Corinthians: CEO da Vai de Bet diz à polícia que desconhece intermediário

Em depoimento à Polícia Civil de São Paulo em 12 de dezembro, José André da Rocha Neto, CEO da Vai de Bet, contou versão que contraria a do Corinthians sobre a chegada do patrocínio de R$ 360 milhões ao clube.

O dono da casa de apostas disse não ter tido nenhum contato com Alex Cassundé, apontado como intermediário do negócio e investigado no inquérito.

O que disse Rocha Neto em depoimento

O UOL teve acesso à íntegra da oitiva de Rocha Neto, que afirmou não conhecer Alex Cassundé ao ver uma foto. Inclusive, ele explicou que o interesse em patrocinar o clube paulista partiu dele mesmo, sem que alguém oferecesse essa possibilidade.

No dia 25 de dezembro de 2023, José teria contatado um conhecido chamado Toninho, de Goiânia-GO, para chegar ao Corinthians. Segundo o empresário, Toninho, que é produtor musical, tem boa influência no mercado do futebol.

Na sequência, Toninho organizou uma reunião entre Rocha Neto, Augusto Melo, presidente do clube, Marcelo Mariano, diretor administrativo, e outras duas pessoas — das quais ele não se recorda o nome — no Tivoli Mofarrej São Paulo Hotel. O CEO afirmou não se lembrar exatamente da data da reunião, que aconteceu um ou dois dias depois do contato com Toninho. Ainda de acordo com José André, ele conheceu Toninho pessoalmente naquela ocasião.

Durante a conversa, foi a própria diretoria do Timão que propôs o patrocínio de três anos por R$ 360 milhões. José André alega ter pedido algumas horas para pensar, mas optou por fechar o negócio verbalmente no mesmo dia.

No entanto, de acordo com Rocha Neto, a intermediação do patrocínio ficou a cargo do Corinthians, sem que ele se envolvesse nos detalhes. Ele argumenta que o valor total do contrato já estava acordado.

Nas minutas iniciais, constava o espaço para acrescentar os dados de um intermediário, que não estava preenchido. José André diz não ter acompanhado todo o processo, pois a intermediação não o afetava diretamente. Posteriormente, o contrato foi formalizado, com a participação dos departamentos jurídicos da Vai de Bet e do clube.

Presente na oitiva online com Rocha Neto, Daniel Sitônio, advogado da Vai de Bet, chegou a questionar na minuta se realmente haveria um intermediário na negociação. O UOL teve acesso à troca de e-mails e constatou que Cassundé só foi acrescentado ao documento na quarta versão. O fato é considerado pelos investigadores como "mais um indício" da inexistência do serviço prestado por Alex.

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Trecho da minuta entre Vai de Bet e Corinthians, com questionamento do advogado da casa de apostas, Daniel Sitônio
Trecho da minuta entre Vai de Bet e Corinthians, com questionamento do advogado da casa de apostas, Daniel Sitônio Imagem: Reprodução

Por fim, as partes assinaram contrato e confirmaram o anúncio do patrocínio em 7 de janeiro de 2024. Rocha Neto não compareceu ao evento pois estava de férias em Orlando, nos EUA, tendo designado André Murilo, diretor financeiro, para representá-lo.

Alex Cassundé contou outra versão

Em seu depoimento, em junho de 2024, Cassundé afirmou ter encontrado a Vai de Bet por meio do ChatGPT, um sistema baseado em inteligência artificial. A pergunta usada pelo empresário à plataforma de IA foi: "Dicas de como encontrar empresas de bet (aposta)".

Depois disso, ele entrou em contato com uma pessoa chamada André, da casa de apostas, que afirmou só tratar do patrocínio diretamente com a diretoria corintiana.

Alex Cassundé, empresário que constava como intermediário em contrato do Corinthians com a Vai de Bet
Alex Cassundé, empresário que constava como intermediário em contrato do Corinthians com a Vai de Bet Imagem: Reprodução/Facebook

A partir daí, ele acionou Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing do Corinthians), que o orientou a procurar Marcelo Mariano (diretor administrativo) antes das negociações do clube com a empresa de apostas esportivas.

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Ainda segundo sua versão, Cassundé encaminhou o contato da pessoa responsável da Vai de Bet a Mariano. Na sequência, a diretoria do Corinthians tocou a negociação e fechou o vínculo sem a presença de Alex.

Em janeiro, houve um convite a Cassundé para constar como "intermediador" do contrato e receber 7% da transação, cerca de R$ 25 milhões, por meio da empresa Rede Social Media Design Ltda.

Qual é a versão do Corinthians?

A versão do Corinthians também diverge da contada por Rocha Neto e vai de encontro ao que disse Alex Cassundé às autoridades. Em nota oficial, divulgada em maio do ano passado, o clube informou que "a atuação da empresa intermediária está documentada e evidenciada no contrato celebrado entre as partes, com remuneração que obedece exatamente as mesmas práticas executadas por outros clubes de futebol do Brasil".

Um mês depois de alinhar discursos com o Timão, a Vai de Bet rompeu contrato com o clube ao acionar a cláusula anticorrupção. A decisão foi motivada após a investigação de um repasse de pouco mais de R$ 1 milhão que o intermediário do negócio fez a uma empresa fantasma (Neoway Soluções Integradas). A Neoway Soluções foi aberta em nome de uma "laranja" chamada Edna Oliveira.

Procurado novamente pela reportagem, o Corinthians mantém a posição de que Alex Cassundé intermediou o negócio. Porém, o clube não irá comentar o depoimento de Rocha Neto.

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Leia a nota do clube divulgada em maio de 2024 na íntegra

Sobre o contrato de patrocínio com a VaideBet, o Sport Club Corinthians Paulista esclarece que desde sempre, assim como é de prática habitual do mercado, houve a atuação de uma empresa interveniente, cuja responsabilidade foi de captação e intermediação da negociação entre a marca e o clube e sem a qual não teria sido possível celebrar o maior acordo de patrocínio da história do futebol brasileiro. A atuação da empresa intermediária está documentada e evidenciada no contrato celebrado entre as partes, com remuneração que obedece exatamente as mesmas práticas executadas por outros clubes de futebol do Brasil.

A Diretoria lamenta que se tente fomentar suspeições que não refletem a verdade dos fatos e que são alimentadas por quem já participou da gestão do clube e conhece integralmente as práticas de mercado sob as quais contratos de patrocínio são captados e firmados. Queremos acreditar que tal postura não esteja influenciada por uma agenda de interesses pessoais e políticos.

O Corinthians pede respeito à marca e ao grupo empresarial que confiou na grandeza do clube para aqui aportar o maior patrocínio da história do futebol e espera que a comunidade corinthiana não se permita ser influenciada por quem não quer o verdadeiro bem do clube. Desde janeiro deste ano, a VaideBet tem sido parceira do clube não só com o cumprimento exato e preciso dos pagamentos previstos em contrato, mas também com a perspectiva de ajudar cada vez mais a reconstruir o Corinthians.

Quanto às propriedades de mídia na Neo Química Arena em dias de jogos, o Corinthians esclarece que a marca, na condição de patrocinadora master e assim como qualquer parceiro do clube, possui cota de exposição pré-acordada que é entregue aos patrocinadores.

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