! Na "noite de Deus", Maradona chama Pelé de "Rei" - 15/08/2005 - UOL Esporte - Futebol
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  15/08/2005 - 23h54
Na "noite de Deus", Maradona chama Pelé de "Rei"

Da Redação
Em São Paulo

Maradona e Pelé juntos, trocando passes de cabeça, enquanto o público aplaudia de pé. A sensação era de que a bola nunca mais cairia. Em um clima de amizade, os dois maiores jogadores de todos os tempos tiveram um bate-papo franco na estréia do programa do argentino na TV, chamado "La Noche del Diez" ("A Noite do Dez", camisa que foi usada por Maradona e, curiosamente, também por Pelé). Tido como "Deus" em seu país, o "apresentador" deixou escapar, em algumas oportunidades, a palavra "Rei" ao se dirigir ao brasileiro.

MOMENTO MÁGICO

No fim da entrevista com Pelé, Maradona propôs uma troca de passes de cabeça com o brasileiro. No total, foram 27 toques entre os dois maiores ídolos do futebol. Pelé, enquanto dava cabeçadas, dizia "não vamos parar nunca?", até que Maradona avisou a todos e encerrou a cena épica. Veja fotos
Quem viu Maradona gordo, à beira da morte em uma clínica no fim do ano passado, praticamente não o reconheceria hoje. Quarenta quilos mais magro (fruto de uma cirurgia para redução de estômago), com um largo sorriso e uma aparência das mais saudáveis, o argentino foi ovacionado na abertura de seu programa, ao som de "Olê, olê, olê, olê, Diego, Diego". Na platéia, seus pais, ex-mulher e filhas, todos visivelmente emocionados, enquanto o ídolo cantava.

Um a um, os convidados de Maradona entraram no palco, em cena que lembrou os programas de auditório brasileiros. Primeiro, seu ex-companheiro de seleção argentina, o ex-goleiro Sergio Goycochea. Depois, entraram em cena a ex-tenista Gabriela Sabatini, o ex-atacante Gabriel Batistuta, atriz italiana María Grazia Cucinotta, o cantor Diego Torres, o ator Ricardo Darin.

O último a adentrar a noite de gala é Pelé. Antes, uma apresentação de samba, com dançarinas com letras que formam a frase "Ya llega Pelé", anunciavam quem era a próxima estrela a subir ao palco. Assim como em todo programa, para segurar a audiência, um comercial entrou em campo, para aumentar ainda mais o clima de suspense sobre o encontro.

DROGAS

Maradona tocou no assunto no papo com Pelé, citando o filho do brasileiro, Edinho, envolvido com consumo de drogas. "Rei, sei que é uma pergunta difícil. Se eu não largasse a droga, eu estaria morto. Agradeço a Deus e às minhas filhas pela minha recuperação. Se você quiser comentar, comente. Se não, não precisa. Eu quero te dar toda a minha solidariedade e a minha força como pai pelo episódio que você está passando", afirmou.

"Meu filho estava com pessoas com quem não devia. Ele foi goleiro do Santos, você deve lembrar dele, e isso pode acontecer com qualquer um. Você é um exemplo para ele. Você está fazendo um programa para todo o mundo. Podemos, juntos, fazer muito contra as drogas", disse o brasileiro. "Creio que, juntos, podemos fazer muitas coisas, vamos nos unir, fazer coisas pelo povo", rebateu Maradona. "Com fé em Deus, tudo se pode", completou Pelé. Veja fotos
Minutos depois, na volta do "La Noche del Diez", uma animação, no estilo dos desenhos de "Papaléguas" (tendo Maradona e Pelé como personagens), anunciou a próxima atração. "Dois heróis, dois gigantes, dois magos, estão por entrar nesse estádio. Que grande emoção! Para os cinco continentes, o encontro que dará a volta ao mundo. Hoje, dia 15 de agosto de 2005, o encontro jamais pensado, 'o Rei na noite de Deus', Pelé e Diego Armando Maradona. Estão juntos, é impossível não aplaudir os dois maiores", disse o locutor.

