"O Corinthians não cai. É muito grande para cair".
O ciclo entre Corinthians e António Oliveira se encerrou em julho, mas a admiração do técnico português pelo clube paulista nunca passou. Foram 29 jogos no comando do Timão, no qual obteve 13 vitórias, nove empates e sete derrotas. Foram seis meses de um carrossel de emoções.
Para António, "valeu a pena". O português deixou o Cuiabá para assumir o clube paulista, que havia acabado de demitir Mano Menezes. O profissional havia somado experiências por Athletico-PR, Coritiba e Cuiabá, mas o Corinthians foi algo totalmente diferente.
"O Corinthians é outra dimensão, por mais que respeito todos os clubes por onde eu passo, percebemos a dimensão dentro do contexto do futebol brasileiro do que é o Corinthians, é um a par dos outros".
António Oliveira vivenciou na pele diversos momentos no Timão, afinal, treinou uma das potências do futebol brasileiro. Seu lado "protetor" e paizão de grupo teve que ser colocado em ação quando as polêmicas de bastidores entravam no dia a dia do elenco, como o escândalo da patrocinadora Vai de Bet.
Em junho, a empresa rescindiu o patrocínio com Corinthians após escândalo com o suposto laranja. Para não impactar no elenco, António buscou blindar todos os setores, mas admite que as polêmicas impactaram no dia a dia do clube. Apesar disso, o treinador português tirou lições positivas para sua carreira com a questão, como contou em entrevista ao Zona Mista do Hernan, do UOL.
"Impacta [no dia a dia]. É natural que muitas das vezes desviamos aquilo que é o foco fundamental e começa a falar em coisas que não são muito importante para nós, porque o nosso foco tem que ser apenas aquilo que é o treino e a preparação do jogo. Constantemente colocar em causa a credibilidade do clube não é saudável. Portanto, eu tentei sempre colocar essa veia agregadora, principalmente em todos os departamentos, e eu cheguei a fazer até uma reunião com esses departamentos todos para parar de falar dessas situações. Não vai adiantar nada, não nos vai acrescentar nada, temos que nos focar cada vez mais naquilo que nós conseguimos controlar, e é por isso que eu às vezes dizia, fui muito mais, em alguns momentos, do que apenas um simples treinador. E, nessa perspectiva, orgulho muito imenso do tempo, porque valeu a pena. Valeu a pena".
'Tenho um amigo para a vida'
António Oliveira chegou ao Corinthians dias depois do clube anunciar Fabinho Soldado como seu novo executivo de futebol. O ex-dirigente do Flamengo se tornou um aliado do português, um "amigo para a vida".
O técnico elogiou o trabalho de Soldado, apesar de achar que o dirigente ainda não chegou ao seu potencial máximo. Em momentos de turbulência no comando do Timão, Oliveira viu Fabinho como uma espécie de escudo, a quem o blindava das críticas.
"Eu até às vezes dizia que ele era o meu segurança. Primeiro, nós temos que perceber que as pessoas também têm que ter um momento em que iniciam as suas atividades e o Fabinho está crescendo dentro dessa, tem um potencial enorme. Ele não está no seu ponto ótimo, mas tem um potencial enorme também, está aprendendo dentro. Foi alguém que esteve sempre comigo, em todos os momentos, do princípio ao fim. É mais uma pessoa que sou extremamente grato e sei que, mais do que um profissional que eu conheci, tem ali um amigo para a vida".
Augusto Melo 'teve que salvar a pele dele'
Nesta segunda-feira (3), o Corinthians enfrenta o Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro. O último confronto entre os rivais resultou na demissão de António Oliveira, que não suportou a pressão após uma sequência de resultados ruins.
O português não guarda mágoa do presidente Augusto Melo por tê-lo tirado do cargo. Para Oliveira, o dirigente 'teve que salvar a pele dele' para superar o momento de crise. Apesar disso, o profissional relembra os constantes pedidos por reforços.
