Hypólito revela visão de queda em 2008 e diz que passou por anos de terapia
“Eu me achava invencível, achava que ninguém podia ganhar de mim, e errei”. É assim que Diego Hypólito relembra a queda histórica na final do solo dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, que neste sábado completa cinco anos.
De favorito ao ouro a derrotado em questões de segundos. O ginasta fazia apresentação perfeita até sua última acrobacia, quando errou, caiu e perdeu qualquer chance de subir ao pódio. Instantes antes, Diego teve um pressentimento ruim, que ele revelou em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
“Antes da minha última passada, eu pensei: ‘vou cair’. Não sei o motivo, mas isso passou na minha cabeça e eu de fato caí. Eu tive essa mentalização, esse sentimento. Até hoje, eu só falei isso para o meu técnico uma vez. Publicamente é a primeira vez que digo”, afirmou Diego.
Depois de uma noite mal dormida, choro e o sentimento de decepção, o ginasta foi recebido com festa por seus familiares e amigos no retorno ao Brasil. Mas admite que sentiu o tamanho da pressão quando saía nas ruas. Por isso, evitou sair de casa durante alguns meses, até que estivesse recuperado do trauma psicológico que a queda o causou – teve até mesmo que fazer análise para superar.
“Eu não tinha coragem de sair do quarto, sentia vergonha. No Rio, durante muitos meses, eu tinha vergonha de sair de casa. A sensação que eu tinha era de que era um criminoso. Foi a pior sensação da vida. Não sei explicar, mas era sensação de que tinha feito algo errado para o Brasil todo. Foi o dia mais triste da vida. Eu não conseguia superar essa sensação. Eu não era criminoso, só tinha falhado”, declarou.
Confira abaixo a entrevista com o ginasta sobre os cinco anos de sua queda:
UOL Esporte: Você sabia que neste 17 de agosto completaria cinco anos da sua queda em Pequim?
Diego Hypólito: Eu não lembrava a data, mas o acontecimento não tem como esquecer. Foi um dia marcante, que vou lembrar para o resto da minha vida. Eu valorizei muito aquele dia, me importei muito, pois me fez evoluir muito como pessoa. Eu me achava invencível, achava que ninguém podia ganhar de mim, e errei.
UOL Esporte: O que mudou na sua vida aquela queda?
Diego Hypólito: Eu melhorei muito minha cabeça, evolui muito. Fiz análise, tratamento durante três anos por causa daquilo. Aquela queda me fez rever o que eu gosto, que é a ginástica. E por causa disso eu continuo até hoje, e ainda sonhando com a medalha olímpica. Meu sonho era ter ganho a Olimpíada aquele dia, mas não sei como seria o percurso pós-medalha. Acho que evolui como pessoa, com atitudes, com treinamentos, valorizando todos meus resultados. Eu me avalio bastante pela questão da carreira como um todo, eu achava que Olimpíada era um bicho de sete cabeças. E não é.
Fiz análise, tratamento durante três anos por causa daquilo. Aquela queda me fez rever o que eu gosto, que é a ginástica. E por causa disso eu continuo até hoje
Diego Hypólito, sobre a queda em 2008UOL Esporte: O que você lembra da prova, dos movimentos...?
Diego Hypólito: Antes da minha última passada, eu pensei: ‘vou cair’. Não sei o motivo, mas isso passou na minha cabeça e eu de fato caí. Eu tive essa mentalização, esse sentimento. Até hoje, eu só falei isso para o meu técnico uma vez. Publicamente é a primeira vez que digo isso.
UOL Esporte: Como você se sentia depois do erro?
Diego Hypólito: Eu não tinha coragem de sair do quarto, sentia vergonha. No Rio, durante muitos meses, eu tinha vergonha de sair de casa. A sensação que eu tinha era de que era um criminoso. Foi a pior sensação da vida. Não sei explicar, mas era sensação de que tinha feito algo errado para o Brasil todo. Foi o dia mais triste da vida. Eu não conseguia superar essa sensação. Eu não era criminoso, só tinha falhado. Naquele ano eu era ‘cego’, só queria treinar, treinar, treinar. E fazendo da maneira mais correta, eu caí, mesmo tendo certeza absoluta de que ia acertar. Aquela derrota como experiência de vida me fez evoluir.
