CBF estreita laços com o poder em Brasília e vai além do jogo da seleção

A seleção brasileira se reúne hoje em Brasília para usar o estádio Mané Garrincha pela segunda vez nos últimos três jogos como mandante nas Eliminatórias da Copa.

Mais do que argumentos técnicos que envolvem a escolha dos locais dos jogos pelas Eliminatórias, levar a seleção à capital federal é mais uma ocasião para a CBF reforçar a presença no ambiente do poder.

O movimento é intencional. Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues disse ao UOL que quer descentralizar mais a entidade — não se limitando a Rio ou São Paulo.

E como "descentralizar" ele se refere a aumentar a presença na capital e também ter nos quadros da entidade pessoas com trânsito por lá.

Na véspera do jogo anterior em Brasília (a vitória por 4 a 0 sobre o Peru, em outubro), a CBF reuniu figuras políticas, do ambiente jurídico e do futebol em um lounge do Mané Garrincha. Uma amostra pequena do que partidas desse quilate conseguem mobilizar na cidade.

Antes, até o presidente Lula chegou a visitar um treino da seleção feminina, antes da Copa do Mundo de 2023.

A CBF tem alguns objetivos a médio e longo prazo com o ambiente de Brasília:

A preparação final para a Copa do Mundo Feminina 2027, o que demanda boa relação com o governo federal e a tramitação no Congresso da Lei Geral da Copa.

Evitar novas "surpresas" jurídicas que possam desestabilizar a presença de Ednaldo Rodrigues no poder.

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Manter a boa relação com o governo do Distrito Federal. O governador Ibaneis é fã de futebol, tem filho no STJD e sempre se mostra disposto a receber a seleção no Mané Garrincha (hoje administrado pela iniciativa privada).

Parceria de negócios com o Metrópoles Sports, do ex-senador Luiz Estevão, que atualmente tem os direitos de organizar a Supercopa do Brasil.

Daniel Vasconcelos, presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, governador do DF, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Luís Otávio Teixeira Veríssimo, presidente do STJD
Daniel Vasconcelos, presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, governador do DF, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Luís Otávio Teixeira Veríssimo, presidente do STJD Imagem: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Para o trabalho de articulação, a CBF montou uma sede fixa na capital federal, assim como nos tempos de Ricardo Teixeira.

O modelo atual é uma casa em uma área nobre, o Lago Sul, cercada por escritórios de advocacia.

A inauguração da casa da CBF foi em junho do ano passado, em um evento para incentivar a Copa Feminina. Na semana seguinte, a entidade recebeu representantes da bancada feminina no Congresso.

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Outro evento que marcou o local foi a festa pela eleição de Luís Otávio Veríssimo como novo presidente do STJD. Ele é de Brasília, assim como o antecessor, José Perdiz, e foi secretário da mesa da Câmara dos Deputados na gestão Arthur Lira (PP-AL).

Ednaldo, já neste ano, foi anfitrião de um grupo de deputados, encabeçado pelo novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O paraibano é amigo da presidente da Federação Paraibana, Michele Ramalho.

Quem está mais próximo de circula pela casa da CBF é Gustavo Dias Henrique, diretor de relações institucionais da entidade. Ele é de Brasília e mora lá.

Gustavo exerceu cargos concedidos pelo governo do DF, como a diretoria de habitação e regularização fundiária da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap). Posteriormente, foi indicado para a presidência da Biotic S.A, subsidiária da Terracap que gere o Parque Tecnológico de Brasília.

Em fevereiro, o diretor da CBF recebeu o secretário de Esportes do DF, Renato Junqueira, para tratar do jogo da seleção.

Outro integrante do alto escalão da CBF que se conecta bem com Brasília é Helder Melillo. Até novembro passado, o atual diretor executivo era secretário-executivo do Ministério das Cidades, pasta encabeçada por Jader Barbalho Filho — de família tradicional na política do Pará.

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Um parêntesis: a CBF também se aproximou dos paraenses nos últimos tempos. Incluiu o Mangueirão como candidato a sede da Copa Feminina e levou a Supercopa do Brasil para lá neste ano.

