'Pior momento de Neymar', diz Jamelli sobre discussão com Dorival no Santos

A discussão com o técnico Dorival Júnior, no Santos, foi o pior momento da carreira de Neymar, afirmou o ex-jogador Jamelli em entrevista ao Histórias da Bola, do Canal UOL.

Ele teve que lidar com o episódio de indisciplina do então jogador do Peixe que até hoje é lembrado: a revolta quando o treinador, hoje na seleção brasileira e na época técnico do Santos, ordenou que o atacante Marcel cobrasse um pênalti na partida contra o Atlético-GO, em setembro de 2010. O caso culminou na saída do treinador do Peixe.

Gerente de futebol do clube na época, Jamelli não poupa palavras para falar sobre a postura de Neymar no episódio. "Eu acho que foi o pior momento da carreira do Neymar. Acho que se o Neymar pudesse voltar no tempo e refazer algumas coisas, eu acho que a primeira coisa que ele voltaria era para esse dia. Foi muito mal, foi muito mal. Depois a gente se encontrou três, quatro anos depois, e eu falei: "Cara, você foi mal para caramba, não preciso te falar". Ele só concordou".

Hoje com 50 anos, Paulo Roberto Jamelli Júnior foi um jogador de futebol com muita sorte (ou muito azar, dependendo do ponto de vista). Foi revelado na melhor geração da história do São Paulo. Pelo Zaragoza, jogou contra os Galácticos do Real Madrid. Viveu seu auge no período em que a seleção brasileira conquistou dois Mundiais e um vice-campeonato.

"Eu tive sorte de jogar com esses caras, cara. Eu tive sorte de jogar com os melhores do mundo, que são referências, né? Falar assim: "Pô, você jogou contra o Ronaldo Fenômeno? Joguei, você jogou contra, sei lá, o Roberto Carlos, joguei. Você jogou contra o Rivaldo, joguei contra Figo, contra esses caras que eram demais", relembrou o agora ex-jogador ao quadro Histórias da Bola, do YouTube e do Canal UOL. A sorte (ou o azar) seguiu Jamelli quando ele decidiu pendurar as chuteiras e virar dirigente.

Em 2010, aceitou o convite de Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, presidente da época, para se tornar gerente de futebol do Santos. Se tornou o principal responsável pela gestão do grupo em que despontou o melhor jogador do futebol brasileiro nas últimas duas décadas: Neymar.

"Era uma molecada que tinha energia. Ganhando bem, famoso, aparecendo na TV, sendo paparicado, mulherada, festa. O assessor de imprensa ligava para mim, falava assim: 'Olha, o Jô Soares convidou a gente para ir ao programa do Jô. Tá bom, que dia? Tal dia? Mas isso aí tem jogo no dia seguinte não dá para ir. Ah, mas aí não dá para sair da concentração'. Chegava no Dorival. Dorival, cara, a gente dava. Não, não, eles não são atores, eles são jogadores. Daí na outra semana ia o Neymar ao Fantástico, tinha o Esporte Espetacular. Cara, todos os programas de TV que faziam sucesso tinham que ter um jogador do Santos".

'Porrada' em Zidane para aparecer na TV brasileira

Como jogador, Paulo Jamelli vestiu a camisa de alguns dos principais clubes do Brasil, como São Paulo, Santos e Corinthians. O meia-atacante teve passagens por clubes do futebol internacional, se tornando ídolo do Zaragoza, da Espanha.

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Jamelli vestiu a camisa do time espanhol entre 1998 e 2003. Teve que encarar alguns dos maiores times da história recente do futebol mundial, como os Galácticos do Real Madrid.

