Conheça José Boto, novo diretor do Flamengo: 'Defensor do futebol ofensivo'
José Boto será responsável por reformular todo o modo de trabalho do departamento de futebol do Flamengo. O português já está em ação nos bastidores, apesar de ainda não ter sido oficializado pela nova diretoria de Bap.
Bem conhecido na Europa, ele chega ao Brasil pela primeira vez para abraçar um projeto no estilo que gosta: um clube que acredite nas suas ideias e esteja disposto a criar estratégias para melhorar.
Quem ele é
José Boto deixará o NK Osijek, da Croácia, onde estava desde janeiro. O início da carreira foi como treinador, mas ele migrou de função rapidamente. Em 2010, foi chefe de scout do Benfica e se destacou. Depois de oito anos, foi contratado como diretor esportivo do Shakhtar Donnestk, da Ucrânia, onde trabalhou até 2021, ano que chegou ao Paok, da Grécia. Ele deixou o clube em 2023 e assumiu o clube croata em seguida.
A escolha por Boto não é por acaso: ele e Bap pensam o comando do futebol da mesma maneira. Querem estabelecer uma metodologia para que todos sigam ela, não se adaptar ao que pensa o treinador. Uma das características da diretoria anterior foi a troca de técnicos com estilos completamente diferentes. Desta vez, o pensamento é que o Fla sempre siga uma mesma filosofia que vai guiar todos na busca de profissionais.
A aposta no português tem a ver com a tentativa do fortalecimento do "DNA Flamengo". Ou seja, um futebol para frente. "O José é defensor de um futebol ofensivo, atraente, valoriza o lado estético, e penso que isso vai ao encontro das necessidades do Flamengo. Mais do que um admirador do futebol brasileiro, é alguém com um conhecimento bastante profundo. A pressão no Flamengo é enorme, mas acho que está preparado para isso", analisou Nuno Travassos, do site A Bola, de Portugal.
O mais marcante no trabalho é a confiança nas pessoas com quem trabalha. Acredito que ele também prefere não trabalhar com uma lista muito grande de pessoas à sua volta. Gosta de menos gente, gente mais competente e de confiança.
Sérgio André, do jornal O Jogo
Ele tenta há anos entrar em um grande clube brasileiro, já que é apaixonado pelo futebol do país. Ao fechar com o Fla, falou até com Jorge Jesus. Além do mercado sul-americano, Boto também transita bem pela Europa, mas tem um olhar especial para os alternativos, como Sérvia, Croácia, Grécia e Holanda.
No Benfica, fez parte das descobertas de Di Maria, Gaitan, Enzo Pérez, Ramires, Matic, Witsel, Javi Garcia, entre outros. Ele tentou levar o ainda desconhecido Philippe Coutinho ao clube português, mas o presidente Luís Filipe Vieira não quis.
Como vai trabalhar
Boto conhece bem o mercado nacional, apesar de ser o primeiro trabalho no país. O dirigente não gosta de ser apenas um executor de tarefas e da vontade dos outros, mas busca traçar uma estratégia de uma política esportiva, evitando ser apenas mais um dentro da equipe.
José Boto acredita que o bom scouting é aquele que arrisca. Que mostra paixão pelo jogador que está propondo e mostra convicção. Ele foi o primeiro português a ter sucesso em scout a nível internacional, o que impulsionou tantos outros. "Ele pode tornar o método de scouting mais eficaz no Flamengo. Muitas vezes o método é tão ou mais importante do que a descoberta dos jogadores em si. Tem boa relação com muita gente, inclusive do mercado sul-americano, então ele vai levar essa capacidade de adaptação", analisou Fernando Urbano, do A Bola.
Ele é o tipo de dirigente que gosta dos holofotes e de aparecer da mídia. Também pode ser um pouco centralizador, e, por isso, muitas vezes chegou a ter embates nos bastidores do Benfica com outros scouts e dirigentes. Mesmo assim, é uma pessoa elogiada por quem acompanha.
Desde que assumiu funções de diretor desportivo, José Boto tem mostrado ser um dirigente sempre próximo das equipes e treinadores. É frequente vê-lo muitas vezes no campo, sobretudo nos treinos, mas também perto da equipe nos jogos. É alguém que procura criar boas relações nos clubes, de confiança. Gosta de interagir com os jogadores, muitas vezes até de forma descontraída, embora sabendo que é preciso algum distanciamento para tomar decisões.
Nuno Travassos, jornalista do A Bola
Boto não tem qualquer registro de ser uma pessoa problemática, bem pelo contrário. É discreto e gosta de estar muito nos bastidores, mas alimenta um bom relacionamento com dirigentes, jogadores e acima de tudo com empresários. Tem uma rede de contatos que ele foi fomentando ao longo dos anos. Faz sempre uma observação muito técnica dos trabalhos e, quando alguém é indicado, ele mesmo faz questão de dar o aval.
Fernando Urbano, do A Bola
Normalmente o José Boto é alguém que trabalha em rede, tem ligações com outras pessoas não pertencentes ao clube onde está, mas pessoas em quem confia. Muitas vezes são eles que fornecem algumas indicações e ele depois avança por esses jogadores. Essas escolhas estão condicionadas também pela capacidade financeira do clube. Ele vive muito a realidade dos clubes onde está e, quando pede informações sobre os jogadores, normalmente também quer saber como são eles fora do âmbito esportivo. A nível social, familiar, quer sempre ter um dossiê completo com todas essas informações e só depois disso avança para outros níveis da pesquisa.
Sérgio André, jornal O Jogo
Quais jogadores busca
O português poderá dar ao Flamengo algo que o clube focou pouco nos últimos anos: a atenção aos jovens. Também por isso José Boto buscou JP Sampaio, do Palmeiras, a quem já conhecia.
Nem sempre ele prioriza buscar os reforços na base e geralmente vai ao mercado, mas também com atenção aos mais novos. O trabalho com garotos formados na equipe ou até que chegam de fora passa também pelo cuidado. Boto gosta de ter uma estrutura de psicólogos, nutricionistas, especialistas em comunicação e todo o aparato para que o jogador saiba lidar com a pressão e se cuidar. A volta de um psicólogo ao futebol profissional, por exemplo, é uma promessa de Bap.
Boto tem sintonia com a política esportiva dos clubes em que trabalha e evidencia capacidade para recrutar talentos jovens, mas também tem competência para descobrir nomes menos evidentes do mercado a preços melhores. Ao longo dos anos recrutou vários jogadores que saltaram posteriormente para algumas das principais ligas europeias e renderam muitos milhões de euros aos clubes. Também teve influência relevante na afirmação de técnicos como Luís Castro ou Roberto de Zerbi.
Nuno Travassos, jornalista do A Bola
Ele está ligado a um momento importante do Benfica de buscar jogadores jovens para depois formar e vender para outros clubes na Europa, mas era um modelo de gestão do clube. O foco dele são os bons jogadores, independentemente da idade. Ele se adapta ao clube. Tem a capacidade, sim, de focar em jovens, mas tinha a ver com a necessidade e o modelo que existe em Portugal.
Fernando Urbano, jornalista do A Bola
Por norma ele vai buscar os jogadores jovens, mas há um aspecto no Boto que é alguém que gosta de jogadores bons de bola. Independentemente da capacidade atlética desses jogadores, da envergadura física. Gosta de jogadores que tratem bem a bola, que sejam bons tecnicamente.
Sérgio André, do jornal O Jogo