Diniz rejeita rótulo de moderno, cita "lado humano" e diz não seguir mídia
Fernando Diniz faz parte da nova geração de treinadores do futebol brasileiro, mas rejeita o rótulo de "moderno".
Na verdade, o ex-jogador de 45 anos se define quase como uma antítese disso. Ele considera muito mais importante cuidar do lado humano do jogador do que ensiná-lo a se comportar taticamente.
- Essa pseudo-modernidade que está aí eu não acho um grande avanço para o futebol. Em termos de metodologia, são quase sempre treinos muito curtos e muito intensos, enquanto eu faço treinos intensos, mas longos. Alguns dos meus treinos não têm tanta intensidade e são mais longos ainda. Muita gente trabalha só em espaço reduzido, enquanto eu uso o campo todo em muitos trabalhos. E trabalho muito nessa vertente do contato com o jogador, que acho que hoje em dia está cada vez menor. De saber como melhorar o jogador, o que acontecia muito mais no passado do que hoje. A gente ainda produz muitos bons jogadores, mas menos do que poderia. Hoje tudo se resume ao tático, à superficialidade do jogo. É linha de quatro, bloco baixo, bloco médio... As pessoas aprendem meia dúzia de termos específicos, que vão mudando conforme as publicações a respeito do futebol vão saindo, e vamos perdendo o coração do futebol. As pessoas são o coração do futebol - disse o treinador do São Paulo.
As respostas de Diniz durante os 30 minutos de conversa com a reportagem do LANCE! no CT da Barra Funda ajudam a entender a admiração dos jogadores por ele. Psicólogo formado pela Universidade São Marcos, o técnico se preocupa com a pessoa antes de se preocupar com o atleta.
- Ninguém quer saber que o jogador de futebol tem uma vida. O Helinho veio de onde? Ele tem pai? Ele tem mãe? Está no São Paulo há quanto tempo? Do que ele precisa? Para mim isso é a coisa mais importante. Não é se ele fez o gol ou se errou. Eu quero saber como consigo ajudar essa pessoa a ter mais consistência para viver. A parte tática claro que é importante, talvez eu seja o cara que mais trabalha no campo em termos de volume e intensidade, mas essa parte de saber com quem você está lidando e respeitar a pessoa que está trabalhando com você acho que é a mais importante. E aqui no Brasil, onde a gente deveria levar muito mais a sério, deixamos em segundo plano e passamos a copiar aquilo que é normativo na Europa. E quando você copia alguém dificilmente você consegue ser melhor, você é só uma cópia - opinou ele, que deixa transparecer um enorme descontentamento com a cultura da formação de jogadores no país, inclusive a que existe em Cotia, na elogiada base tricolor.
- Você aprende desde cedo que você é uma coisa, você é um produto, e as pessoas estão ali para ver você jogar bem. Você é um alguém que vai dar alegria para o outro, independentemente da sua idade. Desde os dez anos é assim que você é tratado. Então você tem que jogar bem para alegrar o outro e não interessa se você está triste. Se você joga mal, naquele momento você não é ninguém. Isso é uma coisa que as pessoas não param para pensar, é uma coisa que eu sugiro que vocês discutam mais. O cara vem do sertão da Paraíba e chega aqui com 11 ou 12 anos. Se ele joga bem é tratado de uma forma, se ele joga mal é tratado de outra forma. Ele é visto só como alguém que joga futebol. Ele não é uma pessoa, é alguém que joga futebol. Com 18 anos, vira profissional e tem que lidar com esse mundo do futebol, onde as críticas não são relativizadas em nenhum momento, é tudo absoluto. Se não corre, é preguiçoso. Se perde o gol, é ruim. Se faltou a um treino, é porque não tem responsabilidade. Mas qual foi a base para ele ter responsabilidade? O pai estava perto? A mãe estava perto? O clube se preocupou com isso? Acho isso um erro brutal, a gente vai assassinando emocionalmente as pessoas.
O elenco são-paulino fez praticamente uma campanha pública para que a diretoria não o mandasse embora ao fim de 2019, mesmo que os resultados não tenham sido os mais animadores: desde que ele substituiu Cuca, em setembro, foram sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas no Brasileirão, que acabaram sendo suficientes para a vaga direta na fase de grupos da Libertadores, em sexto lugar. Mas não tente conversar com ele sobre futebol colocando os resultados em primeiro plano.
