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Vini Jr: Governos de Brasil e Espanha cobram urgência em ações antirracismo

Vinicius Junior, atacante do Real Madrid, durante o jogo contra o Valencia, no Mestalla - Mateo Villalba/Getty
Vinicius Junior, atacante do Real Madrid, durante o jogo contra o Valencia, no Mestalla Imagem: Mateo Villalba/Getty

redacao@gazetaesportiva.com (Redação)

23/05/2023 12h35

Os governos do Brasil e da Espanha emitiram, nesta terça-feira, uma nota conjunta para condenar os ataques racistas contra o atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid, no último domingo. No comunicado, também é cobrada mais urgência nas ações das instituições.

Os Ministérios da Igualdade Racial da República Federativa do Brasil e do Reino da Espanha iniciou condenando episódios como este que aconteceu na derrota do Real Madrid para o Valencia. Depois, prosseguiu prestando solidariedade a Vini Jr. e fechou o pronunciamento pedindo "proteção e reparação das vítimas desses crimes".

"Declaramos solidariedade incondicional a Vini Jr., o jogador agredido, bem como a todos os atletas, profissionais ou não, que vivenciam diariamente a violência racista no esporte. O esporte deve ser um reflexo dos valores de igualdade, respeito e diversidade que norteiam nossas sociedades e nele não há lugar para quem propaga mensagens de ódio, racismo, perseguição e intolerância", declara a nota.

"Insiste a obrigação de todas as instituições competentes responderem com a maior diligência para agir contra este e todos os casos que ocorrem no campo desportivo e que não podem ficar impunes, garantindo o acompanhamento, proteção e reparação das vítimas desses crimes", continuou.

Vinícius Júnior foi vítima de insultos racistas no último domingo, na derrota de 1 a 0 do Real Madrid para o Valencia, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol. Aos 25 minutos da etapa final, torcedores presentes no Mestalla entoaram cantos racistas direcionados ao atacante. O jogador identificou um dos torcedores que o ofendeu e precisou ser segurado pelos companheiros.

Já nos acréscimos, Vini Jr. foi expulso. O atacante se envolveu em uma confusão com jogadores do time rival. Ele recebeu o cartão vermelho por atingir Hugo Duro, com o braço. A reação se deu após o brasileiro ser segurado pelo pescoço pelo mesmo jogador durante a discussão.

Após o término do confronto, La Liga prometeu que vai investigar o ocorrido e, para isso, solicitou "todas as imagens disponíveis para investigar o ocorrido".

Nesta terça-feira, a polícia espanhola anunciou que três jovens suspeitos de proferir insultos racistas contra Vinícius Júnior foram detidos em Valência. Ainda nesta manhã, também foram detidas outras quatro pessoas como parte da investigação sobre o boneco com o uniforme do atacante brasileiro pendurado em uma ponte no fim de janeiro.

Confira a nota emitida pelos governos de Brasil e Espanha na íntegra:

Devido a um ataque racista cometido recentemente no âmbito da Liga Espanhola de Futebol contra um jogador de origem brasileira, o Ministério da Igualdade Racial da República Federativa do Brasil e o Ministério da Igualdade do Reino da Espanha declaram, por meio desta comunicação conjunta:

Em primeiro lugar, sua mais contundente e absoluta condenação ao racismo no esporte e à violência que ele gera, que constitui uma grave violação dos direitos humanos e perpetua a desigualdade e a discriminação em todos os âmbitos da sociedade. Atitudes racistas, sexistas e fascistas dentro e fora dos campos de futebol são intoleráveis em uma democracia.

Em segundo lugar, declaramos solidariedade incondicional a Vini Jr., o jogador agredido, bem como a todos os atletas, profissionais ou não, que vivenciam diariamente a violência racista no esporte. O esporte deve ser um reflexo dos valores de igualdade, respeito e diversidade que norteiam nossas sociedades e nele não há lugar para quem propaga mensagens de ódio, racismo, perseguição e intolerância.

Em terceiro lugar, insiste a obrigação de todas as instituições competentes responderem com a maior diligência para agir contra este e todos os casos que ocorrem no campo desportivo e que não podem ficar impunes, garantindo o acompanhamento, proteção e reparação das vítimas desses crimes.

Os Estados signatários desta comunicação valorizam a recente assinatura compartilhada entre os dois governos de um Memorando de Entendimento para a promoção da igualdade racial e o combate ao racismo, discriminação racial e outras formas de intolerância correlatas. O referido memorando incentiva a cooperação e o progresso na área da igualdade, para compartilhar conhecimentos e boas práticas e ampliar o acesso para africanos, afrodescendentes, negros, ciganos e migrantes, entre outras populações e grupos étnicos que sofrem discriminação racial com mais frequência, a políticas públicas que promovam a equidade, a dignidade e o bem-estar dessas populações.

O Ministério da Igualdade da Espanha, no âmbito do referido Memorando de Entendimento, compromete-se a promovê-lo no exercício das competências que lhe correspondem para a proposta, promoção e desenvolvimento da aplicação transversal do princípio da igualdade de tratamento e a eliminação de todo tipo de discriminação de pessoas por motivos de origem racial ou étnica. Cabe lembrar que, no âmbito do referido acordo, estabelece-se como prioridade, justamente, que os Estados prestem atenção especial ao combate ao racismo nas atividades esportivas.

O referido acordo baseia-se no fato de que o racismo é estrutural em nossas sociedades e que eventos como o ocorrido em Valência não são eventos isolados, mas estão profundamente enraizados na sociedade. Para avançar em sua erradicação, os Estados devem primeiro reconhecer e proteger os direitos daqueles que a sofrem, a fim de implantar políticas públicas eficazes que enfrentem enfaticamente o racismo e a discriminação racial, reduzam os níveis de vulnerabilidade e violência e protejam os povos tradicionais e as comunidades migrantes. Da mesma forma, e a fim de informar todas as possíveis vítimas de racismo no esporte, bem como em qualquer outro campo, a Espanha informa sobre a existência do Serviço de Assistência e Orientação a Vítimas de Discriminação Racial ou Étnica do Conselho para a Eliminação de Discriminação Racial ou Discriminação Étnica (CEDRE), dependente do Ministério da Igualdade, que oferece assistência jurídica e aconselhamento às vítimas de discriminação por raça ou origem étnica por meio de atendimento telefônico (021) e presencial em 23 escritórios em todo o estado.

No caso espanhol, a futura Lei do Racismo configura-se como o horizonte para articular e materializar esta agenda de forma integral. No caso brasileiro, os ministérios da Igualdade Racial, do Esporte e da Justiça estão trabalhando juntos para desenvolver um programa nacional de combate ao racismo no esporte, reforçando o compromisso do governo brasileiro como um todo.

Os Estados signatários, por meio desta Comunicação Conjunta, insistem nesse compromisso compartilhado antirracista e feminista e na importância de realizar ações concretas e efetivas para promover a igualdade e o combate ao racismo como pilares essenciais para o desenvolvimento de ambos os países.