Protestos de jogadores da seleção alemã vêm de antes da Copa do Mundo. Veja manifestações anteriores
Apesar da derrota sofrida na estreia da Copa do Mundo para o Japão, a seleção alemã deixou sua marca com uma imagem antes mesmo do pontapé inicial. Sendo uma das seleções com posicionamento forte contra a realização do torneio no Qatar, a Alemanha se manifestou diante dos grandes holofotes do Mundial.
Com as proibições às manifestações em favor da causa LGBTQIA+ na Copa do Mundo, os jogadores da seleção alemã posaram para a tradicional foto pré-jogo de uma maneira distinta, levando as mãos à boca em protesto contra as medidas da Fifa, que de certa forma, estão relacionadas com as leis do país-sede do torneio.
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DESDE MUITO ANTES DA COPA
Os protestos entre os alemães já não são de hoje. Meses antes do mundial, torcedores de clubes de todo o país se manifestaram nas arquibancadas dos estádios alemães pedindo para que o selecionado boicotasse o Mundial no Golfo. As manifestações começaram em 2020, quando uma torcedora lançou nas redes sociais, uma hashtag com a frase em inglês "Boycott Qatar".
Em novembro de 2021, jogadores da Alemanha vestiram camisas com letras formando a frase "Direitos Humanos", em protesto contra as condições de trabalho impostas a migrantes que participaram das obras para o Mundial. A manifestação foi antes do jogo contra Gibraltar pelas Eliminatórias.
Nos últimos meses, foi muito comum ver faixas pedindo o boicote do torneio em arquibancadas de estádios alemães e em estabelecimentos comerciais na rua. Na última rodada da Bundesliga antes da pausa para o torneio, torcidas de clubes como Schalke, Werder Bremen, Borussia Monchengladbach, Freiburg e Borussia Dortmund mostraram mensagens contra a realização do torneio no Qatar.
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As torcidas do Bayern de Munique também já fizeram protestos contra a parceria com a companhia aérea estatal do Qatar, onde o clube também realiza treinos nas paradas de inverno do Campeonato Alemão.
Bares na Alemanha pretendem fechar e inclusive, há relatos de que nas ruas do país não há tantas bandeiras e adereços da seleção alemã, o que mostra um interesse limitado com relação a outras Copas do Mundo.
O goleiro Manuel Neuer é um dos jogadores que mais se manifestam em favor da causa LGBTQIA+ e também é um dos capitães que se mostraram dispostos a entrar em campo com braçadeira com a frase "One Love" com um coração pintado pelas cores da bandeira do movimento, mas a faixa acabou sendo barrada pela Fifa e quem a usasse estaria sujeito a uma punição com cartão amarelo.
Torcedores do Schalke pedem boicote ao Mundial (AFP)
POSIÇÃO ALEMÃ NA EURO
Na Eurocopa realizada em 2021, a Alemanha esteve envolvida em uma polêmica diretamente relacionada à causa LGBTQIA+. Durante a fase de grupos, os alemães passaram a se posicionar mais após as constantes manifestações homofóbicas de grupos neonazistas de torcedores da Hungria nos estádios.
Para responder ao barulho feito por estes grupos, a prefeitura de Munique pediu à Uefa para que pudesse iluminar a fachada da Allianz Arena, sede do jogo entre a Alemanha e a Hungria, com as cores da bandeira LGBTQIA+. A entidade europeia não permitiu e em detrimento disso, clubes alemães iluminaram seus estádios com o árco-íris. Torcedores também levaram bandeiras do movimento para a partida no dia.
PROBLEMAS 'ESQUECIDOS'
Apesar dessas manifestações, há controvérsias dentro dos mesmos países que se posicionam e isto envolve pautas relacionadas aos direitos humanos. O Qatar foi escolhido como sede do Mundial em 2011 e para o especialista em Oriente Médio Andrew Traumann, uma posição forte deveria ter sido tomada há muito tempo pelas nações mais críticas a este Mundial.
- Existe um ponto de verdade. Sabemos que o Qatar não respeita direitos humanos e LGBT's. Porém, é uma sede que está escolhida há 11 anos e a impressão que dá é que sói descobriram isso no domingo. A culpa disso tudo é da FIFA. Sabemos que houve compra de votos. Sabemos que não é um país preparado para uma Copa do Mundo, tem toda uma questão de lavagem esportiva envolvida e a entidade nunca se importou e não se importa com os direitos humanos. Para mim há uma hipocrisia, pois quando vemos estas seleções falando de direitos humanos, não podemos esquecer como esses países tratam imigrantes. Como os sírios estão sendo tratados. Sem querer defender o Qatar, mas fica uma impressão de que o Ocidente é o portador da virtude os árabes são os 'malvados. Isso está incomodando os árabes. São duas questões. O Qatar não devia sediar a Copa pela infraestrutura e os direitos humanos, que eu gostaria que a FIFA levasse em conta, mas deviam apontar esses problemas em 2011, não agora - disse Traumann ao LANCE!
Ele também comentou sobre o fato da Copa do Mundo no Qatar estar diretamente relacionada à lavagem esportiva. Para ele, o Mundial é parte de uma tentativa de um governo autoritário como o do pequeno país do Golfo de tentar passar uma imagem positiva de mostrar uma boa imagem de si para os estrangeiros.
- Não acho que é algo para o público interno. A maioria absoluta dos espectadores são estrangeiros. Apenas 22% dos habitantes do Qatar nasceram lá. É muito mais uma questão de projeção da imagem do país, atrair investimentos. É uma questão de marca global do país e de fazer do Qatar conhecido e simpático. Muitos governos autoritários usam do esporte para que se tenha uma visão positiva sobreo país e não apenas por guerras.
Certamente, a Alemanha e outra seleções europeias seguirão chamando atenção pelos protestos e muitos irão acompanhar de perto os desdobramentos das manifestações por parte dos atletas. A pergunta que fica é sobre como os alemães, ingleses ou dinamarqueses vão manter a exposição de seus posicionamentos ou até mesmo, irão além do que já foi feito.
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