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Sem contrato por rixa entre bancos, Diego Hypolito fala em falta de respeito

Gustavo Franceschini

Em São Paulo

16/08/2011 11h55

Diego Hypolito, Daniele Hypolito e Jade Barbosa vivem uma situação inusitada na seleção brasileira de ginástica. O trio do Flamengo, por conta do patrocínio do banco BMG ao clube rubro-negro, não recebe uma parte da ajuda de custo da CBG proveniente da Caixa, patrocinadora da entidade. Diante da disputa comercial, Diego Hypolito fala em falta de respeito dos envolvidos no imbróglio.

A situação não é exatamente nova. Desde o ano passado, quando o Flamengo acertou o patrocínio do banco BMG, os três atletas não recebem da Caixa. Diego Hypolito, no entanto, voltou a se queixar sobre o tema há duas semanas, após o Campeonato Brasileiro de Ginástica, disputado no início do mês.

Em uma rede social, ele cobrou a CBG por não “fazer contrato com os principais atletas” a um ano dos Jogos Olímpicos. A crítica ficou no ar desde então, enquanto Diego acompanhou a seleção brasileira em competições pelo exterior. De volta, ele explicou a quem estava direcionando as queixas.

“Como é que podem ter atletas que recebem pela Caixa e outros não? Eles me ofereceram um contrato, só que da maneira que ele é oferecido não posso representar meu clube. Eu recebo bem do Flamengo e não tenho nada a me queixar. Não acho que a confederação não seja profissional. Não estou dizendo que não estão me respeitando com palavras. Mas com atitudes sim”, disse Diego Hypolito, sem se exaltar e evitando entrar em conflito direto com as partes envolvidas.

O ginasta não cobra da Caixa um patrocínio individual, com cessão de imagem. Diego já teve um contrato do tipo até meados do ano passado e sabe que esse tipo de compromisso depende do interesse do banco, que não quer “dividi-lo” com o BMG, que patrocina o Flamengo.

Só que os atletas que servem à seleção brasileira recebem uma ajuda de custo mensal. Metade dessa verba é proveniente da Lei Piva, que destina dinheiro arrecadado com loterias para o esporte. O restante vem da Caixa, que assina contratos individuais com cada um dos ginastas.

Diego, Daniele e Jade só recebem a parte da ajuda de custo referente à verba da Lei Piva. Os irmãos Hypolito cobram também a parte da Caixa, enquanto Jade, que tem um patrocínio individual do BMG, está satisfeita sem o acordo com o banco federal.

A CBG, consultada pela reportagem, vê o problema como uma questão entre os atletas e a Caixa e tenta intermediar um acordo, mas não mostra muita animação. “Tem cláusulas nesse contrato com as quais os atletas precisam concordar. Ele não concordou com algumas cláusulas. É direito dele. Neste processo a CBG continua auxiliando”, disse Klayler Mourthé, supervisor das seleções olímpicas da entidade.

O UOL Esporte apurou que as cláusulas em questão impedem que Diego Hypolito e companhia atuem normalmente pelo Flamengo. A CBG nega a informação, mas Caixa e atletas não se entendem porque o banco paga um valor mensal aos ginastas da seleção sob contrato e entende que eles não podem competir ostentando a marca de um banco rival, como seria o caso dos irmãos Hypolito e de Jade.

Em casos assim, é comum que patrocinadores de seleção e clubes, mesmo concorrentes, convivam harmoniosamente. O problema é que a Caixa ainda entende a seleção como algo permanente, como se fosse um outro clube. O salário mensal seria uma prova da relação diferente entre o patrocinador e os atletas.

Dentro deste cenário, a Caixa cobra exclusividade dos atletas no segmento “bancos”, que os atletas não podem cumprir pelo compromisso do Flamengo com o BMG.

Com o impasse longe de um desfecho positivo, Diego Hypolito esclarece que não quer mais voltar a tocar no assunto tão cedo. “Isso vem desde o ano passado. Eu não recebo e uso a marca [Caixa, quando atua pela seleção]. Eu só quero meus direitos. Não estou fazendo rixa. Coloquei daquela maneira porque não via mais escapatória. Agora eu não quero mais falar com ninguém. É um assunto que não está resolvido, mas eu vou pôr um ponto final por enquanto, porque tenho que me focar no Mundial”, disse o atleta.

Até o fim do ano, os ginastas têm dois compromissos importantes, em uma espécie de maratona. No início de outubro, eles disputarão o Mundial de ginástica no Japão, que vale vaga para Londres, em 2012. No dia 17, eles embarcam direto para Guadalajara, no México, onde iniciam, no dia 24, a disputa dos Jogos Pan-Americanos.