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Em choque, família de acusado de abuso evita sair de casa e vê injustiça

Fernando de Carvalho Lopes, foi afastado do comando técnico da seleção masculina de ginástica - RicardoBufolin/CBG
Fernando de Carvalho Lopes, foi afastado do comando técnico da seleção masculina de ginástica Imagem: RicardoBufolin/CBG

Adriano Wilkson e Luiza Oliveira

Do UOL, em São Bernardo do Campo e em São Paulo

12/05/2018 04h00

A família de Fernando de Carvalho Lopes está em choque com as acusações de abuso sexual que envolvem o ex-técnico da seleção brasileira de ginástica artística. Os parentes mais próximos ficaram muito abalados com as denúncias, têm evitado sair de casa e afirmam que tudo é uma injustiça.

A esposa de Fernando, Aline Sorcinelli Lopes, tem contado com o apoio dos familiares e amigos mais próximos para continuar exercendo a sua profissão diariamente. Ela trabalha como terapeuta ocupacional. A mãe de Aline, Sônia Sorcinelli, tem ajudado a cuidar dos dois filhos do casal.

Em contato com o UOL Esporte, Sônia relatou que a família tem passado por momentos difíceis e considera que o genro é vítima de uma injustiça. Ela acredita que há algum tipo de armação nas acusações: "Há algo por trás da história. Deus fará justiça". A sogra disse ainda que Fernando é um pai exemplar e um homem bom que faz caridade e trabalhos sociais com idosos.

O discurso vai de encontro às denúncias apresentadas na reportagem do programa "Fantástico", da TV Globo, no último dia 29 de abril. Na ocasião, Fernando de Carvalho Lopes foi acusado de praticar abusos sexuais contra ginastas crianças e adolescentes por um período de pelo menos 15 anos. Mais de 40 atletas afirmaram terem sido vítimas do agressor quando ele era técnico do clube Mesc, de São Bernardo do Campo.

Segundo os entrevistados, o treinador os molestava ao tocar em suas partes íntimas insistentemente e pedia para olhar seus órgãos genitais. Um atleta dos atletas disse que era obrigado a masturbar na frente do técnico. Fernando também é acusado de assistir aos atletas tomando banhos nus e até de fazer filmagens e gravações dos adolescentes em momentos de intimidade.

Ronald Cesar, que hoje trabalha como cheerleader em Brasília, foi um dos atletas que mostrou seu rosto no "Fantástico". Em contato com o UOL Esporte, ele celebrou o fato de a investigação ir para a frente a partir de agora. “A justiça está sendo feita”, disse. A reportagem entrou em contato com outro atleta treinado por Fernando. Sob a condição de não ser identificado, ele reiterou os relatos sobre o treinador e acrescentou que Fernando também costumava agredir fisicamente seus comandados.

Após a publicação das acusações, Fernando tem dividido seus dias entre o apartamento onde mora com a mulher e os filhos e a casa de seus pais. A casa dos pais, onde o treinador e seus dois irmãos cresceram, fica em uma rua calma de residências e alguns estabelecimentos comerciais, como um salão de beleza, um lava-jato e um colégio.

Nos últimos dias, sua mãe Zilda, uma senhora pequena de cabelos curtos e brancos, e seu pai Álvaro, um português que veio muito jovem ao Brasil, têm evitado sair de casa. Em conversas com amigas, a mãe evita comentar as acusações que recaem sobre o filho. Nas poucas vezes em que mencionou o assunto, disse considerar que Fernando está sendo vítima de uma armação.

Bastante ativa na comunidade católica de São Bernardo, Zilda tem buscado apoio nos amigos da igreja. Ela frequenta as missas todo fim de semana e já atuou como catequista na paróquia. Fernando e seus irmãos costumam ajudar os pais a angariar fundos e doações para famílias carentes da comunidade.

“Ele é o filho que toda a mãe sempre quis ter”, disse a aposentada Leonilda Moya Galhardo, vizinha e amiga próxima da família, sobre o treinador. A aposentada afirma que se acostumou a ver ginastas frequentarem a casa dos pais de Fernando, em festas de família, por exemplo. “Todos aqui sabemos que o Fernando é inocente e vai conseguir provar.”

Algumas residências adiante, o também aposentado Antônio Romano disse que ficou chocado quando soube das acusações contra Fernando, um rapaz que ele viu crescer e que sempre considerou um cidadão exemplar. “Eu trabalhava com serigrafia e lembro de uma vez que ele tirou dinheiro do bolso para pintar camisas pros atletas dele”, disse o vizinho, que foi convidado ao casamento de Fernando.

A tranquilidade da rua foi abalada apenas quando carros da polícia estacionaram na frente da casa de Zilda e Álvaro em uma operação de busca e apreensão na sexta-feira retrasada. Os policiais encontraram o próprio Fernando em casa e contaram com sua colaboração. O suspeito conduziu os policiais a todos os cômodos e permitiu que eles levassem o que consideraram conveniente.

A delegada Tereza Gurian, que comandou a operação, só se irritou porque suas ações acabaram vazando para a imprensa, o que levou jornalistas à porta da casa dos pais de Fernando. Em uma primeira análise, a polícia civil não encontrou nada relevante no HD e no material recolhido na casa, mas admite que uma segunda análise é necessária.

A delegada, que substitui a titular da delegacia da mulher de São Bernardo, aposentada recentemente, já ouviu testemunhas e supostas vítimas do treinador e aguarda o momento propício para intimar Fernando. Ela confirmou que, até aqui, os depoimentos corroboram as denúncias veiculada na TV Globo.

Os atletas e ex-atletas que foram à polícia deram detalhes sobre como, segundo eles, Fernando os filmava no banho e manuseava seus órgãos genitais. “Estamos trabalhando para colher outras provas também”, afirmou a delegada, que negou que o inquérito estivesse parado desde 2016, quando foi feita a primeira denúncia: “Precisamos ter cautela diante de acusações graves como essa. O inquérito está correndo no seu tempo.”