Em seguida, a dupla entrou, se abraçou, deu as mãos, enfim, o clima de cordialidade era total. A platéia aplaudiu de pé a união dos dois principais jogadores de futebol do mundo. No centro do palco, uma mesa com as bandeiras da Argentina e do Brasil estilizadas. Enfim, os dois ficaram frente a frente. "Que coisa linda", diz Pelé.

O brasileiro interrompeu a primeira pergunta de Maradona. "Eu estava vendo a abertura, com sua família, e foi uma coisa linda. É lindo te ver assim. Você sabe como são os jornalistas. Eles me perguntaram 'Pelé, você vai ao show do Maradona?'. Respondi: 'Por que não? Vou, pois é um vencedor, um exemplo, e temos de estar juntos'. É um orgulho estar aqui. De coração."

Maradona, que até se deu bem como entrevistador, iniciou a "sabatina" querendo saber como Pelé tratava da fama e da privacidade. "Comecei muito jovem. Com 16 anos, fiz minha primeira partida pela seleção, contra a Argentina, no Maracanã. Toda a minha vida foi assim. Muitos jogadores, artistas, depois da personalidade formada, com 22, 23 anos, têm dificuldade em conviver com a fama. Para mim, é parte da minha vida", disse o "Rei", que completou citando sua família como ponto fundamental para superar os problemas com a falta de privacidade.

Como se fossem dois "boleiros" em atividade, a dupla comentou o futebol atual. Pelé, chamado de "Rei", é perguntando sobre seu relacionamento com João Havelange, ex-presidente da Fifa. Ele disse que "isso é coisa do passado", mas criticou a classe dos jogadores, a qual acha que "não é muito unida", e citou, como exemplo, o fato de a Fifa "ter mais associados que a ONU e a Unesco".

MARADONA NO SANTOS?
"Há oito, nove anos, eu quis comprar o passe desse garoto. Ele não quis, o que eu posso fazer?", disse Pelé, revelando que queria contratar o meia para jogar em seu time de coração. "Nos reunimos no Rio de Janeiro com Pelé e gente do Santos, mas não deu certo", relembrou Maradona.
O clima era de um bate-papo entre amigos de longa data, e que há muito não se viam. Maradona pediu a Pelé para esquecer o lado "jornalístico", e perguntou ao brasileiro o que ele achava da Fifa. "Penso que, agora, a Fifa é muito mais democrática", decretou Pelé. "Há um programa na Fifa em que parte da verba dos patrocinadores é usada para ajudar os países mais pobres. E hoje, a Fifa também está dando apoio ao futebol feminino. Acho que isso é muito importante", completou.

Pelé aproveitou para indagar sobre o episódio da "água batizada" dada ao ex-lateral Branco no duelo entre Brasil e Argentina, nas oitavas-de-final da Copa do Mundo de 1990, quando o time comandado por Sebastião Lazaroni perdeu por 1 a 0 e foi eliminado da competição. "Eu não fui. Juro por Deus que eu não fui!", brincou o argentino. "Eu digo o pecado, mas não o pecador. Esse episódio foi notório, assim como a superioridade do Brasil nesse jogo."

O brasileiro presenteou a estrela com uma réplica da estátua presente na Praça Buenos Aires, em São Paulo, que relembra um casal dançando tango. Foi a deixa para Maradona pedir para Pelé cantar. "Se você cantar uma música, eu vou cantar um tango". Pelé disparou um "Esse Maradona me mata" antes de entoar uma música de sua autoria. Em seguida, o argentino cantou um tango. Os dois voltaram a se abraçar e foram, mais uma vez, aplaudidos de pé.

Antes de cumprimentar os outros convidados de Maradona, Pelé autografou uma camisa 10 do Brasil para as filhas do argentino, que retribuiu assinando uma camisa 10 da Argentina para ser presenteada a Edinho. "Travamos discussões pelos jornais, mas nunca nos falamos dessa maneira. Essa é a primeira chance real que tive de falar com Pelé", concluiu Maradona.

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