Dinei experimentou maconha aos 13 anos em viagem com a Gaviões: 'Terrível'

Tricampeão brasileiro pelo Corinthians (1990-1998-1999), supercampeão brasileiro (1991), campeão paulista (1999) e campeão mundial (2000), Claudinei Alexandre Pires, o gavião Dinei, conta no Histórias da Bola, do Canal UOL, a sua relação com o clube e revela sua iniciação com drogas em caravanas da torcida.

Caravana da Gaviões e a primeira experiência com maconha

"Se eu contar as histórias da Gaviões, Nossa Senhora! Hoje em dia dou palestra sobre drogas, mas naqueles anos, quando a gente assistia aos jogos, era terrível", confessa Dinei, relembrando os tempos de adolescência em que dividia o tempo entre atleta da base corintiana e torcedor filiado à Gaviões da Fiel.

Todo mundo sabe que eu nunca fui santo. E ali na Gaviões, com 14, 15 anos, a gente já ia pegar essas caravanas, fazia 10 horas... Quando não tinha jogo da base, eu ia mesmo. Eu ia escondido. Fui a vários jogos. E a primeira vez que tive contato com droga foi na caravana... É até engraçado. Os mais velhos falavam 'não, moleque, você não pode vir aqui, não'. Aí fui lá e dei um tapa na maconha. Fiquei alegre daqui até Goiânia, mano.
Dinei

Como não havia antidoping na base, Dinei repetiu algumas vezes a experiência. "Naquela época era uma diversão, você era criança, moleque, sabe? Eu queria estar no meio da torcida, queria estar... Mas tenho que falar uma real. Nem todos usam droga na torcida organizada, 90% ou mais são tudo de boa. Tinha uns loucos lá, eu, tinha alguns loucos lá que fumavam maconha... Mas já fumei muita maconha quando eu ia assistir a jogos."

Neto é 13: a revelação que Dinei jogaria no profissional

Que corintiano não sonhou em sair da arquibancada e entrar em campo para ajudar o time a ser campeão? Dinei, literalmente, realizou o sonho de mais de 30 milhões de loucos. E, melhor, quem, em 1990, lhe avisou da transição sonhada foi Neto, então o craque do time e o seu grande ídolo.

"Em 1990, eu já estava bem, né? Estava fazendo gol pra caramba nos juniores do Corinthians. Dez dias antes da minha estreia como titular contra o Santos, nós jogamos contra o Vasco ou Bragantino, não lembro, e eu estava na arquibancada assistindo ao jogo com a Gaviões. Uma semana antes do jogo contra o Santos eu estava gritando o nome dos jogadores com a Gaviões", destaca Dinei, que ainda não sabia que seria o herói do clássico da semana seguinte.

"Teve um treino do reserva do profissional contra os titulares dos juniores. Aí eu estava vendo meus ídolos. O Neto era o maior ídolo que tinha na época. O Neto, o Ronaldo. O Neto estava bem pra caramba. Então tinha ele como ídolo. Treinei bem. Acabou o treino, tô indo embora. Do nada, aparece o louco do Neto. O Neto mesmo. Adoro o Neto. O Neto é 13. Nós, corintianos, somos loucos. Você é louco, eu sou louco. Nós somos loucos. Isso aqui faz a gente ficar louco", afirmou Dinei.

Ele [Neto] falou: 'Neguinho, eu fiquei sabendo aí, amanhã você vai começar a treinar com a gente'. Pô, eu falei: 'Ô Neto, quem fala é o treinador, né? O Nelson Batista'. Legal. Peguei o meu metrô e fui para casa. Cheguei para minha mãe e falei: 'Mãe, porra, o Neto veio falar comigo. Falou que amanhã vou começar a treinar profissional'. Aí, legal, terça-feira de manhã, chego no Parque São Jorge, Aí o roupeiro da base falou que eu não ia treinar na base, mas no profissional.
Dinei

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Foi quando caiu a ficha que o Neto falava a verdade. O sonho estava virando realidade.

Elenco derrubou Evaristo, vetou Leão e bancou Oswaldo

Muita gente desconfia que jogadores derrubam técnicos e só jogam quando querem, sob o comando de que querem. Mas é muito raro que isso seja provado ou confessado.

Dinei, no entanto, com muita sinceridade, não deixa dúvidas: o elenco não queria Evaristo de Macedo, não gostaria da chegada de um linha-dura como Leão e pediu que o então presidente Alberto Dualib bancasse Oswaldo de Oliveira.

A gente não simpatizou muito com o Evaristo Macedo. A gente queria o Oswaldo de Oliveira. Isso aí posso falar. A maioria não queria ele. Acho que os únicos que gostavam do seu Evaristo eram o Vampeta e o Edílson. Eu, particularmente, queria o Oswaldo porque era nosso amigo
Dinei, no Histórias da Bola

Querer, no caso de futebol, às vezes, é poder.

