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No mundo teen da ginástica, Dani Hypolito entra para o grupo das trintonas

Yves Logghe / AP
Imagem: Yves Logghe / AP

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

03/10/2014 06h00

A partir deste sábado, Daniele Hypolito disputa um Campeonato Mundial pela 11ª vez. É a primeira, porém, que faz com 30 anos. Em qualquer esporte, seria um fato trivial. Mas não na ginástica. Das 288 inscritas no Mundial de Nanning, 217 têm 20 anos ou menos. Apenas 22 atletas nasceram antes da década de 90.

Em um mundo adolescente, a brasileira faz parte de um grupo pequeno. Apenas cinco atletas chegaram à barreira dos 30 anos no Mundial de Nanning, na China. A grega Vasiliki Millousi, como Daniele, chegou neste ano aos 30. A colombiana Bibiana Alzate e chilena Barbara Andino tÊm 31. A mais velha da competição, uma verdadeira lenda do esporte, é a uzbeque Oksana Chusovitna, de 38 anos.

Daniele viu ascensão e queda de geração de ouro

Com tanto tempo na seleção brasileira, Daniele se tornou referência da geração de ouro da ginástica brasileira. Isso aconteceu por pouco. Em 1997, o ônibus da equipe de ginástica do Flamengo capotou. Uma atleta morreu e a técnica Georgete Vidor acabou paraplégica. Daniele escapou sem ferimentos.

Dois anos depois, ela era a mais famosa entre as ginastas que iniciaram a revolução verde-amarela na modalidade. No Pan-Americano de Winnipeg, o time brasileiro ficou a com a medalha de bronze na competição por equipes. Mas mostrou ao mundo o talento de Daniele e de Daiane dos Santos.

Em 2000, Daniele estreou nos Jogos Olímpicos. No ano seguinte, ganhou a primeira medalha brasileira em um campeonato mundial, a prata no solo. Foi, também a quarta no individual geral do Mundial de Gent, na Bélgica.

Nunca mais subiu ao pódio em Mundiais. Lidou com problemas de peso (em 2007, inclusive, fez uma lipoaspiração para conseguir voltar ao peso de competição), mas nunca desanimou.

Viu Daiane dos Santos (campeã mundial do solo em 2003) e Jade Barbosa (bronze no individual geral em 2007 e no salto em 2010) conquistarem medalhas, acompanhou o irmão Diego se tornar bicampeão mundial e viu o talento de Laís Souza, apontada como a nova Daiane, ser vencida pelas lesões.

Aos poucos, foi perdendo protagonismo. Mas nunca a importância. Hoje, é a líder de uma geração bem mais jovem. Depois de Daniele, a mais velha é Letícia Costa, de 19 anos. Ela tinha apenas quatro anos quando Daniele Hypolito disputou o Mundial pela primeira vez. As mais jovens, de 16 anos, Julie Sinmon, Mariana Oliveira e Maria Cecília Cruz, eram bebês de um ano.

Oksana Chusovitina, recordista da ginástica em participações olímpicas - AFP PHOTO / THOMAS COEX - AFP PHOTO / THOMAS COEX
Imagem: AFP PHOTO / THOMAS COEX

Chusovitna: recorde, drama e quatro países diferentes

O papel que Daniele Hypolito exerce hoje no Brasil é bem parecido com o da uzbeque Oksana Chusovitna. Mas a veterana de 38 anos é uma referência não de um país, mas de toda a ginástica. Há pelo menos dez anos, ela é sempre a ginasta mais velha nas competições de que participa. E sempre termina à frente de muita gente mais nova.

No último mundial, por exemplo, ela foi a quinta colocada no salto, sua especialidade. Aos 37 anos. Nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, já com mais de 30 anos, foi a medalhista olímpica mais vela daquela competição, vice-campeã, também, do salto, aos 33 anos. Quatro anos depois, em Londres-2012, se tornou a recordista em participações olímpicas da modalidade, com seis Jogos Olímpicos na bagagem.

Sua história, porém, é muito mais impressionante do que simplesmente sua longevidade – mas, é preciso admitir, impressiona lembrar que quando ela conquistou sua primeira medalha olímpica, o ouro por equipes de Barcelona-1992, quase 80% das atletas que disputam o Mundial de Nanning nem mesmo tinham nascido...

Oksana já disputou o Campeonato Mundial por quatro países diferentes. Sua estreia, em 1991, foi pela União Soviétiva. Em 1992, nos Jogos de Barcelona, e no Mundial de Paris, no mesmo ano, ela competiu pela Comunidade dos Estados Independentes, após a queda da URSS. A partir de 1993, ele já era atleta do Uzbequistão, agora uma nação independente.

Em 2002, porém, o drama entrou em sua vida. Seu filho, Alisher, foi diagnosticado com leucemia e ela se mudou para a Alemanha, para fazer o tratamento em Colônia. Nesse mesmo período, ela acabou rompendo com autoridades do esporte no Uzbequistão, por falta de pagamento de premiações e nenhuma ajuda no tratamento de Alisher.

De 2002 a 2006, ela treinou com a seleção alemã. Para retribuir o apoio durante o tratamento do filho, ela resolveu aceitar a cidadania europeia. Em 2006, passou a competir por seu quarto país. Foi a duas Olimpíadas, ganhando uma medalha (a prata de 2008).

Hoje, com o filho curado, ela voltou ao Uzbequistão. Inicialmente, seria apenas técnica. Mas segue competindo. O quinto lugar do Mundial do ano passado mostra que ela não fica devendo nada para as rivais.

Em um mundo de adolescente, Daniele e Oksana são exceções. Mas exceções que fazem muito bem ao esporte.