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Em boa fase, Dani Hypolito desvia de crise na ginástica e celebra 10 anos de feito inédito

Daniele conquistou a medalha de bronze na trave nas finais por aparelhos do Pan - Flávio Florido/UOL
Daniele conquistou a medalha de bronze na trave nas finais por aparelhos do Pan Imagem: Flávio Florido/UOL

Paula Almeida

Em São Paulo

04/11/2011 07h00

Até o dia 4 de novembro de 2001, a ginástica artística tinha pouco destaque no Brasil. Mas naquele ano, a medalha de prata conquistada por Daniele Hypolito na final de solo do Mundial de Ghent, na Bélgica, colocou definitivamente o país no mapa da modalidade. Dez anos depois, dividida entre seus bons resultados individuais e um momento conturbado da ginástica brasileira, a paulista radicada no Rio de Janeiro celebra 10 anos do pódio que mudou os rumos do esporte no Brasil.

Quando competiu em Ghent, Daniele não era nenhuma novata na ginástica, apesar de ter apenas 17 anos. Com sete anos de carreira, ela vinha de uma boa sequência de competições internacionais: Mundial de Tianjin (China) de 1999, Jogos Pan-Americanos de Winnipeg (Canadá), também em 99, e Olimpíada de Sydney, em 2000. Em todos eles, já se firmara como principal ginasta brasileira da época.

Ainda assim, a expectativa de pódio na Bélgica era restrita. Daiane dos Santos, igualmente jovem, também estava lá, e só a presença de ambas na final já era motivo de comemoração. Dois dias antes, Daniele já havia ficado em quarto lugar na final do individual geral.

“Lembro que quando eu cheguei no ginásio, eu estava muito agitada. Desci pro ginásio de aquecimento e só lembro que eu pedi pra minha técnica, a Georgette [Vidor, hoje supervisora da seleção feminina], entrar comigo. Ela ficou na porta e eu entrei”, recordou Daniele em entrevista ao UOL Esporte. “Eu era a sétima a competir, e fui criando uma grande expectativa. Quando chegou a minha vez, eu sabia que só precisava acertar a série. Quando saiu o resultado, eu fiquei muito contente. Foi uma medalha histórica pra mim e pra ginástica do Brasil”.

A façanha não passou batida pelos meios de comunicação da época, e a ginasta experimentou sua nova fama logo que desembarcou no Brasil e deu de cara com dezenas de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas.

“Eu fiquei um pouco assustada. Como foi uma medalha inédita, e eu lembro que o futebol brasileiro não estava tão bem, eu me senti literalmente numa coletiva de imprensa de futebol com tanta gente”, conta.

Hoje, a medalha prateada que deu início de fato a uma carreira vitoriosa não tem lugar especial na galeria de conquistas de Daniele, mas o dia 4 de novembro é anualmente motivo de festa para a atleta. Em 2011, mais ainda, já que ela curte um rápido período de férias após conseguir bons resultados no Mundial da categoria, em Tóquio, e nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. No Japão, mesmo com seus 27 anos, Daniele competiu bem e encerrou a disputa individual geral na 13ª colocação. Já no México, ela foi a única da equipe feminina a conquistar medalhas, dois bronzes, um na trave e um no solo.

“Fico contente que esse ano eu competi bem no Mundial, que foi muito difícil, e no Pan. Só tenho que comemorar essas vitórias, agradecer ao pessoal que torce e ficar feliz por todas essas coisas que acontecem 10 anos depois daquela medalha inédita”, afirmou ela, que só em 2009, em seu pior ano em termos de desempenho e lesões, pensou em desistir de tudo e abandonar o esporte. Preferiu seguir adiante.

Crise na ginástica

O bom momento de Daniele contrasta com a fase difícil da ginástica brasileira. Dependente ainda de veteranas com a própria ginasta do Flamengo, de sua contemporânea Daiane dos Santos e de Jade Barbosa, que já é de uma geração anterior à atual, a seleção feminina carece de renovação e hoje se vê ofuscada pelas conquistas masculinas lideradas por Diego Hypolito e Arthur Zanetti, medalhistas do último Mundial.

Em Guadalajara, a crise ficou evidenciada pelos resultados negativos e pelas farpas públicas soltadas pelas próprias ginastas, baseadas em uma discussão sobre a volta ou não da seleção permanente e até na revelação de uma dificuldade de relacionamento entre as atletas.

Segunda mais velha do grupo, Daniele, que sempre se evidenciou pela personalidade forte e chegou a entrar em atrito com o ex-técnico da seleção, o ucraniano Oleg Ostapenko, hoje prefere manter discrição e evitar novas polêmicas.

“Eu não gosto de criar polêmicas, então prefiro nem falar sobre essas coisas, porque elas podem prejudicar a equipe e até a mim mesma. Só acho que foi um descuido [as declarações pesadas no Pan]. É importante a divulgação do esporte, mas tem que se tomar cuidado com o que fala”.

De bem com a vida, Daniele quer agora que os ventos levem para longe a crise na ginástica brasileira e prefere não fazer planos a longo prazo. “Pretendo seguir bem até 2016, mas na ginástica a gente conta com muita coisa, corpo, lesão, coisas que às vezes não dependem só da gente”.