao caos, o assunto não poderia ser outro, até porque os quiosques afetados ainda contabilizam prejuízos. Os ambulantes que viveram tudo estavam com histórias para contar. Netinho era um deles.

Valdecir Silvério Neto, o Netinho, tinha chegado cedo à praia na manhã anterior, pouco depois das 7h. E percebeu um público diferente, vestido de amarelo e preto: torcedores do Peñarol.

Poderia ser um prenúncio de que as vendas seriam melhores do que o de costume. Ele geralmente tira R$ 200 por dia trabalhando na orla do Recreio durante a semana.

"Quando fui vender o mate, dois pegaram mate com maracujá. Enchi o copo deles. Beberam um pouco, mas disseram que não tinha álcool. E não queriam. Jogaram no chão. 'Vão ter que pagar R$ 20'. Disseram que não iriam. Quando olhei para o lado, já tinha mais de cinco dando volta em mim. Foi quando tomaram meu galão, quebraram. Já vi eles virando carroça de milho do vascaíno que estava do meu lado. Chamaram mulher de macaca, fizeram sinal. Pegaram os ferros das barracas. A gente se defendeu, e aí generalizou", contou ele ao UOL.

Segundo o relato, os uruguaios correram para os quiosques que estavam próximos ao ônibus, pegaram as garrafas, quebraram tudo. Moradores da área próxima também entraram no conflito.

"Quando olhei para o meu pé, já estava sangrando. Tomei um tiro que pegou de raspão na parte do tendão. Eu tive que parar no Lourenço Jorge. A ambulância não estava conseguindo chegar. Os bombeiros me levaram para uma parte perto do shopping do Recreio e de lá me colocaram na ambulância", conta o vendedor.

Netinho diz que não viu quem deu o tiro. Não sabe de onde saiu. Na confusão, sentiu o ferimento e percebeu o sangramento. Ao mesmo tempo em que pessoas eram roubadas ao redor.

"Entraram dentro da farmácia para roubar. Vieram para cena de guerra. Vieram preparados para brigar. Do nada, apareceu muita barra de ferro na mão deles", lembra.

Netinho não vai conseguir trabalhar enquanto estiver machucado. Perdeu o galão no qual carregava o mate. E ainda precisa lidar com um pé que não pode flexionar para dar os passos — muito menos na areia.

O vendedor não quis ficar muito tempo no hospital porque alegou que estava sem camisa e viu uruguaios chegando à mesma unidade de saúde.

O assunto no dia seguinte

No dia seguinte ao conflito, os quiosques ainda estavam com pilha de mesas e cadeiras quebradas. Vidros da parte externa também estavam danificados.

E outros estabelecimentos próximos ainda apresentavam danos, como o Espaço Cultural do Surfe, cujos vidros estavam quebrados.

A Orla Rio, concessionária responsável pela operação e manutenção dos quiosques das praias do Rio, pelo menos se comprometeu em repor as cadeiras e mesas para ajudar.

A torcida do Peñarol já tinha passado pelo Rio na Libertadores, quando o time enfrentou o Flamengo nas quartas de final. Teve confusão, mas em proporções menores.

Quem frequenta a região aponta que os estrangeiros estavam em número menor e mais longe dos ambulantes.

A torcida do Peñarol, especificamente, tem um passado de violência no Rio, por causa da morte de um torcedor do Flamengo em 2019, mas no Leme.

"Pensaram que o Recreio seria área de lazer para eles, por ter acesso mais difícil. Aqui, eles já vieram com intenção. Pode colocar no meio do mato, se tiver algum bicho lá, vão querer matar o bicho. A culpa não é de quem trabalha todo dia. É de quem vem de fora. Tinham barra de ferro, arma e são racistas", completou o ambulante ferido.

Os agentes da Segurança Presente, programa do Governo do Rio, não apareceram na confusão. Até pela desvantagem numérica. "O prejuízo ficou para gente", finaliza Netinho.

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