- A avaliação externa, em determinado momento do ano passado, foi abaixo do que estava acontecendo. E agora depois de ganharmos do Água Santa provavelmente está acima daquilo que está acontecendo também. Eu não tenho lido nada, mas vejo pelo semblante das pessoas que o movimento que está sendo feito é de que foi um jogo espetacular. Foi um jogo em que a gente teve coisas boas e coisas ruins que precisam ser corrigidas - disse, citando a vitória por 2 a 0 da estreia do Paulistão-2020, com gols construídos bem ao "estilo Diniz", com toque de bola desde a defesa.
Veja abaixo a íntegra da entrevista com Fernando Diniz, que tem um desafio importante no horizonte: o duelo contra o Palmeiras, às 16h de domingo, em Araraquara:
LANCE!: Você disse no ano passado que o São Paulo é o time que mais tem sua cara depois de dois meses de trabalho. Essa declaração causou muitas críticas por ter vindo logo depois de uma derrota doída para o Grêmio, por 3 a 0. Depois da vitória contra o Água Santa, você acha que dá para enxergar melhor a sua cara nesse time?
Fernando Diniz: Isso aí serve para a gente não ficar no simplismo de um jogo. Quando eu falei, depois do jogo contra o Grêmio, que o time tinha a minha cara, era mesmo. No futebol, se não estivermos estacionados, estamos atrasados, e um dos componentes para isso é analisar pelas circunstâncias de determinados jogos. A derrota para o Grêmio foi muito doída porque a gente tomou três gols em seis minutos, mas convido todos os jornalistas a pegarem o segundo tempo até a gente tomar os três gols. A gente tinha jogado melhor, mas deixou de marcar e o Grêmio fez três gols de uma maneira quase instantânea. Na quarta a gente fez um jogo bom, mas tem que conter a euforia. É o primeiro jogo do campeonato. A equipe já tem uma base do ano passado, a vaga direta para a Libertadores deu credibilidade e confiança para os jogadores, a gente teve um tempo lá em Cotia para aprofundar o modelo de jogo e as relações entre nós, então a gente conseguiu mostrar um pouco mais desse aspecto tático. Todo mundo só gosta de discutir isso, mas para mim o jogo não se resume ao que é tático. Aquele jogo do Grêmio ajudou a gente a se fortalecer internamente para poder ganhar do Inter, tem que saber separar, não aconteceram só coisas ruins naquele dia. Eu acho que a gente tem que melhorar essas relações com o jogo de futebol. Se as nossas críticas forem com base no resultado não vamos conseguir andar para a frente. Na parte tática, de fato a gente teve alguns elementos que são características das equipes que eu dirijo, mas ano passado a gente fez coisas muito boas. Contra o Santos, por exemplo, um jogo que tinha um caráter muito mais decisivo que o de quarta-feira, uma equipe muito difícil de ser batida dentro da Vila Belmiro. Mas aí vem o jogo do Grêmio, as coisas não acontecem e se esquece o que fizemos contra o Santos, contra o Corinthians, contra o Atlético-MG. Tudo isso aconteceu em dois meses de trabalho.
Você disse que a tática não é o mais importante, embora seja o mais discutido hoje em dia. O que é o mais importante do futebol na sua visão?
As relações humanas que se estabelece em um time de futebol estão muito à frente da parte tática. Eu falo isso faz dez anos quase que rotineiramente. Tem a ver com o poder de concentração que você estabelece com os jogadores, o desejo de ganhar, a coragem para jogar, a maneira de ser solidário dentro de campo. Todos esses fatores estão acima da parte tática. A parte tática acontece quando essas relações estão mais estabelecidas. Se estiver fragilizado nisso, a parte tática sofre. O jogo de futebol, para mim, tem muito a ver com a vida. Então quando as pessoas estão analisando só a parte tática, fica difícil. Dificilmente eu me movo por aquilo que está sendo comentado, porque geralmente se comenta apenas sobre a parte tática e o resultado final da partida, e o futebol não se resume a isso.
O São Paulo está tentando recuperar alguns jogadores que não foram bem em 2019, casos de Helinho, Pato e Hernanes. Você acha que isso está até mais ligado à parte mental do que às partes física e técnica?
