Mobilizações nas ruas do Chile impactam futebol e unem rivais
O apelo por dias melhores para a população do Chile ganhou a forte adesão de pessoas ligadas ao futebol. Enquanto a onda de manifestações tomava conta do país andino, jogadores deixavam de lado a rivalidade das quatro linhas para externar seus desejos de que os chilenos tenham acesso a mais qualidade de saúde, educação e de condições de vida.
"É uma iniciativa que me parece muito importante, em especial dos jogadores que são mais conhecidos. Eles têm de manifestar suas opiniões mas, claro, cientes de suas responsabilidades. Em nenhum momento, a declaração deles pode dar margem para incitar a violência. Digo aos jogadores do meu time que nosso objetivo é colaborar sempre com a paz", afirmou Juan Tagle Quiroz, mandatário da Universidad Católica, à Lancepress.
Os Cruzados protagonizaram um momento comovente neste período caótico no país: assinaram uma nota em conjunto com Colo Colo e Universidad de Chile pedindo "diálogo pacífico".
Chilenos que atuam no país e no mundo se comoveram com o que ocorre nas ruas. Jogadores de "La Roja", Claudio Bravo e Gary Medel se manifestaram nas redes sociais exigindo boas notícias e mudanças sociais. O lateral Beausejour soltou o verbo.
"O Chile era visto na América do Sul como automóvel de primeira. Mas, no primeiro choque, não se sabe como vai terminar", disse ele, à Rádio ADN.
No Campeonato Mexicano, Nicolás Castillo e Jean Meneses estamparam a bandeira chilena ao celebrarem em campo. Outros jogadores se sensibilizaram com o fato de 1,2 milhão de chilenos irem às ruas em Santiago.
Impacto no campeonato local
As manifestações no Chile, que tiveram estopim após o aumento de 30 pesos chilenos (por volta de 20 centavos de real) no preço do metrô, afetaram o futebol. A princípio, duas rodadas do Campeonato Chileno tinham sido adiadas, além de jogos da Primera B (Segunda Divisão) e Segunda Divisão (Terceirona) também não tiveram rodada.
Porém, no fim da noite de ontem, a Federação Nacional de Futebol do Chile (ANFP) tomou novas medidas. As partidas entre 31 de outubro e 4 de novembro não serão realizadas.
Por mais que o presidente da Universidad Católica admita que há percalços no calendário, a sensação entre os clubes é de que a batalha agora é em outra área.
"A suspensão nos causa problemas. Mas entendemos que a prioridade é a paz, que o governo atenda às demandas e cheguem as mudanças pedidas", disse Juan Tagle Quiroz.
União em prol do país
A preocupação com os rumos dos protestos do Chile fez três clubes deixarem a rivalidade de lado em nome do país. Colo Colo, Universidad Católica e Universidad de Chile assinaram uma nota em conjunto pedindo que a paz imperasse nas manifestações nas ruas.
"Colo Colo, Universidad Católica e Universidad de Chile deixam de lado suas rivalidades desportivas para fazer um chamado a todos os chilenos para buscar o espaço do diálogo pacífico e da manifestação responsável de suas legítimas demandas. Isto nos permitirá fazer frente à dívida social que enfrenta nossa sociedade e, assim, construir um melhor país para todos, respeitando os direitos de todos os cidadãos".
O Presidente do Universidad Católica, Juan Tagle Quiroz detalhou como surgiu esta iniciativa. "Efetivamente, como dirigentes dos três clubes mais populares do futebol chileno, nos sentimos na obrigação de abordar este diálogo pacífico. Tínhamos de fazer frente a estas dúvidas sociais que são muito legítimas, mas sempre privilegiando o caminho da unidade, do entendimento, e sobretudo do diálogo, tratando de excluir a violência", afirmou.
Quiroz exaltou a repercussão que teve esta nota em conjunto do trio de clubes mais tradicionais do Chile.
"Creio que nosso chamado foi bem acolhido. As pessoas entenderam o quanto a gente quis deixar de lado a intolerância", declarou.
Aos olhos do mandatário, os clubes surgem como um bom exemplo também em momentos conturbados na política.
"Os clubes precisam ter muito claro seus valores integrador social. Não só de acolher crianças e jovens, de dar oportunidades. Mas também para que sejam portadores de uma unidade, na qual convivam em paz também pessoas com diferentes visões políticas" acredita ele.
Dos gramados às marchas, os protestos dos atletas
O desejo dos jogadores por mudanças políticas não ficou restrito aos desabafos em redes sociais. Meio-campista da Universidad Catolica, Ignacio Saavedra esteve em uma das marchas que tomaram as ruas de Santiago.
Uma pessoa nas redes sociais captou o jogador de 20 anos (que atuou nas seleções de base do Chile) nos primeiros dias das manifestações.
Outros atletas deixaram suas palavras de ordem por mudanças sociais no governo de Sebastián Piñera. Companheiros do Coquimbo Unido, o goleiro Matías Caño e o zagueiro Benjamin Vidal participaram de manifestações pacíficas na cidade de Coquimbo.
Nicolás Maturana, do Universidad Concepción, e Marco Medel, do Santiago Wanderers, também estiveram em protestos.
"O apelo diante da situação do Chile foi capaz de unir adversários desportivos. Por já terem vivenciado uma rotina difícil, muitos sabem das dificuldades sociais", afirmou o analista político Guillermo Holzmann, à Lancepress.
Solidariedade de outros países
A repercussão em torno da crise do Chile rompeu fronteiras. Após marcar um gol pelo Campeonato Mexicano na vitória do América sobre o Puebla, por 2 a 0, no sábado passado, Nicolás Castillo expôs uma bandeira do seu país de origem. Em entrevista na zona mista, o jogador falou sobre a atitude que teve no gramado.
"Sim, foi uma forma de demonstrar minha solidariedade para gente do Chile que está lutando por seus direitos" afirmou e, em seguida, foi categórico: "Eles se viram um pouco afetados pela maneira com o que o governo está fazendo com os os seus direitos. Por isto, segue uma mensagem de apoio. É a única forma com a qual podemos nos aproximar. Com isto, mandarmos nossa força para meus compatriotas."
Já no León, Jean Meneses estampou sua solidariedade. Ao marcar o gol da vitória sobre o San Luis por 3 a 2, ele mostrou a camisa na qual expunha a bandeira do Chile e a frase: "o Chile acorda, não estamos em guerra".
Em seu Instagram, Igor Lichnovsky, do Cruz Azul, foi um pouco mais incisivo. O defensor deixou um recado ao presidente Sebastián Piñera.
"Senhor presidente Sebastián Piñera. Sabemos que as privatizações não vêm do seu governo, mas você prometeu de A a Z. Por acaso não dá conta da oportunidade que Deus está dando? Estamos cansados de que, a cada quatro anos, tenhamos um presidente que venha e não cumpra o que necessita", desabafou.
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