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Empatia e ação: o que os atletas dizem após denúncias de abuso na ginástica

Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica, foi alvo de denúncias neste domingo - Divulgação/CBG
Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica, foi alvo de denúncias neste domingo Imagem: Divulgação/CBG

Do UOL, em São Paulo

30/04/2018 21h06

As denúncias veiculadas neste domingo pela Rede Globo contra Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica, encontraram eco entre nomes de destaque do esporte nesta segunda-feira. Não apenas da ginástica, mas também de outros esportes.

Foi o caso da nadadora Joanna Maranhão. Depois de tornar pública sua história em fevereiro de 2008, Joanna abordou o caso dos ginastas brasileiros nas redes sociais.

“Trouxe a público minha história há dez anos e nunca vai deixar de doer e de me sentir impotente quando me deparo com histórias como essas. Para além do crime e das cicatrizes, das infâncias usurpadas, dos talentos desperdiçados, o que me revolta é o silêncio e a conivência. É esse distanciamento dos que sabiam ou ouviram algo a respeito”, publicou em sua conta no Instagram.

“Não importa quem você seja, o cargo que ocupe. Martin Luther King dizia que: ‘É sob o silêncio cúmplice dos decentes que alguns dos maiores crimes acabam sendo perpetrados’. Peço e espero que a imprensa tenha respeito ao enfrentamento desses atletas, que não façam perguntas pedindo para descrever os abusos, porque isso significa reviver tudo. E vocês não têm ideia de como dói. Apurem, falem, falem muito, mas tenham empatia com as vítimas e com suas famílias, por favor. Hoje, sigo para uma série de ações de combate à pedofilia pelo Brasil, e eu não faço mais do que minha obrigação. Não sou mais forte nem melhor do que qualquer outra vítima; o que eu tive foi suporte de todos os lados para buscar meu equilíbrio. Às vezes eu caio, fico na cama deitadinha, sem coragem de sair para o mundo, passam uns dias e vou retornando, e é assim, vai ser pra sempre assim. Só que eu não quero que seja assim para mais ninguém”, acrescentou.

- “Joanna, você viu a reportagem do Fantástico sobre os casos de abuso na ginástica masculina?” -“O que você acha disso?” Trouxe a público minha história há 10 anos e NUNCA vai deixar de doer e de me sentir impotente quando me deparo com histórias como essas. Para além do crime e das cicatrizes, das infâncias usurpadas, dos talentos desperdiçados, o que me revolta é o SILÊNCIO e a CONIVÊNCIA. É esse DISTANCIAMENTO dos que sabiam ou ouviram algo a respeito. Pedofilia é um crime que se alimenta de sombra e silêncio, me perdoe a franqueza mas se você já ouviu alguma história e disse algo como: - “Bom, melhor não me envolver nisso” ou, - “Comigo nunca aconteceu nada então prefiro não me manifestar”ou, - “Por isso que virou "viadinho", né?” ou, - “Mas pq só resolveu falar agora? Tá estranho isso aí”, - “Aconteceu há tantos anos pq você tá sofrendo com isso agora?”, -“Tá mas cadê a prova?” Você já falou ou pensou algo assim? Então você tem sua parcela de culpa SIM. Não importa quem você seja, o cargo que ocupe. Martin Luther King dizia que: “É sob o silêncio cúmplice dos decentes que alguns dos maiores crimes acabam sendo perpetrados.” Peço e espero que a imprensa tenha RESPEITO ao enfrentamento desses atletas, que não façam perguntas pedindo pra descrever os abusos porque isso significa REVIVER tudo e vocês não têm ideia de como dói. Apurem, falem, falem muito, mas tenham empatia com as vítimas e com suas famílias, por favor. Hoje, sigo para uma série de ações de combate à pedofilia pelo Brasil e eu não faço mais do que minha obrigação. Não sou mais forte nem melhor do que qualquer outra vítima, o que eu tive foi SUPORTE de todos os lados para buscar meu equilíbrio. Às vezes eu caio, fico na cama deitadinha sem coragem de sair pro mundo, passam uns dias e vou retornando, e é assim, vai ser pra sempre assim. Só que eu não quero que seja assim pra mais ninguém. #todoscontrapedofilia #projetoinfâncialivre #campanhapermanente

Uma publicação compartilhada por Joanna Maranhão ???? (@jujuca1987)

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Quem também repercutiu o caso nas redes sociais foi Jacob Denhollander. Ele é marido da ex-ginasta Rachael Denhollander, que afirmou em 2016 ter sido vítima de abuso sexual em 2000, quando tinha 15 anos.

O acusado por Rachael foi Larry Nassar, ex-médico da seleção norte-americana de ginástica. Denunciado por mais de 200 vítimas, Nassar foi condenado a mais de 100 anos de prisão.

”Mais abusos no mundo da ginástica. Desta vez, no Brasil. Lá, o treinador abusou de pelo menos 45 meninos por um período de 15 anos. Parece que o exemplo (do caso) de Nassar está permitindo que mais e mais vozes sejam ouvidas”, publicou Jacob em sua conta no Twitter.

A mensagem publica por Jacob foi compartilhada pela ginasta norte-americana Aly Raisman. Dona de seis medalhas olímpicas, entre elas três de ouro, Aly foi uma das ginastas a denunciar Larry Nassar nos Estados Unidos.

“Estou arrasada por ouvir a respeito de tantos ginastas no Brasil que foram vítimas de abuso. Os sobreviventes devem ser ouvidos e a justiça precisa ser feita – como deveria ser em todo lugar. Ao mundo da ginástica, eu repito, eu grito o mais alto que puder: isto é maior que Nassar. Federação Internacional de Ginástica e Comitê Olímpico Internacional, ajam agora. Não podemos mais esperar”, disse a atleta em sua conta no Twitter.

Na véspera, Aly Raisman já havia publicado em sua conta no Instagram uma mensagem em sua conta no Instagram. Nela, pede compreensão do público para casos de abusos.

“Apoiem uns aos outros. Não importa se você é um sobrevivente de qualquer caso de abuso; ainda é importante para você ser gentil e nos ajudar o que precisamos desesperadamente. Se você não entende como constranger a vítima é um enorme problema e parte da razão que dizemos ‘eu também’, por favor, vá se educar”, afirmou.

Entre os ginastas do Brasil, o principal nome a se manifestar nesta segunda-feira foi Petrix Barbosa – justamente um dos nomes que acusaram Fernando de Carvalho Lopes na Rede Globo. Embora não tenha citado o caso nas redes sociais, publicou uma mensagem motivacional em sua conta nas redes sociais.

“Ser forte não é o quanto você aguenta apanhar calado. Ser forte é conseguir levantar, encarar e ver que realmente a união faz a força. Sejam fortes. Acredito que tudo vai dar certo”, publicou Petrix em sua conta no Instagram.