"O Augusto fez o seu trabalho. Fez o seu trabalho porque numa situação em que a equipe atravessava na competição, ele também teve que salvar a pele dele, e nessa situação quem é que paga? É o treinador, portanto, que é a unidade naquele momento, se calhar, mais frágil. Em nenhum momento vou condenar ou apontar o dedo, ele fez o seu trabalho dentro das circunstâncias dessa possibilidade que ele nos podia oferecer. Ele não podia colocar o dia 10 um mês antes, portanto, eu gostaria que isso acontecesse. Fui falando sempre da necessidade e da urgência da equipe se reajustar, porque, basicamente, hoje o Corinthians tem uma equipe nova. Agora não vou dizer se fazer melhor ou pior, isso é irrelevante".
António e Deyverson, uma relação de pai e filho
Uma amizade improvável que quase resultou na ida de um ídolo do Palmeiras para o Corinthians. Tudo se iniciou em 2022, no Cuiabá, quando António Oliveira foi técnico da equipe matogrossense. Apesar dos poucos meses juntos, Deyverson e o técnico criaram uma amizade, que voltou a se fortalecer em 2023, quando o profissional retornou ao Dourado.
Apesar das maluquices, António classifica Deyverson como um jogador decisivo e que vem merecendo o sucesso de hoje no Atlético-MG, onde foi protagonista por colocar o Galo na final da Copa Libertadores.
"Nos falamos muito por videochamadas, nós também temos uma ótima relação até familiar. Estou muito feliz por ele. Ele merece, é um menino do bem, tem as suas maluquices, mas faz parte, às vezes até são determinantes e estratégicas, desde que atrapalhe o adversário, não a nós. Ele é um jogador que num momento certo é decisivo, é fantástico, um jogador muito rápido, joga extremamente bem de cabeça, é um jogador extremamente agressivo na primeira linha de pressão, é um jogador que ajudou muito nos anos em que eu estive, em 2022 e 2023. No Cuiabá, foi determinante".
António não esconde que tentou levar Deyverson para o Corinthians enquanto esteve no clube. O treinador conta que chegou a indicar a contratação do centroavante a diretoria do Timão, que optou por não avançar na questão.
"Claro que eu queria o Deyverson. Indiquei (contração do Deyverson). Não dependia de mim tomar uma decisão. É por isso que às vezes eu falo que é mais importante o clube do que propriamente situações. Hoje olhamos para o Deyverson e vai jogar a final da Libertadores, é decisivo no Cuiabá, no Palmeiras, no Atlético-MG, em qualquer equipe. Ele queria ir para o Corinthians, e nessa perspectiva não depende de mim. Como eu digo, às vezes não é só a questão técnica que está em cima da mesa. Portanto, não cabe a mim tomar uma decisão".
Reforços mudariam o trabalho?
André Ramalho, Memphis Depay, Carillo, Hugo Souza...a promessa de reforços do presidente Augusto Melo a António Oliveira não se cumpriu, já que o técnico português foi demitido antes da chegada de nomes que viriam a encorpar o elenco.
Mágoa? António Oliveira nega, apesar de relembrar do pedido por novas contratações. O lado 'paizão' fala mais alto ao defender o elenco que esteve em suas mãos há meses atrás e, agora, é comandado por Ramón Díaz.
"Tinha (promessa de reforços), isso foi algo que nós fomos falando ao longo desse período. Mas há uma coisa que eu quero dizer. Estou extremamente grato aos jogadores, foram fantásticos naquilo que fizeram, em condições muitas das vezes difíceis, portanto, não é fácil viver num clube com grande instabilidade, com uma gestão nova. Eu sempre falo que quando nós entramos em algo que sai 20, entra 20, entra nova gestão, nós partimos de uma situação caótica que demora até entrar em organização e estabilidade, portanto, aquilo não é de estalar o dedo e isto agora vira um clube completamente estável, o próprio presidente também entra e tem que conhecer os cantos da casa, tem que conhecer os seus problemas, identificá-los para poder corrigi-los. Em nenhum momento sai magoado com o Augusto Melo.
O Zona Mista do Hernan, apresentado pelo colunista do UOL André Hernan, vai ao ar às segundas-feiras, às 12h, no canal do UOL Esporte no YouTube.
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