Um dos envolvidos no esquema da manipulação de partidas investigado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), Bruno Lopez de Moura disse em depoimento à CPI das Apostas, no Senado, que recebeu informações para apostar que Lucas Paquetá e Luiz Henrique levariam cartões amarelos, no início de 2023.
A dica para aposta nos cartões coincide com o momento em que o alerta sobre os dois jogadores foi disparado na Europa. Paquetá já defendia o West Ham e Luiz Henrique, hoje no Botafogo, estava no Bétis.
"A única informação que eu tenho, e até passei, na época, para o Ministério Público, é que, através de uma terceira pessoa, que eu também não posso citar nome, mas está nos autos, chegou a informação para mim: ele (Luiz Henrique) tomaria um cartão, e eu, simplesmente, só apostei. E só isso. Não tive nenhum tipo de contato com ele, não tive nenhum tipo de relação com ele, só chegou a informação que aconteceria. E eu... Bom, vamos dizer assim, no palavreado que a gente usa, eu fiz uma fezinha só, não coloquei muito dinheiro, mas... Só para ter algum tipo de lucro. Mas zero contato com ele", disse Bruno Lopez, nesta terça-feira (26), explicando ainda como se deu a situação com Paquetá:
No caso, é a mesma coisa: não conheço nenhum dos dois, mas veio através de uma terceira pessoa a mesma coisa que aconteceu com o Luiz Henrique, a informação de que aconteceria, e por isso eu apostei, mas também não tive nenhum tipo de assunto ou de conversa com nenhum deles.
Aposta foi casada
Bruno explicou posteriormente que a aposta que fez envolvendo Paquetá e Luiz Henrique foi casada. É um jeito de aumentar o valor a ser recebido pelo apostador.
Foi uma aposta desse tipo que despertou um alerta de empresas de monitoramento de apostas na Europa.
Isso gerou o processo atual na Inglaterra, no qual Paquetá foi denunciado pela Federação Inglesa. A acusação é de que ele tomou cartão amarelo de propósito em quatro jogos da Premier League, com objetivo de influenciar o mercado de apostas.
As suspeitas sobre Paquetá envolvem também parentes do jogador. Mas Bruno Lopez afirmou que não conhece o círculo mais próximo ao meia da seleção.
"Eu fiquei sabendo (do caso) depois, quando passou na televisão. Mas não tenho conhecimento de familiares. Não sei nada relacionado a familiares deles", alegou.
Como o UOL revelou, um ponto de conexão entre a família de Paquetá e Luiz Henrique são depósitos que totalizam R$ 40 mil, feitos pelo tio e primo de Paquetá para o jogador atualmente no Botafogo.
Delator não conecta caso à Penalidade Máxima
Bruno Lopez classificou a aposta em Luiz Henrique e Paquetá como uma iniciativa pessoal e não como parte integrante do esquema que envolvia jogadores das Séries A e B do Brasil. Esse movimento mais abrangente, feito em 2022, resultou na Operação Penalidade Máxima.
"No caso do Luiz Henrique e do Paquetá, no início de 2023, eu fiz na minha conta pessoal mesmo, uma fezinha, para ganhar um dinheirinho", explicou.
Bruno alega, inclusive, que não era o chefe do esquema de manipulação. Disse aos senadores que atuava como um aliciador de jogadores. Como foi pego, chegou a ser preso e o esquema no qual estava foi desmantelado, ele atualmente colabora com delações feitas ao Ministério Público de Goiás.
"As operações em si, que ocasionavam bastante dinheiro, que eram relacionadas a quatro, cinco jogadores juntos, eu não tinha acesso a fazer operação. Eu vinha com os nomes, entregava para ele e ele fazia tudo. Ele só vinha depois com os números: "Deu tanto, ganhou tanto", disse Bruno.
Tanto Paquetá quanto Luiz Henrique já foram chamados para depor na CPI das Apostas. Isso, segundo o presidente da comissão, Jorge Kajuru (PSB-GO), deve acontecer nas primeiras semanas de dezembro.
Bruno Tolentino, tio do meia do West Ham, chegou a ser convocado, mas ficou em silêncio, por orientação dos advogados. A CPI tem recebido nos últimos dias informações resultantes da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de Tolentino.
Da dívida ao lucro com esquema no Brasil
Bruno Lopez já deu depoimentos que atingiram 6h de vídeo ao MP-GO. Esse material foi compartilhado com a CPI.
No âmbito pessoal, ele relatou que o volume de dinheiro prometido com o mercado de manipulação de partidas chamou a atenção. E olha que, segundo Bruno, deu errado no início.
"Quando me chamaram para esse "ramo", me chamou a atenção os números. Falando que poderia ganhar x, y. Na primeira oportunidade que eu arrumei um atleta para eles, deu errado. E eu fiquei com uma dívida de R$ 100 mil com esse pessoal. Eu não tinha como pagar. Foi onde eu arrumei outros jogadores para tentar cobrir esse buraco. E aconteceu a operação dos R$ 720 mil. De uma dívida de R$ 100 mil veio um lucro de R$ 720 mil. Pagando os jogadores, veio um lucro de R$ 200 mil e pouco. Meus olhos brilharam, sendo bem honesto. "Vou mudar de vida". Na época, não imaginava o quão grave era isso daí. Meu lucro maior foi esse. E foi dividido. Peguei um carro e mais R$ 200 mil", acrescentou o delator.
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