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Conheça o polonês que reaprendeu a jogar handebol após perder um olho

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

27/01/2015 06h00

Handebol é um jogo dinâmico. A troca de passes costuma ser rápida, os jogadores precisam mudar de posição rapidamente e ficar sempre de olho na bola, esperando pelo próximo passe. A maioria dos atletas faz tudo isso de maneira automática. O polonês Karol Bielecki, não.

Em 2010, ele jogava um amistoso de seleções contra a Croácia. Jospe Valcic tentou um passe, Bielecki tentou cortar. Na movimentação, o polegar do croata entrou no olho do polonês. A primeira operação foi imediata. Alguns dias depois, veio a segunda. Quando surgiu o diagnóstico definitivo: com lesões sérias no globo ocular e na retina, o olho esquerdo estava perdido.

Bilecki, então com 24 anos, se aposentou do esporte. A decisão durou pouco menos de uma semana. Foi para a reabilitação para se acostumar com as mudanças. Com um só olho, distâncias, perspectivas e velocidades mudavam. Era preciso treinar o cérebro para interpretar o mundo a sua volta. A vida de atleta profissional ajudou. "A movimentação e a troca de passes no handebol é quase automática, não muda. Então, tudo sai naturalmente. A falta de visão não atrapalha. Ainda tenho muitos gols pela frente", explica.

Antes da lesão, ele era considerado um dos melhores do planeta - a altura (2,02m) e o porte físico (100kg) somados a uma agilidade fora do comum ajudavam bastante. Voltou a jogar apenas um mês depois. Marcou 11 gols em uma partida de seu clube, o alemão Rhein-Neckar. Foi vital na classificação da Polônia para o Mundial do Qatar. Hoje, quem o vê atuando no Mundial (já são oito gols no torneio) pode pensar que foi um retorno fácil. Não foi.

O Rhein bancou a recuperação do jogador e o usou por mais uma temporada, mas Bielecki não parecia ser capaz de voltar a jogar como antes. Após marcar 70 gols na Liga dos Campeões do handebol europeu na temporada 2009-2010, os números caíram para 19 em 2011-2012, sua primeira temporada completa pós-lesão. Um jogador pela metade já não era imprescindível.

Ele voltou, então, para a Polônia, para recomeçar. Mas também teve problemas. Em seu novo clube, o Kielce, foi alvo de críticas de torcedores. Sabendo que já tinha sido considerado um dos maiores do mundo, ouviu que agora jogava apenas por nome. Só no ano passado as coisas começaram a mudar. Com uma troca de técnico, Bielecki dobrou sua média de gols e voltou a ser um jogador importante. Do time e da seleção de seu país. "Eu jogo handebol há 15 anos. Não esqueci", explicava, em entrevistas para a imprensa de seu país.

Quem o vê em quadra se inspira. É o caso de Vinícius Teixeira, pivô brasileiro que também tem um histórico de lesões: em 2014, ele sofreu duas fraturas no crânio, uma no osso entre o olho e a bochecha, outra na testa. Nas duas, precisou de operações. “O que ele faz deve ser bem complicado. Muda a perspectiva, o ângulo de visão”, diz o brasileiro.

Quer uma chance de vê-lo em ação? Na quarta-feira (28), às 13h30 (de Brasília), a Polônia joga pelas quartas de final do Mundial. E com uma pimenta a mais: o rival é justamente a Croácia.