Adriano Imperador decolou após chute que foi do travessão ao meio-campo
Adriano já tinha passado uns perrengues na base do Flamengo quando uma característica que catapultou a carreira dele chamou atenção de quem treinava o profissional: a pancada de canhota.
Os argentinos que o digam, mas não só eles.
O atacante rodou por lateral-esquerda e zaga, mas se encontrou como atacante graças ao olhar do técnico Carlinhos (não era o Violino), que o salvou da dispensa na base.
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A oportunidade no time de cima só se consolidou mesmo em um treino despretensioso. Quer dizer, despretensioso só para os reservas do time principal, que fizeram um coletivo contra os garotos do sub-17.
Para Adriano, não havia chance melhor para dar um sinal ao então técnico do Fla, Paulo César Carpegiani.
Isso explica a força colocada na perna esquerda depois que conseguiu se livrar da marcação de Juan e Ronaldão.
Quando descreve a cena, Adriano adora usar onomatopeias. É como se um míssil fosse lançado.
Um golaço? Não. Adriano contou no livro lançado recentemente que foi até melhor assim. Porque o jeito que a bola explodiu no travessão e voltou no meio-campo moldou uma cena que mostrou que o potencial daquele garoto era grande.
"Ele acabou com o treino. E um dos lances que chamou a atenção do Carpegiani foi esse. Ele deu um chute lá da intermediária, a bola bateu no travessão e voltou para o meio-campo. E dali ele já subiu, e já começou a jogar no profissional", lembra Juan, ao UOL.
Dali para frente, a canhota de Adriano o fez subir mais e mais degraus.
Na estreia pelo Flamengo, no Morumbi, contra o São Paulo, um chute que deixou Rogério Ceni paralisado.
Na estreia pela Inter, no Santiago Bernabéu, uma cobrança de falta absurda (positivamente). Materazzi viu de perto. Era um dos cobradores da Inter na época. Adriano treinava bastante junto com Seedorf. Quando surgiu a oportunidade diante do Real Madrid, em um torneio amistoso, aquele que se tornaria o Imperador conseguiu seu assento entre os batedores.
"Na cobrança de falta, eu me apresento para bater. O técnico falou: 'Não, Adriano chuta'. Ele mandou aquele míssil para Casillas. Com aquele gol, quase no final, vencemos o troféu. Eu abraço o Di Biaggio caindo e rindo, porque não era possível que fizesse aquele gol. Ali nasceu o Imperador", contou o ex-zagueiro italiano ao UOL.
Os golaços de canhota que se tornaram mais famosos posteriormente para o torcedor brasileiro são os contra a Argentina. Um na final da Copa América 2004. Outro na final da Copa das Confederações 2005 - quando também fez um gol de cabeça.
São os dois títulos que ele tem com a seleção principal. Os dois como protagonista, com participações que não saem do imaginário do torcedor. Especialmente aquela Copa América. No lance decisivo nos agonizantes segundos finais, jogou o braço para trás na tentativa de dar uma cotovelada em Ayala. Mas a bola sobrou na frente dele dentro da área. "Pode até empatar!", exclamou Galvão Bueno, para nós que assistimos à transmissão do jogo.
O goleiro Abbondanzieri não teve tempo de reagir à pancada de canhota. E o Brasil ganhou depois nos pênaltis.
Adriano sempre teve força na perna esquerda. Ele mesmo admite que nem olhava direito para onde chutava quando mais jovem. Só soltava o canudo.
Mas na Itália ele se tornou um atacante ainda mais letal. Teve o aspecto tático, que se aliou ao aprimoramento do uso do corpo e também a uma tranquilidade maior para entender onde estava e como concluiria ao gol.
O artífice do Imperador foi um técnico italiano que o treinou nos tempos de Parma: Cesare Prandelli. Foi o segundo empréstimo de Adriano, que já pertencia à Inter de Milão. No primeiro, o brasileiro até foi bem, mas passou seis meses numa Fiorentina rebaixada. Depois, pegou um Parma bem mais estruturado - embora fosse o último antes da crise da Parmalat.
De todo modo, Adriano entendeu que poderia aliar força, presença de área e jeito. Aí, tornou-se um fenômeno. Ou melhor. O Imperador.
"Quando ele surgiu, era mais tranquilo marcar, porque ele não tinha tanta experiência, não sabia tanto usar o corpo. E eu já era mais jogado. Depois, quando a gente se encontrou na seleção de novo, ele já estava na Itália, a dificuldade era muito maior, porque ele podia usar bem o corpo, ficou bem mais forte, e ele já passou a ser um cara muito difícil de ser marcado", conta Juan.
Quando voltou à Inter, Adriano recebeu a camisa 10. E olha que o Chelsea de Abramovich fez uma proposta tentadora por ele. Mas a Inter deu um aumento salarial porque viu que ele seria fundamental. E não se arrependeu.
Além da Inter, São Paulo, Corinthians e o próprio Flamengo se beneficiariam no futuro do que Adriano se tornou.