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Autismo e Corinthians: amigos fundaram projeto e viram outro lado de Cássio

Cássio e demais jogadores do Corinthians aplaudem a torcida no último jogo da temporada de 2022 - Alan Morici/AGIF
Cássio e demais jogadores do Corinthians aplaudem a torcida no último jogo da temporada de 2022 Imagem: Alan Morici/AGIF

redacao@gazetaesportiva.com (Redação)

23/11/2022 07h00

Dois colegas de trabalho descobriram, tardiamente, que possuíam o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Libertando-se de anos de culpa por não se encaixarem no mundo neurotípico, ou, pejorativamente, "normal" da sociedade, decidiram fundar um projeto para conscientizar a população, principalmente dentro dos estádios, sobre o assunto.

Mas o que fazer para chamar a atenção?

Além da amizade e do autismo, outro ponto em comum uniu Juliana Prado e Rafael Lopes: a paixão pelo Corinthians. Com isso, eles fundaram, em abril deste ano, o "Autistas Alvinegros", presente em todos os jogos do clube na Neo Química Arena desde então.

"Eu e o Rafael tivemos diagnóstico tardio de autismo, ele com 33 e eu com 28. E a gente queria unir isso com o Corinthians, pois somos dois torcedores malucos", iniciou Juliana.

"Quem teve a ideia inicial foi o Rafa. Aliás, depois de ele confirmar que tinha autismo, me mostrou que eu também poderia me encaixar. E me encaixei mesmo, me senti livre, foi realmente uma libertação, porque antes eu não me conhecia e me culpava por ter alguns jeitos, me sentia estranha", complementou.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o autismo "é um conjunto de condições caracterizadas por algum grau de dificuldade no convívio social, na comunicação verbal e não verbal e interesses específicos por algumas atividades realizadas de forma repetitiva".

Não há só um, mas vários subtipos de autismo e, por isso, é utilizado o termo "espectro". No caso de Juliana, seu tipo é leve, de grau um, enquanto o de Rafael é considerado de leve para moderado. Seus principais traços são dificuldade de interação social, introversão e dificuldade de contato visual.

"Eu nunca tinha ido a um jogo do Corinthians, porque não me sentia segura. Para o autista, o novo assusta demais. Acabei reprimindo esse sonho de acompanhar o Corinthians por medo e insegurança. Eu não tinha com quem ir, mas o Rafa sempre foi, mesmo antes do diagnóstico, então começamos a ir juntos".

Juliana (terceira da esquerda para a direita) e a turma do Autistas Alvinegros na Arena - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Juliana (terceira da esquerda para a direita) e a turma do Autistas Alvinegros na Arena
Imagem: Arquivo Pessoal

Mesmo com um espaço dentro da Arena próprio para autistas, a faixa "Autistas Alvinegros" está estrategicamente posicionada em frente às câmeras de transmissão, na arquibancada "normal", com a finalidade de chamar mais atenção e dar mais visibilidade à causa.

Foi em um jogo do Timão em casa que Cássio viu o pessoal do projeto e entrou em contato pelas redes sociais, pedindo uma camiseta e revelando que sua filha, Maria, tem autismo.

"É uma deficiência invisível, sofremos muito, e nas meninas é ainda mais difícil o diagnóstico, porque confundem com timidez. Minha mãe mesmo, quando eu era criança, falava que eu era antissocial. A faixa foi para chamar atenção e chamou. Logo no primeiro jogo, muitas pessoas nos procuraram. O Cássio, depois, nos mandou uma mensagem pelo Instagram", falou.

"Além de ir aos jogos e tentar conscientizar cada vez mais as pessoas, temos também dois grupos no WhatsApp, que acolhe o autista, mas também o familiar, pai e mãe, que batalham diariamente, porque não é fácil. Ele (Cássio) ajudou muito na questão da visibilidade. É o que eu falo: ele é gigante dentro e fora dos gramados".

Troféu Mesa Redonda

No último domingo, Cássio foi premiado com o Troféu Mesa Redonda, da TV Gazeta, como melhor goleiro. Os padrinhos, aqueles que entregaram o prêmio em suas mãos, foram justamente Juliana e Rafael.

"Eu senti que ele ficou bem feliz e surpreso com a nossa presença. Como fã, acompanhei a trajetória toda dele no clube, é um ídolo, foi algo muito mágico. O tamanho da importância que tem ele abraçar o nosso movimento, uma pessoa de muita visibilidade... Só pelo fato de ele falar sobre a filha dele, não me lembro de outros jogadores que tenham feito isso, foi importante e corajoso ele abraçar a nossa causa", disse a assistente administrativa.

No próximo ano, a ideia é expandir cada vez mais o projeto para ajudar o maior número de pessoas, seja com mais conhecimento, tratamento médico ou medicação. No momento, eles estão à procura de patrocinadores para ajudar as instituições nas quais eles se espelham.

"O Cássio falou para a gente marcar encontros em 2023 para ele tentar ajudar de outras formas também", revelou.

TEA na Arena

Se você tem ou conhece alguém que possui autismo, na Neo Química Arena há um espaço destinado para que esse público se sinta mais à vontade.

É uma área preparada com isolamento acústico, além de disponibilizar fones auriculares e outros materiais para interação de crianças com TEA. Para saber mais ou para comprar ingressos no setor, basta enviar um e-mail para tea@sccorinthians.com.br.

"Depois do 'Autistas Alvinegros', esse espaço passou a ser mais frequentado, pois muitos não tinham conhecimento do setor. A ideia é divulgar cada vez mais o autismo e conscientizar a população", finalizou Juliana Prado.

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