Isso é óbvio, mas é uma obviedade que a gente não consegue levar adiante no futebol. Ao contrário, a gente está levando adiante as outras questões. Como que o Pato, o Hernanes e o Helinho tiveram uma transformação no período de férias e em dez dias de treinamento? Não é isso. Está acontecendo porque os caras sempre foram bons, mas quando você falava no ano passado que o Helinho era bom virava chacota. A gente tem um monte de jogador que está enterrado porque foi motivo de chacota. Quando você é motivo de chacota de uma maneira muito pesada é difícil você reagir sozinho, quase ninguém consegue. Não só jogador, mas qualquer pessoa. No mundo do futebol, as pessoas ficam expostas, às vezes, com 18 ou 19 anos, como é o caso do Helinho. Em determinado momento você tem um estádio todo contra você, porque a torcida está lá para isso mesmo. Mas a gente que trabalha no meio do futebol não pode pegar um jogador de 19 anos e achar que ele vai suportar sozinho a carga emocional pesada que vem do entorno. O Helinho, o Hernanes e o Pato sempre foram bons. Quarta foi um primeiro passo, mas tem muitos passos que a gente ainda precisa dar. Temos que ser contidos e saber que ainda precisamos trabalhar muito.
As conversas individuais que você tem com os jogadores são parte desse trabalho psicológico?
Quase sempre que vocês estão aqui, me veem conversando com alguém. É minha rotina diária, vocês sabem que não sou um treinador que faz as coisas porque vai repercutir bem lá fora. O trabalho que eu desenvolvo é feito em cima de dois fatores muito importantes: fazer com que os jogadores melhorem como pessoas e como atletas e que jogador e torcedor possam entrar em sintonia. O futebol, para mim, é feito principalmente desses dois elementos (jogador e torcedor). Tem muitas outras coisas, como comissão técnica, comunicação, imprensa e diretoria, mas esses são coadjuvantes dos atores principais. A gente trabalha por eles e para eles, e às vezes as pessoas ficam trabalhando contra esses dois elementos sem perceber. Às vezes a gente faz críticas a determinado jogador porque parece que vai repercutir bem na torcida ou porque repercute bem para quem está fazendo a crítica naquele momento, mas muitas vezes não corresponde à verdade. Às vezes é uma mentira que fica sendo repetida muitas vezes e não deixa a verdade aparecer. No futebol brasileiro acho que isso acontece muito. Pegar determinadas pessoas e ficar pesando muito na crítica. Aquele cara é bom, mas o talento não aparece e fica todo mundo falando que ele é ruim, então ele vai ficar para a história como se fosse ruim. Eu vi isso a minha carreira inteira, é uma coisa que a gente tem que ter mais cuidado, principalmente as pessoas que podem fazer alguma coisa. Temos que fortalecer mais esse tipo de jogador para que ele consiga suportar viver nesse ambiente profissional que é muito hostil na maioria do tempo. Eu costumo dizer que o futebol é uma máquina de moer gente. Você tem que suportar e não se deixar ser moído pelo sistema. Não é o lugar em que a gente promove saúde e boas relações, a tendência é que não se estabeleçam boas relações humanas.
Quando você deixou o Pato e o Hernanes fora da reta final do Brasileirão do ano passado, a ideia era preservá-los das críticas e dar tempo para que se recuperasse e pudessem voltar bem em 2020?
Não penso nesse tipo de coisa, é um pensamento meio utilitarista. Eu entrego minha vida ao futebol e faço aquilo que acho mais justo e mais certo. Naquele momento achei que esse era o melhor para o Hernanes, para o Pato, para o São Paulo, para mim e todo mundo que está envolvido. Não que eu achasse que os atletas não serviam. O Hernanes é um cara identificado com a torcida, um cara que tem um talento absurdo, e a qualquer momento podia acontecer o que está acontecendo. Agora a gente tem que continuar caminhando para que isso evolua até o fim da temporada. E o Pato da mesma forma. Só que naquele momento as coisas não estavam acontecendo, e você insistir, às vezes, é expor de uma maneira errada o jogador, a instituição e o time. É certo ou errado? Você não sabe. Para mim, o certo naquele momento era fazer aquilo. Fiz pela minha cabeça e pelo meu coração. E a minha relação com os dois sempre foi muito digna e sincera, explicando e tendo os caras perto. Os dois ajudaram muito a conquistar essa vaga na Libertadores, que foi um objetivo muito importante de ter conquistado, embora a gente saiba que para o São Paulo ficar em sexto no Brasileiro nunca é bom.
Os anos sem título, obviamente, criam uma pressão imensa no clube. Como esse peso extra interfere no dia a dia de trabalho?
