O que é, o que é? As cores são o vermelho e o negro. As vitórias são raras, quase inexistentes. A última alegria foi há cinco anos. Se você apostou no Ibis, de Paulista, em Pernambuco, perdeu dinheiro.
A resposta correta está ao Sul, bem ao Sul, a 3.700 quilômetros, na futeboleira Montevidéu, com seus mais de 30 clubes espalhados pelas três divisões. Ali, na terceira, está o Club Alto Peru, pronto a tirar do Ibis o título de pior time do mundo.
São cinco anos sem vitórias. A última, inesquecível, foi uma goleada impressionante dia 20 de julho de 2019, um 5 a 2 contra o Artigas. Serviu para tirar um pouco do amargo da partida anterior, quando perdeu por 10 a 1 para o Huracán del Paso de la Arena.
De lá pra frente, só pra trás. O Alto Peru acumula 63 partidas sem vencer na Terceira Divisão, onde competiu em 55 das últimas 62 temporadas. Marcou 30 gols e sofreu 181.
O futebol brasileiro é bem mais rico que o uruguaio e isso se nota entre os grandes e também entre os minúsculos. O Ìbis tem o estádio Ademir Cunha, com capacidade para 10 mil pessoas. O Alto Peru não tem estádio. Nem campo.
Eles foram desapropriados nos tempos da ditadura para a construção de uma escola. Desde então, o Íbis hermano joga em campos diferentes, da prefeitura ou emprestado de outras equipes.
É importante notar que os clubes de Montevidéu, exceção a Peñarol e Nacional, com inserção nacional, possuem laços afetivos com seus bairros. Liverpool, Progresso, Racing, Defensor, Cerrito... Todos têm um lugar para chamar de seu. Todo bairro tem um clube ou dois para chamar de seu.
O Alto Peru, não. É nômade. "Sem um lar fixo, sem um estádio, torna-se desafiador manter um senso de pertencimento ao bairro, jogamos longe de nosso lugar de origem, não temos fidelização de torcedores", diz Gonzalo Scotti, centroavante de 40 anos, um dos mais veteranos.
É difícil jogar no Íbis, que paga salários em torno de R$ 1.000. Uma fortuna para os craques do Alto Peru que ganham... nada. Pagam para jogar, organizam sorteios, procuram patrocinadores, sempre esquivos. O formato do campeonato não ajuda, são dez ou 12 jogos por ano, quem irá investir?
Os jogadores servem também como captadores de novos atletas para a formação de elenco: um irmão, um cunhado, primos, amigos de trabalho. A plateia é formada por parentes, amigos e algum veterano, que já passou pelo Alto Peru.
O clube foi fundado em 1940 por Antonio Laquintana, que colaborava financeiramente até morrer. Foi substituído pelo filho, José Luiz, que dirige o clube fora e dentro de campo há 26 anos. A pobreza é imensa. "Temos o mesmo uniforme há sete anos. Se rasgar, não sei o que será", diz Scotti.
Os treinamentos são realizados três ou quatro vezes por semana em um quartel. Outros dias, vão até a praia. Quase nunca os gols são de tamanho oficial. "Seria importante pelo menos isso", sonha Scotti.
Sem campo, sem estádio, sem eleições. Mesmo assim, o Alto Peru recebeu uma oferta para se transformar em SAF. Não aceitou. "Ele é como o pai, não desiste de conseguir uma sensação de pertencimento, de ser o clube que representa alguém", afirma Scotti.
É de pensar como seria um jogo entre Íbis e Alto Peru, no Brasil. As previsões cairiam por terra. O Íbis venceria. Um verdadeiro Maracanazo às avessas.
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