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A nossa sorte é que fomos falar com o [presidente Alberto] Dualib, que mandou o Evaristo embora. Quando a gente conversou com o seu Alberto, ele falou que tava pensando em trazer o Leão ou o Felipão. Nosso time era só cara vagabundo. Se traz o Leão ou o Felipão, nós estávamos ferrados.

Dualib perguntou se o elenco ia dar conta dos resultados com Oswaldo, e a boleirada assumiu a responsabilidade.

"Nós falamos que era o Oswaldo. O Dualib perguntou se a gente dava conta e trouxe ele novamente para ser o treinador titular. Aí a gente conversou tudo com o Oswaldo e combinamos de nos fecharmos: 'Se o senhor não der certo agora, eles vão trazer uma linha dura para nós'. Só tinha vagabundo que gostava da noite, e a gente começou a negociar com o professor Oswaldo", lembra Dinei, confessando que as vitórias compravam folgas e regalias.

Por isso que falo, às vezes o treinador tem que saber lidar com os vagabundos que tem. Se o treinador falar a mesma língua que nós, a gente vai correr por ele dentro de campo. E o Oswaldo sempre teve palavra com a gente. Chegava no túnel, no domingo, antes do jogo, o Vampeta falava assim: 'Olha, turma, não esquece, hein?' Os vagabundos, mano, corriam lá dentro. Acabava o jogo 2x0, 3x0, 1x0 e era folga. A gente falava, 'Vamos correr que o treinador vai liberar os dias de folga'. No Carnaval, então, os baianos deitavam e rolavam com o Oswaldo. Ficavam três dias na festa. Então, às vezes, o treinador tem que falar a língua dos boleiros. O nosso time deu certo com o Oswaldo por causa disso. O cara tinha essa troca. E a gente era leal com o Oswaldo também. A gente corria para o Oswaldo de Oliveira.

Por vaidade, Luxa não teria vida longa no Corinthians se não fosse à seleção

Vanderlei Luxemburgo, à época considerado, de forma unânime, melhor técnico do país, foi campeão brasileiro pelo Corinthians em 1998 antes de se dedicar exclusivamente à seleção brasileira. Na opinião de Dinei, a decisão foi boa para o técnico e para o clube, já que o ex-atacante não via futuro na relação.

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O Luxa foi um dos melhores treinadores que peguei. Se não fosse a vaidade dele, era para ele ser um dos melhores do mundo. O que matava o Vanderlei era a vaidade dele. Ele queria ser mais que o jogador.
Dinei

O ex-atleta ainda repetiu uma opinião bastante frequente entre ex-jogadores.

"O Luxemburgo foi bom para aquele time que ele montou, mas ainda bem que ele foi para a seleção brasileira. Se ele fica mais um ano, acho que ele não teria muito sucesso com aquele time porque já tinha sido campeão, e já começaram os conflitos. Em 1999, com o Oswaldo, já não teve conflito porque o Oswaldo escutava. O Vanderlei já queria ser o cara. Ainda bem que ele foi para a seleção. Porque ele montou o time, ele montou o mundo maior time da história do Corinthians, mas foi campeão, tchau. Se ele fica, acho que em 1999 a gente não teria sucesso", acredita Dinei.

Rincón 'Vera Verão' colocou Dinei para dormir no sofá

Se há alguma dúvida que o esquadrão do final dos anos 1990 e início dos anos 2000 é o maior time da história (para alguns maloqueiros e sofredores veteranos, o time liderado por Luizinho nos anos 1950 é hors-concours), não há dúvida que o timaço de Rincón, Marcelinho, Vampeta, Edílson e grande elenco é o mais polêmico e briguento que já defendeu o Alvinegro.

Dinei, às gargalhadas, conta como deixou o sério capitão Rincón fora de si.

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"O Rincón era terrível. Uma vez veio o repórter da Globo e eu fui falando para ele o apelido de cada jogador. Aí fui falando, um por um, e falei: 'Rincón Vera Verão'", brincou Dinei, em alusão à personagem interpretada por Jorge Lafond.

Falei, se chama o Rincón de Vera Verão ele quer guerra. E eu concentrava com o Rincón. Aí ele falou: 'Eu quero saber quem é o vagabundo que falou essas brincadeiras, que eu não gosto dessas brincadeiras, eu sou profissional. Vera Verdão é o c*****o, eu vou matar esse filha da p**a'. E nós éramos muito irmãos. Eu falei, 'E se eu falar que fui eu?'
Dinei

Rincón, como Dinei imaginava, não levou a brincadeira na esportiva e o colocou para dormir no sofá, de castigo.

"O Rincón mandou um: 'Meu irmão, não fala mais comigo, agora a partir de hoje você vai dormir no sofá'. Eram duas camas no quarto, tinha um quarto e uma sala. Ele falou para eu pegar o colchão e eu tive que dormir no sofá. Ele ficou uma semana sem falar comigo, mano. Só porque falei que o apelido dele era Vera Verão, que ele parecia com o Lafond. Ele ficou uma semana sem falar comigo. Deus tenha o Freddy [Rincón] em um bom lugar."

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