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Botafoguense dispensa avião e vai de bicicleta para final da Libertadores

Do UOL, no Rio de Janeiro

20/11/2024 05h30

Classificação e Jogos

O que você faria por amor ao seu clube? O botafoguense José Marcelo, de 43 anos teve uma ideia pouco convencional: ele está indo para a final da Copa Libertadores, em Buenos Aires (ARG), de bicicleta — Botafogo e Atlético-MG se enfrentam no Monumental de Núñez no dia 30 de novembro.

O mais curioso de tudo isso é que o torcedor teve a oportunidade de ir de avião, mas dispensou a passagem aérea para viajar pedalando de Porto Alegre (RS) até a capital argentina, num trajeto que deverá passar de 1,3 mil quilômetros.

Estou com dois amigos que já fariam uma cicloviagem saindo de Porto Alegre até Buenos Aires. Aí um amigo do meu irmão, que é até flamenguista, tinha comprado passagem de avião para a final, mas como o Flamengo não se classificou, ele me ofereceu de transferir a passagem. Só que quando soube desses dois amigos, parei e pensei: 'prefiro ir de bicicleta que de avião (risos)'. Meu irmão na hora até falou: 'tu é doido' (risos). Aí eu parti com eles de cicloturismo. Está saindo conforme planejado
José Marcelo, ao UOL

Está dormindo em barraca na beira da estrada

José Marcelo leva em sua bicicleta um escudo do Botafogo e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida Imagem: Arquivo pessoal

A epopeia teve início no último dia 11, quando Marcelo pegou um ônibus e deixou São Pedro D'Aldeia, sua cidade natal na Região dos Lagos (RJ), em direção à capital carioca. De lá, pegou outro transporte coletivo até Porto Alegre (RS), num trajeto que durou dois dias. Em seguida, o cicloturismo começou ainda na madrugada do dia 14.

A ideia não é ir "num tiro só". O objetivo é parar em cidades e curtir a viagem. Por isso, calcula que chegará em Buenos Aires próximo do jogo, talvez na véspera ou no dia da partida. Até o fechamento desta reportagem, ele estava a 20 km da fronteira com o Uruguai.

A maioria do tempo de descanso tem sido em barracas. Ele e seus amigos batem nas portas das empresas de beira de estrada e pedem a autorização para que montem seus acampamentos e possam dormir.

Perrengue já tivemos logo de início porque o ônibus atrasou muito para chegar em Porto Alegre. Aí nesse primeiro dia de pedal, fizemos de madrugada, sem muito equipamento de segurança, essas coisas. Tem uns viadutos sem acostamento, o caminhão quase 'panhou', mas deu tudo certo. No primeiro dia, ficamos em uma pousada, mas os dois, três dias seguintes foram em barracas. Tivemos que armar o acampamento rápido porque choveu muito no último dia. Acampamos numa empresa que faz colheita de soja. Na beira do caminho, a gente pede às empresas para armar as barracas
José Marcelo

'As pessoas nas ruas ficam incrédulas'

José Marcelo tem interagido com populares e pedido que torçam para o Botafogo na final Imagem: Arquivo pessoal

Marcelinho, como é chamado pelos amigos, revela que as pessoas se mostram incrédulas quando ele conta que está indo para a final da Libertadores de bicicleta, mas garante que todas estão sendo receptivas, até mesmo os torcedores de outros clubes.

As pessoas na rua são ótimas (risos). Brasileiro é tudo gente boa, recepciona bem, nós brincamos. Falo que estou indo para o jogo, peço para torcer para o Botafogo (risos)... Elas ficam meio incrédulas de eu estar indo de bicicleta, porque geralmente as pessoas vão de avião, ônibus ou carro. De bicicleta ninguém está indo, só eu (risos)
José Marcelo

Apesar da incredulidade dos populares, a escolha pouco comum de viagem de Marcelo não é uma loucura completa. O botafoguense já possui uma vasta experiente em ciclismo em seu currículo que conta com trajetos de 30 dias pela costa do Nordeste e pedaladas no Caminho da Fé (SP), na Serra do Corvo Branco, duas "ironbikes", de Florianópolis (SC) até Torres (RS), entre outros.

Não fiz preparação especial. Faço só quando é para uma ironbike. Vim em cima da hora, na correria, decidir vir num estalo, na loucura mesmo. Condicionamento vou pegando durante o pedal. Eu já pedalo há muito tempo. Tem uma tal de memória muscular. O que eu trouxe foi barraca, colchonete, roupa de ciclismo, toalhinha de rosto para secar e tomar banho... A parte mais desafiadora é que é um trajeto novo, um pedal diferente, mais pista. É mais a questão do cuidado com as carretas, trânsito muito pesado, tem que estar com a cabeça boa, atenção a todo momento. As subidas são de boa, apesar de estar levando uns 15kg com a mala. E também aguentar a ansiedade, porque meus dois amigos estão fazendo apenas pelo cicloturismo, e meu objetivo principal é a final da Libertadores (risos)
José Marcelo

Estará no Uruguai no Botafogo x Palmeiras: 'Vou dar meu jeito'

José Marcelo percorrerá mais de 1,3 mil quilômetros pedalando até Buenos Aires Imagem: Arquivo pessoal

Pelos cálculos de Marcelo, ele estará no Uruguai quando o Botafogo irá enfrentar o Palmeiras, em 26 de novembro, no Allianz Parque (SP), jogo que pode decidir o título brasileiro e que acontecerá quatro dias antes da final da Libertadores.

O torcedor ainda não tem uma estratégia traçada para assistir a decisiva partida, mas garante que dará seu jeito de acompanhar o Fogão.

No jogo com o Palmeiras, com certeza vou estar no Uruguai, mas aonde no Uruguai eu não sei (risos). Vai depender do ritmo, do que vai acontecer, mas estarei no Uruguai. Vou ter que dar um jeito de assistir esse jogo. Meu irmão até falou: 'cuidado para não apanhar lá da galera do Peñarol (risos)', mas estou de boa. Não sei como é porque nunca fui ao Uruguai. Não sei se assistirei pelo celular, pelo radinho... Alguma coisa eu vou ter que fazer para assistir. Não só esse como contra o Galo e o Vitória
José Marcelo

Amor pelo Botafogo é herança de pai e tio que se foram

José Marcelo fez camisa em homenagem ao pai e o tio, que o fizeram ser botafoguense Imagem: Arquivo pessoal

O amor pelo Botafogo foi herdado do pai, Viriato, e do tio, João, que já se foram. Em forma de gratidão, Marcelo mandou fazer uma camisa alvinegra com os nomes deles e está levando-a em sua bicicleta.

"Essa camisa eu fiz assim que decidi vir. Coloquei o nome do meu pai e do meu tio, eram dois grandes botafoguenses. Tenho certeza de que onde eles estão, estão felizes pelo momento do time, gostariam muito de estar vivendo esse momento, eram dois fanáticos. Meu pai era botafoguense de socar a televisão. Eu não conseguia ver jogo do Botafogo com meu pai na TV. Eu falava: 'você vai passar mal (risos)', ele era muito fanático. Meu tio me incentivou muito quando era criança, ele me levou muito no Caio Martins (antigo estádio alvinegro, em Niterói). Eles são os grandes responsáveis por eu ser esse botafoguense fanático (risos)", disse Marcelo, complementando com uma reflexão:

Tenho 43 anos, fui nascido em Niterói, criado nas arquibancadas do Caio Martins e espero aproveitar o máximo possível. A vida é curta e tem que aproveitar. Estou muito feliz com esse momento do time
José Marcelo

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