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Após 20 anos, Galeano diz que erro de Alex virou presente e o consagrou

Galeano puxa Edilson durante jogo do Palmeiras contra o Corinthians na Libertadores de 1999 - Reuters
Galeano puxa Edilson durante jogo do Palmeiras contra o Corinthians na Libertadores de 1999 Imagem: Reuters

05/06/2020 07h00

Em 6 de junho de 2000, o Palmeiras enfrentava o Corinthians, então considerado favorito, nos Dérbis da semifinal da Libertadores. Na volta, depois de perder a ida por 4 a 3, venceu por 3 a 2 e foi à decisão por pênaltis, eternizada pela defesa de Marcos na cobrança de Marcelinho Carioca. O enredo, porém, só foi possível graças a um jogador bem menos exaltado do que os colegas. Após 20 anos, Galeano não esquece do inusitado lance que chama de presente: o gol da vitória no tempo regulamentar.

O Palmeiras já tinha saído na frente, sofrido a virada e empatado aos 14 minutos do segundo tempo, com Alex. O meia, destaque do time, teve a chance de cobrar uma falta na área, aos 26 minutos. Galeano abriu mão de ir para a primeira trave, como estava ensaiado, e foi para o outro lado tentando escapar do zagueiro Adilson, que o marcava. A bola saiu dos pés do camisa 10 mais fraca e baixa do que o ex-volante esperava, mas só ele acreditou e, assim, fez o gol.

"O Alex errou, na verdade, e foi o que ajudou. A bola passou baixa por toda a área, e ninguém acreditava que iria chegar ao segundo pau. Eu estava no lugar certo no momento certo. Não foi como ensaiamos e treinamos, mas foi um presente que recebi", contou Galeano, em entrevista ao LANCE!.

Veja o bate-papo com Galeano na íntegra

Qual é a sua lembrança principal daquele 6 de junho de 2000?

Com certeza é o jogo mais importante da minha vida. Depois do título da Libertadores de 1999, o mais importante. Esse jogo de 2000 foi o que me consagrou realmente dentro do clube, marcou a minha história. É um jogo que não sai da minha memória nem da dos torcedores. Até hoje, torcedor vem falar comigo desse gol, tanto corintiano como palmeirense. Foi um presente que recebi pela minha trajetória no Palmeiras. Logo no maior clássico, contra o nosso maior rival, ter a oportunidade de fazer o gol que levou para os pênaltis... Foi um gol que me consagrou com o torcedor. Até hoje, esse gol me traz várias lembranças.

Você tem 27 gols pelo Palmeiras. Esse é o mais importante?

Com certeza, dos gols que fiz com a camisa do Palmeiras, esse foi o mais importante. Fiz alguns outros gols importantes, um que deu classificação na Mercosul, outro que eliminou o São Paulo [em 2000, pelo Campeonato Brasileiro]. Mas esse, sem dúvida, foi o que marcou a minha história no clube.

O Marcos, por ter defendido o pênalti do Marcelinho, costuma ganhar parabéns anualmente em 6 de junho. Isso acontece com você também?

Este jogo foi importantíssimo na carreira do Marcão por ter defendido o pênalti do Marcelinho, mas ele sempre lembra que, se eu não tivesse feito o gol, ele não teria feito essa defesa. Foi um jogo que marcou uma história para mim e para ele, são dois jogadores marcados positivamente nessa partida. Toda vez que falo com o Marcão, ou quando ele encontra torcedores mesmo, ele fala isso. Foi o gol que me consagrou e levou, depois, o Marcos a ser consagrado por ter pegado o pênalti do Marcelinho.

Pela sua movimentação e a qualidade do Alex, dá a impressão de que o gol saiu em uma jogada ensaiada, correndo na segunda trave. Foi mesmo?

