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Adrian Gomes supera indisciplina, peso e idade avançada, brilha e volta à seleção

Paula Almeida

Em São Paulo

16/08/2010 12h01

Em 2005, Adrian Gomes tinha apenas 15 anos de idade e ganhou a chance de integrar a seleção brasileira permanente de ginástica artística ao lado de grandes nomes como Daiane dos Santos, Daniele Hypolito e Laís Souza. Poucos meses depois, porém, a gaúcha foi dispensada do grupo por motivos de indisciplina e pela derrota na luta contra a balança.

FICHA TÉCNICA DA GAÚCHA ADRIAN GOMES

  • Divulgação

    Idade: 20 anos (05/04/1990)
    Altura: 1,51m
    Peso: 50kg
    Melhor aparelho: salto
    Pior aparelho: barras assimétricas
    Ídolos no esporte: Daiane dos Santos e Oksana Chusovitina (ginasta uzbeque que compete pela Alemanha. Tem 35 anos, mas ainda compete em alto nível e é especialista em salto)
    Futuro pós-atleta: Virar treinadora de ginástica

Em 2010, Adrian está de volta ao combinado nacional. Convidada a treinar com a seleção no Rio de Janeiro em julho, a ginasta que hoje já é uma veterana surpreendeu a comissão técnica, obtendo a terceira melhor nota do time (atrás apenas de Jade Barbosa e Daniele), e assegurou seu retorno ao grupo.

A volta da ginasta gaúcha é quase um milagre, considerando os obstáculos enfrentados nos últimos cinco anos e até uma aposentadoria precoce que durou quase uma temporada. Para voltar a competir em alto nível, porém, Adrian teve de amadurecer. Na marra.

“Eu saí da seleção por infantilidade, imaturidade e um pouco de indisciplina também. Tinha 14 anos, era muito maria-vai-com-as-outras, aí acabei saindo, até pelo peso também, que eu sempre tive problema para controlar”, lembrou a ginasta em entrevista ao UOL Esporte. “Agora eu sempre penso no lado profissional. Antes fazia tudo muito na brincadeira. Hoje aprendi que sempre tenho que fazer meu máximo e nunca deixar para depois”.

Além de superar a imaturidade e os problemas com o peso, Adrian ainda teve de encarar uma grave lesão, justamente a responsável por sua breve aposentadoria. “Operei o pé no fim de 2007, quando rompi o tendão. Tentei voltar, mas rompi de novo no começo de 2008. Fiz todo o tratamento de novo. Aí em 2009, tentei fazer seletiva para a seleção, mas chegando lá disseram que não valia a pena, porque eu ainda não conseguia fazer tudo. Então desisti, achei que não dava mais, até porque o pé doía muito e eu achava que o esforço não seria recompensado”, revelou.

Após desistir do esporte e começar a trabalhar numa cafeteria em Porto Alegre, Adrian teve uma chance de recomeçar. Sua maior incentivadora foi Adriana Alves, técnica da seleção e do Grêmio Náutico União, clube formador da ginasta. “Em 2009, eu precisava completar a equipe do clube para o Campeonato Brasileiro, aí eu a convidei para voltar. O intuito era só competir no Brasileiro, mas ela acabou ficando, foi melhorando, e as perspectivas mudaram”, contou a treinadora.

A primeira chance real de retornar à seleção foi no início deste ano, quando Adrian participou de um estágio com a seleção em Curitiba. O mau desempenho no Troféu Brasil de maio, porém, atrapalhou os planos. Uma nova oportunidade apareceu em julho, para os treinos no Rio de Janeiro, e desta vez, a ginasta aproveitou. Mostrou segurança nos movimentos, resistiu aos cansativos treinamentos e ficou em terceiro lugar entre as atletas.

Caminho mais fácil: o salto

No próximo dia 20, Adrian Gomes embarca com o restante da seleção para Guadalajara (México), onde disputará o Pré-Pan. Na volta, participará da etapa de Ghent (Bélgica) da Copa do Mundo de ginástica artística. Se for bem nos dois eventos, terá carimbado seu passaporte para o Mundial de Roterdã (Holanda), em outubro.

Com acompanhamento de um psicólogo e uma nutricionista no clube onde treina, a ginasta, que nos últimos anos mostrou estabilidade nos treinos e insegurança nas competições, se vê pronta para competir pela seleção. “Antes eu achava que não conseguiria, mas agora acho que estou preparada, até pelo fato de ter ido bem no Brasileiro”, vê Adrian, que foi campeã do salto no Brasileiro.

E é justamente por este aparelho que ela espera assegurar sua vaga definitiva no Mundial. “Posso dizer que a Adrian é completa. O que ela tem para melhorar não é tanto em colocar novos elementos nas séries, mas sim fazê-las sem menor desconto”, explica Adriana Alves. “Nosso foco está sendo o salto, pensando individualmente. É o melhor aparelho dela, e o que mais estamos em déficit na seleção, mas ela ainda tem que melhorar. Por enquanto ela faz uma pirueta, mas queremos que ela faça duas”.

Além dos bons desempenhos no salto, Adrian pretende usar a seu favor a idade. Na ginástica, uma atleta de 20 anos já costuma estar em decadência, mas a gaúcha aparece na contramão. “Eu costumo dizer que tenho 20 com cabeça e corpo de 15, porque sou bem brincalhona. Minha idade não atrapalha. Está certo que no final dos treinos as meninas estão no maior pique, correndo, brincando, e eu estou supercansada. Mas durante o treino, fico no mesmo ritmo que as outras”, garante a atleta, disposta a brigar por uma vaga olímpica em Londres-2012. “Não penso em aposentadoria, vou até onde meu corpo permitir”.