UOL Esporte: E a reação das pessoas na rua? Teve alguém tirou sarro?
Diego Hypólito: Aconteceram muitos absurdos, de reações positivas e negativas. O problema é que eu estava muito fragilizado. Além de ter vergonha de sair de casa, eu chorava por tudo. Se vinha alguém falar comigo, falava ‘coitado’, era ruim. Eu não era um coitado, mas me sentia assim. Eu tinha que dar graças a Deus por ter chegado lá, ter conseguido mudar minha vida pela ginástica. Minha carreira é uma gratidão, eu era pobre e consegui ter apoiadores. Mesmo os patrocinadores que saíram, fizeram parte da carreira. Inicialmente não aconteceu nada disso. Eu não perdi patrocinador nenhum, mas era o medo que eu tinha. É muito ruim ter que provar para alguém. Eu não podia perder o foco. O foco é o amor pelo esporte.
UOL Esporte: E antes da prova, qual era seu pensamento? Você era favorito ao ouro...
Diego Hypólito: Eu, mais do que todas as pessoas, me cobrei muito para ser invencível. E isso me gerava uma pressão muito grande nas competições. Eu não vou mais para a competição com o pensamento de que ‘tenho que ganhar’. Era isso que me gerava esse pensamento de que ia errar, como em 2008, o que o patrocinador pensaria do meu erro, o que iam pensar de mim. Tem que viver mais o momento, curtir a competição. Em 2008 só pensei em Olimpíada, não tinha nada mais que vinha na cabeça. E não pode ser assim. Eu tinha medo de errar, muito medo de errar. E depois que vi que consegui construir algo na carreira que se tornou sólido. O meu erro me ensinou muitas coisas e ter conhecimento de coisas que não tinha antes.
Sempre vou lembrar que caí. Lembrei todos os dias dois anos seguidos. Comecei um trabalho de análise e aí vi que consegui superar aquele momento. A pressão atrapalhava.
Diego Hypólito, sobre a queda em 2008UOL Esporte: Você acha que foi melhor, então, você não ter ganho o ouro?
Diego Hypólito: Não (risos). Seria hipócrita dizer isso. Mas na situação negativa, consegui colher coisas positivas. Poxa, você treina todos os anos com o objetivo de acertar. Se eu ficasse em terceiro, era uma coisa. Mas eu caí. E sempre vou lembrar que caí. Lembrei disso todos os dias durante dois anos seguidos. Comecei um trabalho de análise e aí vi que consegui superar aquele momento. A pressão atrapalhava. Temos que treinar com alegria, felicidade, e não com pressão. Depois disso, eu sempre achava que tinha que provar alguma coisa para alguém. E não é assim. Eu tenho que saber o meu objetivo, o meu foco. Não foi um avião que caiu, um prédio que desabou. Foi uma falha, e uma falha totalmente minha. Eu não culpo ninguém. Mas eu precisava superar aquela falha para me reerguer.
UOL Esporte: Você chegou a se questionar nesses momentos?
Diego Hypólito: Eu meio que perdi um pouco o gosto (pela ginástica). Tudo era pressão, me sentia pressionado por mim, pois queria ter meus patrocinadores, tinha medo de perder tudo que havia conquistado. A gente forma a vida com muitas coisas e depois estraga com um erro. Eu tinha ficado desnorteado com tudo. Quando caí, perdi o foco, não tinha noção do que fazer, do que era certo ou errado. Mas fui muito bem recebido por fãs, pela torcida brasileira, e isso sempre me fez bem. Hoje tenho 27 anos e continuo querendo me superar. Não sei se eu tivesse sido campeão olímpico se eu continuaria na ginástica. Eu já teria conquistado todos os meus objetivos. Não sei se vou conseguir uma medalha no Rio, mas vou tentar de todas as maneiras e com a maior boa vontade.
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