Não foi uma jogada ensaiada, não. É lógico que tínhamos muitas jogadas ensaiadas de bola parada, e o que treinávamos mais, em falta lateral ou escanteio, era sempre puxar no primeiro pau, que era onde o Arce e o Alex batiam. Era o nosso forte. Nessa falta, o Alex foi colocar na área, e eu sempre ia do pênalti para o primeiro pau. Nesse lance, fui para o segundo pau. Eu estava muito bem marcado pelo Adilson, ele ficava me segurando onde eu ia, eu estava com dificuldade para cabecear. Resolvi ir para o segundo pau, para ter mais espaço para correr. O Alex acabou errando, na verdade, porque queria bater essa bola forte, alta, na marca do pênalti, em direção ao gol, para atacarmos a bola. Ele não pegou tão bem na bola, e foi o que ajudou, porque nem o Corinthians esperava. A nossa movimentação, com dois puxando no primeiro pau, acabou abrindo espaço, e fiquei no segundo pau. Eu estava no lugar certo no momento certo. A bola passou baixa por toda a área, e ninguém acreditava que iria chegar ao segundo pau. Nem o Adilson, que estava me marcando, tanto que ele me largou, fechou um lado e esperou, achando que o Dida ia pegar ou a bola iria para fora. No espaço ali, consegui penetrar e cabecear a bola. Deu tudo certo. Não foi como ensaiamos e treinamos, mas foi um presente que recebi.

Foram clássicos tensos, e o Palmeiras precisou virar com você para se manter vivo. Como foi manter a concentração para não se abalar?

Foi um jogo muito nervoso. Um clássico, de muita rivalidade. Encaramos com muita seriedade. Era o jogo da nossa vida quando enfrentava o Corinthians. Era assim para os dois lados, sempre foi. Em uma Libertadores, então, a tensão é maior ainda. É aquela coisa: não posso errar, concentração total. E acreditávamos, mesmo saindo perdendo. Quando fizemos o gol de empate, um olhou no olho do outro e falou "vamos que vai dar". O César Sampaio tinha saído, me passou a faixa de capitão e falava "vamos, Alemão, vamos acreditar que vai dar, concentração total". Depois que fiz o gol, a confiança era maior ainda. Mesmo sabendo que precisava de mais um gol para não ir para os pênaltis, quando fiz o gol, todos acreditavam que iríamos passar. Depois, foi para os pênaltis, e mantivemos a concentração. Felizmente, conseguimos a tão esperada vitória.

Naquele jogo, o Corinthians era visto como favorito.

Nosso time não era inferior ao do Corinthians. O Corinthians vivia um momento melhor, tinha alguns jogadores mais experientes e um time forte, mas, quando as duas equipes se enfrentavam, se igualavam. É lógico que a vontade de ganhar era muito grande de ambas as partes, tinha muita qualidade, grandes jogadores, mas era um clássico tenso. O time que saísse derrotado já sabia que teria momentos difíceis pela frente durante a temporada. Eram jogos tensos. Mas sabíamos que o Corinthians vivia um momento melhor, e a nossa concentração foi maior até por isso. Valeu a pena todo esforço e dedicação, porque conseguimos superá-los.

Você não bateu pênalti, mas estava previsto em qual momento bateria?

Eu não estava escalado para bater os pênaltis, mas, com certeza, se fosse passando, eu seria o sétimo na relação. Teria que bater, sim. Imagina, né? A tensão seria maior ainda. Mas não precisou, o nosso Marcão defendeu o pênalti do Marcelinho e, ali, acabou. Foi só comemorar, com uma alegria imensa naquele momento.

Se na Libertadores de 1999 você só não atuou na final, em 2000 você foi titular o tempo todo, ficando fora só por suspensão, na volta das oitavas de final, contra o Peñarol. Foi uma temporada de afirmação sua?

Depois que voltei de empréstimo do Juventude, em 1996, tive uma sequência muito boa. Mudava treinador, e eu, às vezes, começava sem jogar, mas depois virava titular, e chegando jogador. Foram temporadas excelentes. Quando chegou o Felipão, ele foi montando a equipe com o objetivo de ganhar a Libertadores e foi montando o elenco em cima das conquistas que teríamos, com uma equipe forte, um esquema muito forte. Graças a Deus, na maior parte do tempo fui titular com ele, com o privilégio de fazer grandes jogos, com grandes conquistas. Tanto que sou o 12º jogador que mais vestiu a camisa do Palmeiras na história, isso é um privilégio muito grande, uma honra e uma satisfação que agradeço sempre. Agradeço ao Palmeiras pela oportunidade. Trabalhei para isso, me esforcei. É difícil conquistar uma marca dessa.

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