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Infância, preconceito... Cristiane avalia futebol feminino no Brasil e conta história de vida

25/11/2022 22h00


Multicampeã pela Seleção Brasileira Feminina, duas vezes medalhista de prata nos jogos Olímpicos e com diversas taças importantes no currículo ? como Libertadores e Copa do Brasil ? Cristiane, hoje no Santos, avaliou a situação do futebol feminino no Brasil como "muito melhor" do que antigamente. Em entrevista ao LANCE!, a jogadora também compartilhou histórias pessoais.

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A entrevista com ela aconteceu durante o evento "Campeões da Rua Catar", realizado pela Pepsi. A marca de refrigerantes revitalizou a Rua Catar, localizada na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. A jogadora foi uma das embaixadoras da campanha, que promoveu torneio de futebol de rua com moradores da comunidade.

- Você precisa criar oportunidades desde pequena para que tenha um desenvolvimento melhor, seja de um salto para goleira, um domínio, um lance de habilidade. O Brasil está no caminho, a gente conseguiu criar as categorias de base, alguns lugares ainda não têm espaços para as meninas jogarem, então elas jogam com os meninos, mas na comparação como era antigamente, está muito melhor - afirmou.

Ela ainda analisou o futebol feminino em outros lugares do mundo e comparou com a situação atual da modalidade no Brasil.

- Futebol europeu, EUA, eles têm isso (estímulo ao futebol feminino) desde criança. Os meninos têm mais oportunidades por causa dos clubes, que tem desde a base, mas a menina, a parte técnica dela, vem desde a base, desde pequena. Se a gente comparar (o Brasil) com quando eu comecei, é muito melhor. Oportunidade, campeonatos estaduais, Campeonato Brasileiro, as seleções de base, a própria mídia - disse.

Cristiane jogou quase 20 anos pela Seleção Brasileira (Foto: Divulgação)

Cristiane comentou sobre a importância do acesso ao esporte para crianças e nas periferias e contou sobre seu início: futebol de rua, única menina jogando, preconceito e origem humilde.

- São muitas crianças que não têm oportunidade em equipes grandes, o que é difícil. Esses campeonatos, jogos de rua, fazem com que você dê chance e espaço para essas crianças, você promove ações na própria comunidade, essas ações com as marcas fazem com que a gente se aproxime ainda mais do público, do que aquilo que só é visto pela TV, e às vezes nem isso você consegue.

- Comecei no futebol de rua, somente com meninos, não tinha menina, com muito preconceito. Não tinha oportunidades, porque minha família não tinha condições financeiras, meu pai era caminhoneiro, minha mãe empregada doméstica, nós morávamos no quintal da minha avó - contou.

Cristiane e Andressa Alves no evento da Pepsi (Foto: Produtora Marioska)

Apesar da falta de oportunidades, ela citou o apoio dos pais como fundamental para continuar o sonho de se tornar jogadora. Segundo a ex-Seleção, a mãe ficava receosa e tinha uma cautela maior, enquanto o pai era grande entusiasta da ideia.

- Minha mãe ficava receosa, porque eu era a única menina no meio de um monte de menino. Ela tinha medo, ficava preocupada. Meu pai já era "deixa a menina jogar". Graças a um vizinho meu, que me apadrinhou na infância, deu a condição de ir para uma escolinha, comprar o material. Eu olho tudo isso que foi construído para as meninas poderem aproveitar aquilo que a gente batalhou muito para ter. É um orgulho muito grande - disse.

Cristiane também revelou ainda ter sonhos a realizar: ajudar a dar sequência no desenvolvimento do futebol feminino quando se aposentar e vencer um título pelo Santos, seu clube atual.

Cristiane hoje joga no Santos (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

CARREIRA

Cristiane retornou ao Santos em 2020 para sua terceira passagem no clube. Ela também já atuou em times como PSG, São Paulo e Corinthians, além de também ter jogado no futebol dos EUA. A ex-jogadora da Seleção acumula títulos como Copa do Brasil, Libertadores (2x) e Jogos Pan-Americanos (2x).