É um peso extra por um lado e uma baita oportunidade por outro. Estar no São Paulo é isso. Eu me sinto um felizardo de estar aqui, para mim é um prêmio por aquilo que construí em dez anos. Depois que eu cheguei, encarei como um grande desafio. Não senti essa carga, vejo muito mais como oportunidade. É uma carga que existe, o torcedor cobra, está fazendo o papel dele. Torcedor é assim mesmo, e o torcedor do São Paulo é ainda mais. É o maior ganhador do Brasil, tem três Libertadores, três Mundiais, tantos Brasileiros, tantos Paulistas. Talvez, na média, desde que o clube existe, seja o maior ganhador de títulos. É um clube acostumado a ganhar, principalmente depois da década do Raí, que hoje é nosso diretor e nos ajuda tanto. De 1991 até 2008 o São Paulo ganhou muita coisa, talvez os títulos mais importantes da história, e depois tem esse período de seca. O torcedor não está aqui no dia a dia. A gente está, e tem que fazer o melhor possível para devolver a alegria para ele e ganhar campeonato.
Você falou no início dessa conversa sobre a dificuldade dos jogadores que são motivo de chacota. Você sente que, em determinados momentos, você também é alvo disso por não ser convencional? É algo que te incomoda?
Eu leio muito pouco a imprensa e praticamente não acompanho mídia social. O que importa para mim é o que acontece internamente e o que é verdade. O que a gente precisa no mundo é ter ideias, trabalhar nas ideias e persistir nas ideias. Esse mundo superficial em que o que ganha é sempre bom e o que perde é sempre ruim não me interessa em absolutamente nada. Eu sei que isso se desfaz muito facilmente em médio e longo prazo, não tem consistência. Então não tem chacota, porque o que faz chacota hoje amanhã vai estar enaltecendo. O treinador mais enaltecido no Brasil foi motivo de grande chacota no ano passado, que é o Jorge Jesus. Eu sentiria vergonha se fosse um dos caras que fizeram chacota naquela época e agora estão elogiando muito. As pessoas esquecem, mas eu não esqueço do que falo. Para mim quem faz isso não tem opinião de nada, está passando no mundo sem saber o que está vivendo, está desperdiçando a vida, porque não se posiciona. Gosto muito daquele que se manteve firme e disse que ele era bom quando chegou. Ele não ficou bom depois que veio para cá, ele já era bom. E se alguém tem a coragem de fazer críticas pontuais também tem mais mérito para mim. A verdade não vai balançando conforme o sabor dos resultados e das paixões loucas que acontecem por causa dos resultados. Temos que ter mais lucidez para tratar o futebol e a vida das pessoas. Esse descompromisso que as pessoas que militam no futebol têm com a vida é uma coisa da qual discordo completamente.
Como se formou esse Fernando Diniz preocupado primeiro com a pessoa, sendo que você cresceu nesse mundo do futebol?
Isso tem muito a ver com a minha origem, onde cresci, quem foram meus pais. Eu sou um cara muito parecido com a média do jogador futebol no Brasil. Um cara pobre, periférico, órfão de pai aos oito anos, com uma mãe batalhadora para caramba que cuidava de oito filhos, vivendo em um lugar marginal de São Paulo, na periferia da Zona Leste. Eu cresci no futebol e com valores muito fortes, procurando fazer as coisas direito, sempre treinar muito, procurar ser justo com as coisas. Eu fui me constituindo no mundo do futebol e aprendendo pelo contrário. Na maioria do tempo as pessoas faziam aquilo que eu não gostaria que fosse feito. O jogador é tratado como uma coisa, mas antes de ser jogador ele é uma pessoa, é filho de alguém, é pai de família. Cuidar disso não é desprezar o futebol, ao contrário. Na minha modesta opinião quem cuida melhor disso cuida bem melhor do futebol e faz aquele jogador ser melhor do que é.
O São Paulo tem um trabalho de base vitorioso e elogiadíssimo. Você considera que lá os garotos são melhor cuidados como pessoas?
Vou falar primeiro em termos esportivos. O São Paulo está à frente da maioria dos clubes do Brasil, se não de todos. Um dos pilares centrais do São Paulo é ter Cotia, porque a gente sempre pode recorrer a Cotia, tem sempre ali um arsenal do qual você vai lançar mão e eles respondem muito bem. No aspecto humano, o São Paulo e os outros clubes poderiam ser claramente melhores. Isso para mim é um erro de avaliação do futebol, e o São Paulo está nesse meio. A gente tinha que olhar mais para o jogador como uma pessoa e ajudar a formá-lo. Os clubes de futebol, principalmente os grandes, poderiam assumir uma função que seria do estado, que é muito relapso quanto a isso. Se você não tem dinheiro no Brasil, você tem escola pública de péssima qualidade, segurança de péssima qualidade, saúde de péssima qualidade, tudo de péssima qualidade. Acho que os clubes poderiam ajudar na formação desses indivíduos para entregar aqueles que não forem jogadores para a sociedade de uma forma melhor.