Ele contou uma brincadeira que fez com o seu pai antes de um duelo entre as equipes pelo Campeonato Espanhol. "Quando jogava Real Madrid e Zaragoza aparecia na televisão no Brasil, né? E daí eu ligava para o meu pai, ligava para meus amigos, ligava para o meu irmão e falava: 'Ó, vê o jogo aí que nós vamos jogar com o Real Madrid. Vou dar uma porrada no Zidane para tomar o cartão amarelo para eu aparecer na TV'. Porque, se não fizer isso, eu só vou correr atrás dos caras, né?".

Mas Jamelli falhou na missão - e tem uma justificativa para isso. "O cara que mais me impressionou jogar contra era o Zidane. Cara, ele não dominava uma bola parado. Ele sempre dominava com uma perna e tocava. Eu queria chegar nele para dar uma falta e não dava tempo, cara. E daí acabou o jogo, meu pai ligou e me falou: 'Você falou que ia dar uma porrada no Zidane e tal, você nem achou o cara, meu. Nem amarelo você tomou'".

Ídolo e nome de sanduíche em Zaragoza

Jamelli jogou 125 partidas com a camisa do Zaragoza e marcou 28 gols. Conquistou a Copa do Rei em 2001 e se tornou um ídolo local, com direito até a dar nome de lanche em um restaurante da cidade.

"Tem uma lanchonete lá que tem um restaurante com o nome dos jogadores. Daí tem um lanche de calabresa lá que é Paulo Jamelli. Algum cara da lanchonete de lá veio para o Brasil e depois falou: 'No Brasil eu comi um lanche de vinagrete muito bom'. Nem existe molho de vinagrete lá, mas os caras fizeram um com calabresa e deram o nome de Jamelli."

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O ex-jogador brasileiro admite que é mais reconhecido em Zaragoza do que quando anda por São Paulo, mesmo tendo jogado em três dos principais clubes do Estado. Jamelli tem até música própria, lembrada pela torcida espanhola até hoje.

"Eu até me arrepio, cara, de falar. Eu fui ver um jogo, estava lá em Zaragoza faz uns cinco, seis anos. Na hora que eu entro no trem ali, né, a torcida me reconhece, os caras me reconhecem, começam a cantar minha música dentro do trem. Então, no trenzinho, maior bagunça. O cara cantando a minha música que eles cantavam lá que era assim, era a música da orquestra, né? Assim: '[canta em espanhol] Temos um, brasileiro que. Joga futebol, melhor do que o Pelé. Paulo, Paulo Jamelli'. Eu ainda brincava com os caras: 'pô, vocês estão falando que vocês têm um brasileiro joga mais que o Pelé, cara, é muita, é muita responsabilidade para mim, né?'".

Fez o único gol do Corinthians em goleada que causou demissão ao vivo na Globo

Após a passagem pelo Zaragoza, Jamelli jogou em menos de uma temporada pelo Corinthians: a de 2003. Vestiu a camisa do Timão em 20 jogos, marcando três gols no período. Ele culpa o desmanche do time por não ter conseguido êxito defendendo o clube.

"Era um timaço do Corinthians. Quando vi a proposta eu falei: 'Pô, eu vou entrar nesse time, ou jogar bem, o time é bom'. Só que eles esqueceram de me avisar que eles iam vender todo mundo, né? Cara, eles desmontaram o time".

Jamelli estava em campo na goleada sofrida contra o Juventude por 6 a 1, em Caxias do Sul, jogo que ficou marcado pelo pedido de demissão do técnico Geninho ao vivo na TV Globo. Ele, que marcou o único gol do Corinthians no jogo, contou que só entendeu o que aconteceu no vestiário.

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"O Mauro Naves fez a entrevista e a gente estava saindo do campo. Você não vai prestar atenção no que o técnico está falando. O Geninho era um cara demais, eu gosto dele demais, cara. Um cara sensacional, irmãozão. E ele fala assim: 'Não dá mais para mim, eu não sou mais técnico do Corinthians, cara'. Ao vivo na Globo, depois do jogo. Daí a gente tinha que voltar para São Paulo. O campeonato continuava, né?"

Assista à íntegra do Histórias da Bola

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