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Estrelas da ginástica brasileira choram por Beyoncé e chamam técnico de tio

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

22/02/2015 06h00

“Capricha lá para o tio”, pede o técnico Alexandre Cunha antes de mais um exercício de Flávia Saraiva no tablado de solo do Centro de Ginástica Artística do “Time Brasil”, na Arena da Barra da Tijuca, que servirá como base da modalidade para os jogos olímpicos do Rio em 2016.

Poucos minutos depois, é a vez da pequena ginasta de 15 anos e 1,33m mostrar que o jeito peculiar na comunicação é mais do que normal durante os treinos. “Eu entendi, tio. Estou tentando esticar mais os braços”, argumenta Flavinha, como é chamada por todos, após mais um salto sobre o cavalo.

A voz fina e a relação com o treinador evidenciam que, por maior que seja a responsabilidade da atleta que se tornou esperança de medalhas no Pan e nas olimpíadas, o espírito de criança segue vivo na mais nova estrela da ginástica brasileira.

E Flavinha não é a única atleta com jeito inocente e infantil no Centro de Treinamento. Como duas amigas do jardim de infância que não se desgrudam, a vencedora do prêmio Brasil Olímpico 2014 na categoria “Atleta da Torcida” tem a companhia da também pequena Rebeca Andrade.

Na hora do treino, o semblante se fecha, acompanhando cada orientação de Alexandre Cunha e outros treinadores. Mas bastam cinco minutos de conversa para que a atleta do Flamengo se abra e revele o jeito típico de adolescente.

O sorriso se abre ao falar quase todos os assuntos, mas fica especial ao comentar sua maior paixão, a cantora Beyoncé. A relação é tão forte que a coordenadora técnica da seleção, Georgette Vidor, resolveu que a trilha de sua apresentação no solo seria uma canção da artista americana.

“Cara, eu nem sei o que falar. Eu sou muito fã mesmo, a Beyonce é tudo para mim. Passo o dia inteiro pensando nela, assistindo clipes, acompanhando as redes sociais. Sonho com o dia que ela vá me responder no twitter. Só faço fisioterapia escutando as músicas dela. Essa música pro meu solo foi a melhor coisa da vida”, derrete-se Rebeca, revelando ainda uma situação para lá de curiosa durante uma viagem internacional para competir.

“Eu choro mesmo. Estava em Barcelona para um torneio e descobri que teria show da Beyoncé lá no mesmo período. Sonhei que pudesse assistir. Até fiz uma aposta com meu técnico, ganhei, mas não levei. Na hora do show, quando caiu a ficha que eu não iria mesmo, chorei demais no hotel”, relembrou.

A mania por Beyoncé é tão forte que Rebeca levou Flávia Saraiva para o fã clube. “É uma coisa de louco mesmo. De tanto ela falar, hoje canto, danço e passo o dia inteiro escutando as músicas dela. Virei fã também. Acompanhamos tudo juntas. Sou apaixonada agora pela Beyoncé, além dos meus cachorros e dos meus ursinhos de pelúcia. São minhas companhias”, disse Flavinha.

Além de dividir o tempo livre com Saraiva e Beyoncé, Rebeca tem outra paixão que em nada lembra a cara fechada da hora do treino. “Adoro ficar com minhas bonecas. Tenho duas barbies aqui no Rio. Não posso trazer muitas para não ocupar muito espaço na casa [que divide com outras seis ginastas], mas sempre fico com essas. Faço piruetas com elas, ensaio movimentos, tudo”.

Georgette Vidor conhece como poucos a dupla afinada dentro e fora dos tablados de competição e traça um perfil das meninas que só escondem o lado criança na hora de treinar.

“Não podemos falar nada do comportamento das meninas. Quando entram no ginásio, se comportam melhor que muita gente grande. Claro que tem um sorriso aqui, uma brincadeira ali. É algo natural da idade. Mas a maturidade na hora de treinar e competir disfarça os 15 anos. Elas têm exata noção da responsabilidade que carregam. E estão preparadas para isso. Tenho certeza que não trocam a infância aqui dentro por nada. O prazer delas é esse”, disse.

Mas a chefe da comissão técnica que funciona como uma mãe também entrega os “podres” de suas crias. “São crianças para umas coisas e adolescentes para outras. E com aquele espírito complicado da puberdade. Chamo atenção várias vezes, principalmente em viagem. Esquecem o uniforme do dia, deixam roupa bagunçada, só querem saber de internet. Isso sem falar na manha. Às vezes choram de saudade, o que é normal. Mas tem hora que choram de manha nos treinos. Precisamos apertar e saber diferenciar bem os momentos. E estamos aqui para isso, com toda a experiência acumulada em mais de 40 anos de ginástica. No fim, só queremos ver as ginastas felizes. E criança sabe isso como ninguém”, encerrou Georgette Vidor.