Como a Chapecoense vem se consolidando e fazendo história na Série B
A palavra reconstrução tem um forte peso nos anos mais recentes da história da Chapecoense. Neste 2020, um trabalho que vem aliando olho clínico nas escolhas de seus jogadores ao forte empenho desde o início da temporada, a equipe catarinense se firma como uma das fortes concorrentes da disputa da Série B.
"Creio que fomos bastante humildes ao pensarmos em uma reestruturação do clube projetando a disputa da Série B. Depois de anos jogando competições internacionais, teríamos de nos adequar à realidade de um elenco mais enxuto, mas com fôlego para atuar nesta competição intensa. Com uma gestão séria, estamos conseguindo os resultados", afirmou, ao LANCE!, Paulo Magro, que assumiu a presidência do clube no ano passado, depois que Plínio de Nês Filho se afastou por problemas de saúde.
PENSAMENTO DE 'ABSORVER' O DESCENSO DE 2019
A meta de dar uma nova face à Chape teve seu pontapé inicial ainda em novembro de 2019. Confirmado como novo vice de futebol, Mano Dal Piva teve uma missão que soou como ingrata em um primeiro momento.
"Retornei ao clube ainda durante a Série A, em novembro, mas a queda já era iminente. Com isto, nosso planejamento para a Série B aos poucos foi se estruturando. Analisamos as seis edições anteriores da competição e traçamos um perfil dos atletas que queríamos para a disputa de 2020", em seguida, frisou:
"Nosso objetivo era "absorver" esta queda. Temíamos que, devido ao abatimento, sofrêssemos em seguida um descenso para a Série C, que seria catastrófico. Aos poucos, fomos superando as dificuldades e ajudamos a criar um ambiente de trabalho mais agradável", completou.
Aos seus olhos, duas pessoas foram essenciais para ajudá-lo na montagem do elenco.
"Quem vem sendo muito importante nestes momentos são o André (Martins, diretor executivo da Chape), que é um grande analista de mercado, escolhe a dedo os jogadores. E também o Neto (um dos jogadores sobreviventes da tragédia no voo da LaMia em 28 de novembro de 2016, que hoje é superintendente do clube catarinense) tem sido fundamental, por toda a sua história, sua identificação com a Chapecoense. Ele contribui muito para que nós sigamos com uma relação sólida com o elenco", destacou.
MUDANÇA DE ROTA RUMO AO TÍTULO CATARINENSE
A disputa do Campeonato Catarinense já indicou qual seria a cara da Chape na temporada. Além de remanescentes como o goleiro João Ricardo e o versátil Alan Ruschel, retornos e reforços desembarcaram na Arena Índio Condá.
"Quisemos fazer uma mescla entre jogadores experientes e mais jovens. Além de atletas do ano passado que achamos que continuariam a agregar, demos espaço ao perfil de atletas para a disputa de Série B. Foi o caso do Anselmo Ramon, que vinha de um bom ano pelo Vitória. Trouxemos do Londrina o (volante) Anderson Leite e o (atacante) Paulinho Moccelin... Voltaram para o clube o Luiz Otávio e o Joílson, que estavam emprestados", diz Dal Piva.
Inicialmente, coube a Hemerson Maria comandar a equipe na temporada. Entretanto, o técnico não resistiu ao fraco início da Chapecoense na competição. O time estava na lanterna e ainda não havia vencido após seis partidas.
A diretoria depositou as fichas em Umberto Louzer, que colecionava passagens por Coritiba, Guarani e Vila Nova. Aos poucos, a equipe se aprumou rumo ao título.
"O Hemerson Maria tem trabalhos muito bons no futebol catarinense, pelo Figueirense, Joinville e aqui também, mas desta vez não funcionou. De qualquer forma, deixou uma boa base para o Louzer. E a equipe "comprou" a nova ideia, tanto para conquistar o Estadual quanto para engrenar na Série B", disse o vice de futebol do clube.
O título veio com duas vitórias sobre o Brusque (uma por 2 a 0 e outra por 1 a 0).
