Hudson não se arrepende de "rejeitar" lateral mesmo jogando pouco no SPFC
Hudson já foi o dono da braçadeira de capitão do São Paulo e iniciou a temporada com moral, tanto que teve seu contrato renovado em março, mas hoje é reserva e tem jogado pouco. O volante de 31 anos admite incômodo com a situação, mas garante que não vai desanimar e diz que não se arrepende de ter pedido a Cuca para brigar por posição no meio quando era titular na lateral direita.
"Aceitar o banco a gente não aceita. Tem que querer sempre jogar, esse é um sentimento que não sai de mim. Mas a gente tem que respeitar as opções do treinador, as preferências dele. Em nenhum momento me bateu arrependimento, não. Algumas pessoas vieram para mim e falaram que eu poderia ter tido uma atitude diferente, mas eu expliquei o meu modo de ver, que para mim seria muito mais difícil continuar minha carreira depois como um lateral improvisado ou um volante que não jogava mais de volante há muito tempo. Talvez o mercado se fechasse para mim. Eu me preparei psicologicamente. Por mais difícil que seja ficar sem jogar, a gente tem que trabalhar, tem que buscar o nosso espaço, ser honesto e consciente, porque aí as coisas voltam ao normal", disse, em entrevista ao "Lance"
Contratado pelo São Paulo em 2014, Hudson soma 197 jogos e seis gols pelo clube. Nesta temporada, entrou em campo 33 vezes e fez dois gols. No Campeonato Brasileiro, esteve em 15 dos 32 jogos do Tricolor e balançou a rede na estreia, contra o Botafogo.
Após terminar o Paulistão como dono da lateral direita, Hudson foi titular no meio de campo até a Copa América. Depois da pausa, só começou jogando duas vezes: no empate por 1 a 1 com o Palmeiras, como lateral, logo no primeiro jogo, e na derrota por 1 a 0 para o Internacional, no meio. Com Fernando Diniz, entrou em três partidas e nunca começou jogando.
"Não tem como desanimar, não. Sou muito novo para desanimar. Já vivi momentos ruins na carreira, e esse eu não considero um momento ruim. Considero um momento de aprendizado e de melhora. Desanimar, jamais. Essa palavra não faz parte do meu vocabulário."
Na entrevista, Hudson fala sobre seu futuro, sobre as recorrentes mudanças de rumo do São Paulo e sobre a importância de assegurar uma vaga direta na fase de grupos da próxima Libertadores, algo que parece cada vez mais distante - o Grêmio, último integrante do G4, tem quatro pontos a mais.
Confira todas as respostas de Hudson:
Você está no clube há bastante tempo, já foi capitão do time e hoje tem jogado muito pouco. Como encara este momento?
"A necessidade do São Paulo de ter resultados, boas campanhas, faz com que muitas vezes haja mudanças de elenco, de comissão técnica. Eu já passei por várias aqui dentro. A gente está sempre reformulando, reestruturando. Procuramos melhorar sempre para que o São Paulo volte às melhores campanhas, aos títulos. Está sendo um momento que eu não esperava muito, mas de muito trabalho para retomar a confiança, o espaço, e principalmente ajudar o São Paulo, que é o mais importante. A gente sabe que não é o ideal ficar mudando. Quanto maior for a sequência de uma comissão técnica, maior a chance de os resultados virem. São filosofias completamente diferentes. O Fernando é bem diferente do Cuca, o Cuca era bem diferente do Jardine, e a gente tem que se readaptar. Essas mudanças a gente até entende, os resultados precisam vir com urgência. Se eles não vêm, tem que mudar alguma coisa, não adianta."
Queria que você explicasse a decisão de chamar o Cuca para dizer que não gostaria de ser fixado na lateral. Na época, você era titular do time.
