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Libertadores - 2022

O que pode explicar queda de protagonismo dos argentinos na Libertadores

Jogadores do Velez lamentam goleada sofrida para o Flamengo em jogo da Libertadores - Marcos Brindicci/Getty Images
Jogadores do Velez lamentam goleada sofrida para o Flamengo em jogo da Libertadores Imagem: Marcos Brindicci/Getty Images

12/09/2022 18h01

Os times argentinos andam em baixa quando o assunto é a Copa Libertadores. Tendo o semifinalista Vélez Sarsfield — eliminado pelo Flamengo — como melhor representante nesta edição, os hermanos ficaram de fora de uma final continental pela terceira vez consecutiva, e alguns fatores explicar a queda argentina.

Nas últimas quatro edições, o domínio dos brasileiros foi amplo. Em 2019, o Flamengo conquistou o título diante do River Plate. Na temporada seguinte, Palmeiras e Santos disputaram a decisão. No ano passado, os campeões das edições anteriores protagonizaram a grande final, com a taça ficando com o alviverde paulista. Fechando a lista verde-amarela, Flamengo e Athletico-PR farão a finalíssima da Libertadores este ano.

A ampla soberania em conquistas também é aparente nesta década. No caso dos brasileiros, os campeões foram Corinthians (2012), Atlético-MG (2013), Grêmio (2017), Flamengo (2019) e o atual bicampeão Palmeiras (2020 e 2021). Pelo lado argentino foram apenas três títulos: San Lorenzo (2014) e River Plate (2015 e 2018).

Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito esportivo, comenta que os problemas econômicos da Argentina, e a crescente desigualdade em relação ao país vizinho, impactam também no futebol.

"Os times brasileiros possuem mais condições de angariar verba. Por causa da desvalorização da moeda, as equipes argentinas enfrentam problemas quando transferem um atleta para o exterior e necessitam internalizar o valor", explicou.

Na última janela de transferências, por exemplo, os clubes brasileiros se reforçaram no mercado com atletas que atuam no futebol argentino. O Corinthians contratou o volante Fausto Vera, do Argentino Juniors, por 5 milhões de dólares (algo em torno de R$ 27 milhões). O meia Galoppo, que atuava no Banfield, foi comprado pelo São Paulo por US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 23 mi).

Armênio Neto, especialista em geração de receitas na indústria esportiva, conta sobre o domínio brasileiro no continente, aponta outros motivos para a superioridade nacional nas últimas competições continentais e discorre sobre o diferencial das equipes nacionais em relação aos argentinos.

"Na minha visão, a desigualdade financeira colabora para uma hegemonia dos clubes brasileiros na América do Sul, mas reconheço que os problemas voltados para a área econômica ocorrem tanto aqui como na Argentina. Por isso, creio que esse domínio, que ainda não faz muito tempo que se iniciou, seja a consequência de diversos fatores. Por aqui, por exemplo, temos times que contam com mais exposição, devido a participação em torneios continentais, instituições estruturadas e com altas remunerações", disse.

A diferença da premiação recebida pelos clubes brasileiros e argentinos após a conquista de títulos nacionais é outro fator notável. O vencedor da Copa do Brasil recebe R$ 60 milhões, aproximadamente US$ 10 milhões. Por outro lado, após ser campeão da Copa Argentina 2021, o Boca Juniors adquiriu apenas US$ 37 mil.

"Observo que existe uma forte influência dos problemas econômicos do local no desempenho dos clubes da região. Porém, é fundamental que os dirigentes compreendam o cenário e produzam um planejamento qualificado. Se houver um trabalho profissional, a agremiação conseguirá lutar contra as dificuldades com mais força, independente do contexto em que ela esteja", explicou Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e proprietário da HeatMap.

Com o título do Palmeiras sobre o Flamengo, por 2 a 1, na final única no estádio Centenário de Montevidéu, na última edição do torneio, o Brasil passou a ter 21 títulos da Libertadores. Apesar da marca expressiva, o país segue atrás da Argentina, que lidera o ranking de troféus levantados, com 25 taças.

Vale lembrar que, desde 2017, a Conmebol implementou algumas mudanças no formato do torneio e, com isso, o Brasil ganhou mais duas vagas, passando a ter sete representantes na competição continental. Países como Argentina, Colômbia e Chile também foram beneficiados e ganharam uma cada.

Para Júnior Chávare, ex-dirigente de Grêmio, Atlético/MG, Bahia e São Paulo, esse domínio é justificado pelo foco dos brasileiros à essa competição. "Nos últimos 15 anos, os clubes brasileiros começaram a se importar cada vez mais com esse torneio. Isso na Argentina e Uruguai já era muito comum".

Outro motivo atribuído por Chávare é o fato de que outros países tradicionais perderam força na competição nos últimos anos, como o Uruguai, que tem oito títulos de Copa Libertadores e não tem um time campeão desde 1988.

"O Uruguai nem sempre está conseguindo fazer grandes participações, em virtude de uma crise técnica que o país atravessa. O país também tem dificuldade em manter seus principais jogadores, o que diminui a competitividade das principais equipes", completou.