ELENCO 'ENCORPADO' PARA A SÉRIE B
Motivada pela conquista do Campeonato Catarinense, a equipe de Umberto Louzer não demorou a mostrar um trabalho sólido. Além de hoje estar na liderança absoluta com 44 pontos em 21 partidas, o goleiro João Ricardo só foi buscar a bola em suas redes em cinco oportunidades.
A Chapecoense também não perde na competição desde 28 de agosto (para o Cuiabá, por 2 a 1, na Arena Pantanal, em seu único revés na Série B). O vice de futebol Mano Dal Piva evidencia algumas qualidades do campo.
"Louzer colocou a Chapecoense para jogar mais para frente, com postura ofensiva. Isto ajuda também na marcação. A gente vê o Anselmo Ramon, o Paulinho Moccelin, o próprio Alan Ruschel voltando para marcar", declarou.
A Chape não restringe sua lista de nomes "rodados" a Anselmo Ramon, que é artilheiro da equipe na Série B (com seis gols) e iniciou sua trajetória no Cruzeiro e tem passagens por Avaí e Vitória.
"O Ezequiel, que jogou no Cruzeiro e no Fluminense, é nosso lateral-direito e tem atuado muito bem. O João Ricardo começou no América-MG, vem sendo importante para nós. Já contávamos desde o ano passado com o Aylon, que jogou no Internacional. Também chegou nesta temporada o Matheus Ribeiro, que estava no Santos. Há poucos meses veio o Felipe Santana, que está trazendo a experiência que teve no futebol alemão (atuou por Borussia Dortmund e Schalke 04) e no Atlético-MG...", exaltou o vice de futebol do clube, que ainda ressaltou:
"Na lateral esquerda, abrimos espaço para o Busanello, uma das nossas promessas. Como ele está atuando muito bem, o Alan Ruschel foi deslocado para a ponta pelo Louzer", complementou.
Outro nome conhecido da torcida é Luiz Otávio. Após uma passagem pelo Ceará, o zagueiro, que em 2017 viu sua escalação irregular causar uma punição que custou a eliminação da Chapecoense na Copa Libertadores, voltou para ser um dos atletas cruciais do setor defensivo.
Mandatário da Chape, Paulo Magro frisa a relevância de atletas tarimbados.
"Contar com o Alan Ruschel, pelo histórico que tem com a Chape, com o Alan Santos, que tem muita experiência por onde passou, além de jogadores como João Ricardo e Anselmo Ramon, é muito válido. Temos líderes bastante positivos. Isto dá mais fôlego para nós", afirmou.
PRIMEIRA META 'QUASE' CUMPRIDA. E AGORA?
A grande campanha na Série B não enche os olhos apenas de quem torce para o clube da Arena Índio Condá. Mas Paulo Magro revelou que a equipe catarinense traça seus planos pouco a pouco.
"Nossa ideia inicial era fazer uma Série B segura. Falta um ponto para chegarmos no que consideramos a faixa de "corte" do rebaixamento, por mais que os matemáticos digam que, com 44, uma equipe se salva. Mas, claro, podemos pensar em algo maior. Com esta pontuação atual na competição, podemos almejar um acesso, que seria nossa próxima prioridade", declarou.
A grande fase quase custou um "adeus" na Chapecoense. Umberto Louzer recebeu proposta para treinar o Cruzeiro, que na época estava no Z4 da competição.
"Realmente, ele foi procurado por mais de um clube, mas a proposta mais forte foi do Cruzeiro. Só que os jogadores foram fundamentais para que ele seguisse aqui na Chapecoense. A permanência do Umberto Louzer certamente contribuiu para hoje estarmos com um bom desempenho como este", disse Magro.
O grande retrospecto do treinador já levou o clube a se antecipar: o vínculo com a Chape foi renovado até dezembro de 2021.
A diretoria da Chapecoense agora volta suas atenções para que a equipe não se deixe levar pela euforia em campo.
"Nosso primeiro passo era alcançar uma pontuação segura. Agora, com 44 pontos em 21 rodadas, o momento é de não perdermos o foco e vermos até onde a equipe pode chegar. Precisamos ter pés no chão sempre", frisou Mano Dal Piva.
Cabe à Chapecoense saber pavimentar seu retorno à elite sem se deixar levar por armadilhas.
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