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  01/12/2004 - 13h56
Prontuário reforça contradição de médico do Incor

Da Redação
Em São Paulo

O médico Edimar Alcides Bocchi, diretor da unidade clínica de insuficiência cardíaca do Incor (Instituto do Coração), contradisse em nota divulgada ontem informações que ele mesmo havia anotado no prontuário médico do zagueiro Serginho.

Nesta quarta, a "ESPN Brasil" divulgou o conteúdo do prontuário de Serginho, que atuava pelo São Caetano. Nele, o médico alerta, reiteradas vezes, sobre o "risco de morte" a que o zagueiro estava submetido.

Na nota de terça, emitida depois que o SVO (Serviço de Verificações de Óbito) do Hospital das Clínicas divulgou aos médicos a causa da morte de Serginho, Bocchi volta atrás e afirma que a morte do jogador foi uma "fatalidade" -apesar dos reiterados alertas que ele mesmo deixou registrados no prontuário do jogador.

Bocchi afirma na nota divulgada ontem que os exames realizados em fevereiro apontavam que Serginho "apresentava exame físico normal" e "eletrocardiograma compatível com coração de atleta". O prontuário do jogador, feito pelo mesmo Bocchi, desmente a nova versão: está escrito, em anotação do dia 20 de fevereiro de 2004, que o jogador tinha uma "miocardiopatia", uma disfunção que não é provocada pelo fato de Serginho ser um atleta.

A causa da morte, "hipermetrofia miocárdica", e o problema diagnosticado no início do ano são, realmente, diferentes. Mas o prontuário é claro ao apontar que o problema de Serginho não era simplesmente "coração de atleta" -aumento no tamanho do coração de pessoas que desenvolvem esforço físico constante, como era o caso do jogador.

O promotor do Ministério Público responsável pelo caso, Rogério Leão Zagallo, afirmou ao UOL Esporte que a mudança de opinião de Bocchi "causou estranheza". Zagallo pretende ouvir Edimar Bocchi novamente.

"Eu analiso com algum descrédito, uma vez que acabei de ler a investigação feita pelo doutor Guaracy. Mas existem outras fontes de prova do próprio Bocchi dizendo que a situação do atleta, desde o primeiro momento no Incor, era de afastamento da atividade física. As afirmações de agora são extremamente estranhas. Das duas uma, ou ele esqueceu o que falou, ou merece ser investigado, que é o que vamos fazer", afirmou o promotor.

"Houve responsabilidade. Não podemos descaracterizar uma coisa que escrevemos, que afirmamos, da forma como foi feita. Não posso me conformar. Ele não tinha o tal 'coração de atleta', tinha algo mais grave. E agora, estranhamente, ele (Bocchi) vem dizer que foi detectado o 'coração de atleta'. Não podemos ficar conformados com esta conclusão antes de uma investigação", completou Zagallo.

Para o promotor, a verdade sobre o caso está no que foi escrito no prontuário. "Eu acho que ele falou a verdade na primeira vez, porque tudo que ele falou, ele escreveu. Eu não posso falar por questões de sigilo, mas há considerações em seu relatório e em seu depoimento muito sérias sobre a saúde do atleta."

Uma hipótese levantada por Zagallo e que será investigada pelo Ministério Público é de que o prontuário médico tenha sido alterado. "Houve informações de alterações em atestados de laudo. Tudo isso é indício para que a gente possa imaginar processo contra essas pessoas, mas vai depender do andamento das investigações. Não sei se poderá ser imputado a ele o crime de falso testemunho."

A reportagem do UOL Esporte procurou, por meio da assessoria de imprensa do Incor, mais esclarecimentos com Edimar Bocchi, mas o médico não foi encontrado, nem no hospital, tampouco em sua clínica particular.

Clovis Francisco Constantino, presidente do CRM-SP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), que abriu sindicância para analisar o caso Serginho, também não foi encontrado pela reportagem do UOL Esporte. A assessoria de imprensa do órgão informou que não há nenhuma novidade nas investigações e que estas seguem em sigilo.

Em depoimento ao inquérito policial, Guilherme de Guimarães, fisiologista, que trabalha no Incor há cerca de 15 anos, confirma as informações do prontuário. O médico diz ainda que o médico Paulo Forte foi mais uma vez alertado do risco da morte de Serginho em consulta pessoal do mesmo na instituição.

Testes
Em fevereiro deste ano, o elenco do clube do ABC passou por testes no Incor. Já no dia 11, o primeiro dos exames, o prontuário registra "risco de morte súbita" e foi "recomendado ao jogador e ao médico do São Caetano para que ele não pratique esporte".

No dia 19, o prontuário diz: "reforço da recomendação de não praticar esporte de competição. Deverão avisar a família, porque esta não compareceu". A página do dia seguinte revela "Diagnóstico de miocardiopatia, apesar do eco [ecocardiograma] ser normal. A cintilografia e a ressonância magnética acusaram o ventrículo esquerdo com disfunção. Conduta: não desenvolver atividade física de competição. Foi explicado para Serginho que não é capaz de ser atleta porque tem disfunção."

Depois de 20 de fevereiro, o prontuário só volta a ser atualizado dia 29 de junho, quando informa que "Medicação não protege. Não existe comprovação de que o desfibrilador (no caso, interno) funciona. Marcar reunião com a família e jogador o mais rapidamente possível. Jogador assumiu o risco de continuar jogando".

A última página do prontuário de Serginho no Incor data de 11 de agosto. "Paciente não fez acompanhamento no Incor, está sob acompanhamento do Dr. Paulo Forte. Jogador não comparece para acompanhamento, portanto não é nosso paciente. Continua em atividade esportiva. Que tenha sorte, porque o risco de morte existe."

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