"Eu pensei muito para ter aquela conversa com o Cuca. Sempre me coloquei à disposição para ajudar, seja de lateral, zagueiro, meia... Já joguei aqui em várias funções, nunca tive vaidade nenhuma. A minha conversa com o Cuca foi porque já estavam me enquadrando somente como um lateral direito, eu já não era mais visto como um volante, que é a posição em que joguei por toda minha carreira. As coisas que conquistei foram como volante, fui contratado como volante, fiz um ano de 2018 como volante no São Paulo, fui campeão no Cruzeiro como volante... Foi uma experiência diferente, com 31 anos de idade, mudar minha posição. Eu sabia que poderia fazer a lateral direita, como eu fiz, mas não queria que houvesse essa troca de posição fixa. Foi essa a conversa que tive com ele. Foi bom, porque depois chegaram Juanfran e Daniel, o Igor subiu muito de produção... A gente tem que ver as coisas pelo lado bom. Por mais que eu tenha parado de jogar, acho que o São Paulo cresceu muito, pelo menos no que diz respeito à lateral direita. Há males que vêm para o bem, foi uma opção minha. Pensei muito para fazer e não me arrependo, faria de novo. Mas o Fernando sabe que estou à disposição para jogar em qualquer posição se precisar."
Você diz que "não aceita" o banco. Como é esse sentimento? Inclui pensar em mudar de clube em 2020?
"Eu acredito que não aceitar é não se acomodar, não achar que está bom. Por mais que aqui tenha jogadores de extrema qualidade eu tenho que trabalhar muito para estar sempre entre os 11, que foi o que aconteceu na maior parte da minha passagem aqui no São Paulo. É o que eu tenho que buscar sempre. Sobre o futuro a gente não sabe, ainda está cedo. Tenho mais dois anos de contrato aqui, espero cumprir, mas é claro que quanto mais jogar melhor."
Mesmo no banco, você é citado pelos outros jogadores como um líder do grupo. Você mantém a voz ativa mesmo sem jogar?
"Acaba sendo uma liderança natural, que vem com o tempo. Isso não se perde, a não ser que você seja um mau exemplo, um cara que faz muita besteira no dia a dia, que não respeita as decisões do treinador, causa confusão interna. Eu sempre respeitei muito, procurei trabalhar, ficar na minha. Essa é a imagem que os meninos têm de mim, por isso que essa liderança não se dissipou mesmo eu não jogando com frequência como jogava antes."
Você diz que não considera esse um momento ruim da carreira. Quais foram os momentos ruins?
"Quando fui emprestado pelo Santos para o Santa Cruz em 2009. Fui disputar um campeonato estadual pelo Santa Cruz e fiquei três meses sem receber. Quando voltei para o Santos, não ia ser aproveitado pelo profissional, ia ser emprestado de novo. Isso é uma situação que causa muitas dúvidas, eu tinha 20 ou 21 anos na época, era muito novo, então foi muito difícil. Uma outra foi quando tive uma passagem pelo Brasiliense e também fiquei três, quatro meses sem receber. Acabou o meu contrato e eu não sabia para onde ia. Acabei indo para o Botafogo-SP e quatro meses depois eu estava no São Paulo. A vida tem um pouco disso, às vezes você dá um passo para trás e depois dá dois para a frente. Tem que ser muito forte, não pode desistir, não. Esse aqui não é o momento ideal para mim, mas coloco o bem do São Paulo acima de qualquer coisa e vou trabalhar para melhorar muito."
Você estava aqui e sabe como ficar em quinto lugar do Brasileirão de 2018, e não em quarto, atrapalhou essa temporada. É algo que vocês conversam internamente para ainda tentarem o G4?
"A nossa programação mudou totalmente com aquele quinto lugar do ano passado, acabou nos prejudicando muito. A gente acredita que uma classificação direta vai nos dar mais tranquilidade para trabalhar, para se preparar. A pré-Libertadores começa no início de fevereiro, então você tem duas ou três semanas só para ajustar o time para a estreia. Não é fácil, então a gente tem que fazer tudo o que for possível para pegar essa vaga direta, para que possa ter um planejamento melhor para 2020."
Como você imagina os próximos anos da sua carreira?
"A gente tem que almejar sempre os títulos. É só o que eu penso, buscar títulos, ser campeão do que disputar. Só assim a gente consegue colocar nosso nome na história dos clubes e ter uma satisfação, saber que fomos felizes e cumprimos nossa missão na profissão. Falta bastante tempo ainda, sou novo, então vou ter muitas oportunidades."
Quando imagina os títulos, está vestido com a camisa do São Paulo?
"Claro, com certeza."
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