Mas voltando a Helder Melillo, que é servidor público de carreira, ele já tinha sido o número 2 do Ministério de Desenvolvimento Regional no governo Bolsonaro.

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Helder Melillo, diretor executivo da entidade
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Helder Melillo, diretor executivo da entidade Imagem: Rafael Ribeiro/CBF

Por que mais o jogo foi para lá?

No aspecto técnico e de agenda, a CBF entendeu que o Mané Garrincha seria um bom destino porque não estaria envolvido em grandes finais de Estaduais.

Assim, seria possível preservar o gramado do estádio para receber o jogo contra a Colômbia e os treinos até segunda-feira, quando a delegação viaja para enfrentar a Argentina.

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O presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos, ainda apontou a colaboração com a administração pública local.

"A escolha de Brasília é uma questão de ser a capital do país. Há a facilidade para ajustar logística e o fato de que o próprio governo do DF deu garantias para o jogo. A rede hoteleira é boa, sai do estádio para o aeroporto em 10 minutos. E um estádio para 70 mil pessoas. Eu acho que é nessa linha. Não vejo nada necessariamente por interferência de A ou B, ou interferência política", disse o dirigente ao UOL.

Os ministros do STF Flávio Dino, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes no Mané Garrincha para o jogo do Brasil contra o Peru
Os ministros do STF Flávio Dino, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes no Mané Garrincha para o jogo do Brasil contra o Peru Imagem: Wilton Junior/Ag. Estado

O fator Gilmar Mendes

Brasília foi o principal palco estratégico para a sobrevivência de Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF. Uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) o sustentou da virada de 2024 até o início deste ano.

A liminar foi do ministro Gilmar Mendes, derrubando uma decisão da Justiça do Rio.

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Gilmar serve como um dos fios condutores da CBF até Brasília. O instituto fundado por ele - o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) - tem contrato com a entidade para gerir a CBF Academy, braço educacional da entidade. O diretor do IDP é Francisco Mendes, filho do ministro do STF.

Gilmar Mendes é relator do processo no STF a respeito da CBF
Gilmar Mendes é relator do processo no STF a respeito da CBF Imagem: Antonio Augusto/STF

O caso no Supremo sobre a CBF terminou com um acordo entre Ednaldo e opositores. Eles inicialmente questionavam a validade do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado junto ao Ministério Público do Rio (MP-RJ) que serviu como alicerce para a eleição que levou o dirigente ao poder - não mais como interino.

Ednaldo entende que depois desse problema, é hora de "estabelecer relações".

Professores e ex-alunos do IDP passaram a aparecer com frequência nos eventos e em cargos que orbitam a instância máxima do futebol brasileiro.

A comissão eleitoral independente que fiscalizará a eleição da CBF, no dia 24 de março, tem Fabrício Juliano Mendes Medeiros. Ele é professor do IDP. Um outro membro é Rodrigo da Silva Pedreira, pós-graduado na instituição.

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Quem também se formou no IDP? O presidente atual do STJD, Luís Otávio Veríssimo, indicado formalmente ao Pleno pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).

O tribunal, inclusive, reúne sobrenomes conhecidos. Pedro Gonet (filho do procurador-geral da República, Paulo Gonet), e Caio Barros (filho do governador do DF, Ibaneis Rocha) são membros de comissões disciplinares do STJD.

Tudo isso converge para o Brasil x Colômbia de quinta-feira.

E mais: ao fim deste mês, a CBF espera da Fifa a lista final das sedes da Copa do Mundo Feminina. É impensável que Brasília não esteja nela.

5 comentários

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Joao Marcos Rodrigues de Souza

Agora ferrou de vez... Já misturaram política e religião, agora vão misturar política e futebol também?? O STF quem vai decidir os resultados dos jogos...

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Marcos Pacifico da Silva

Fora do Brasil nunca vamos ser nada. Dentro do Brasil vamos assistir campeonatos medíocres, altos preços de ingresso, brigas generalizadas e bagunças diversas. Então, eles entendem que melhor é ter essa porcaria mesmo.

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Gustavo Marengo de Carvalho

Principal Lamber o s@c0 de quem r 0 u b @ nosso dinheiro

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