Como começar a resolver isso? Talvez com mais profissionais da psicologia dentro dos clubes?
Na base, talvez, tanto psicólogo quanto assistente social. Tinha que ter mais, mas para trabalhar ativamente. O psicólogo e o assistente social não estão lá para fazer o clube ganhar mais títulos, estão lá para cuidar das pessoas. Cuidando das pessoas, naturalmente devem vir mais títulos, mas se as pessoas conviverem melhor com suas angústias o trabalho já estará bem realizado. A psicologia está no mundo para diminuir o sofrimento humano, não para fazer você ganhar mais campeonatos. Quando essas coisas começam a concorrer, a psicologia muitas vezes presta um desserviço. Geralmente quem está mais bem cuidado é um profissional melhor, mas isso não é o foco da psicologia, tem que ser uma consequência.
Como você vê o jovem formado na base no Brasil? Por haver uma grande preocupação com a parte tática, chegam disciplinados nesse aspecto, mas com fundamentos deficientes? E a parte mental?
Eu acho que ele vem uma pessoa pior, mas com mais conhecimento tático, daquilo que hoje é normativo. O que é linha de quatro, como faço pressão... Uma coisa que acontece muito é que a gente vai especializando jogadores. Lateral é lateral. Ponta é ponta. O cara não aprende a jogar futebol, aprende a fazer uma posição. Eu discordo, é importante você conhecer o campo todo, migrar para muitas posições, principalmente na base. Não que você vá jogar em todas as posições, mas você tem que conhecer o campo e as posições de maneira plena. A gente cria muito jogador especialista hoje. Se você tira o cara do habitat natural dele, já não consegue fazer mais, não consegue ficar à vontade.
O número de lesões do São Paulo diminuiu depois da sua chegada, mesmo com treinos mais longos. A que você atribui esse dado?
Para mim o que menos machuca jogador é ter ambiente bom de trabalho. Machucar é uma forma de adoecer. Então qualquer ambiente de trabalho mais saudável faz as pessoas adoecerem menos, as pessoas têm mais prazer em estar ali. Eu procuro criar isso, um ambiente bom, e não só entre os jogadores. Comissão técnica, todo o entorno. Quanto mais harmonioso for o clube, menor a incidência de lesões. Outra coisa é ter comunicação direta com o jogador, saber respeitar a individualidade de cada um. Se o cara não dormiu, se está sentindo alguma coisa pontual... Ter comunicação direta ajuda a prevenir alguma coisa, deixando o cara um ou dois dias no departamento médico.
O seu São Paulo está pronto para suportar as pressões e sair da fila? E aonde o técnico Fernando Diniz, ou a pessoa Fernando Diniz, quer chegar?
O nosso São Paulo, porque não tem o meu São Paulo. É uma característica minha fazer uma construção coletiva, que todas as pessoas tenham a possibilidade de participar ativamente, de fato eu acredito muito nisso. O segurança, o cozinheiro e o jardineiro são pessoas importantes. Na maior parte do tempo nós somos muito iguais, eu, o segurança e o jardineiro. Tenho uma aproximação muito fácil com essas pessoas mais simples, porque me sinto uma delas, e esses caras fazem diferença para o ambiente do jogador. Talvez a coisa mais bonita que tenha aqui no São Paulo, e eu participei pouco disso, seja a formação de elenco. O eixo central de caráter do time é muito forte. Gente que gosta de trabalhar, gente que sabe ser solidária, que se preocupa com o outro. A gente precisa de todo mundo junto para seguir adiante. A gente não sabe, mas acredita muito que pode conseguir coisas grandes neste ano. E quanto ao meu lugar, estou muito feliz onde estou. Aliás, estou sempre feliz, porque faço o que amo, recebo para isso, é um privilégio. Até o lado que as pessoas acham ruim em ser treinador, que são as críticas, para mim é aprendizado. A gente vai aprendendo com tudo aquilo que acontece, interna e externamente. Sabendo filtrar a gente pode aprender com todo mundo.
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