Brasileiro da seleção de handebol tem ajuda de seguro-desemprego da França
Felipe Borges defende a seleção brasileira de handebol há quase dez anos, é um dos principais artilheiros da história da equipe nacional e um dos atletas do país mais valorizado no exterior. Mas no momento, ele sofre com algo incomum para alguém com um currículo como o seu. Vive em Montpellier recebendo apenas um seguro-desemprego do governo francês. O valor é o equivalente a 20% do salário que recebia até se lesionar no ombro em um jogo com a camisa verde-amarela durante a final do Campeonato Pan-Americano, em junho deste ano. A falta de um seguro feito pela Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) o deixou na situação complicada.
Felipe, que defendia o Montpellier AHB, tinha contrato assinado com o Sporting de Portugal. Porém, a lesão e a consequente cirurgia que o deixou de fora da Olimpíada do Rio de Janeiro, fizeram o clube português rescindir o acordo.
“Era um direito deles. Os médicos me analisaram e havia uma cláusula que permitia uma rescisão em caso de uma lesão que me afastasse por mais de 60 dias. Infelizmente aconteceu”, disse Borges ao UOL Esporte.
Sem equipe e uma fonte de receita assegurada, contou com a boa vontade do clube francês. A diretoria conseguiu junto ao governo o auxílio e o amparou no momento de dificuldade.
“Não vou dizer que vivo no limite (de dinheiro). A situação é até um certo ponto tranquila. Mas não posso exagerar. Trato de economizar para não passar por dificuldades”, explicou. Porém, está vivendo longe da família. Sua mulher, que é espanhola, está morando com os pais na cidade de León. A filha Valéria, de dois anos, também foi para lá.
“Para receber o seguro, eu preciso ficar na França. Não tem outro jeito. Elas irem para lá foi uma alternativa encontrada para economizarmos”, disse Borges, que atuou na cidade espanhola entre 2011 e 2013.
Desde que teve o problema, Borges buscou ajuda da CBHb. Porém, não teve nenhuma resposta positiva até o momento sobre qualquer possibilidade de auxílio.
“Fui atrás do presidente (Manoel de Oliveira). Liguei para ele pois não foi procurado. Gostaria que a confederação resolvesse este problema”, afirmou.
Apesar de não ter recebido nenhuma assistência da confederação, Borges diz não guardar nenhum tipo de mágoa e almeja um retorno em breve à seleção. Seu objetivo é participar do Mundial de 2017, que será realizado entre os dias 11 e 29 de janeiro justamente na França. A cidade de Montpellier, inclusive, será uma das sedes.
“Já faz quatro meses que operei e nos próximos dias serei avaliado de novo pelos médicos. Devo começar o trabalho com bola em breve. Preciso colocar um objetivo e quero jogar este Mundial. Claro que não depende só de mim. O técnico precisa me convocar. Mas jogaria sim”, disse o ponta-esquerda de 31 anos.
“Meu representante também está buscando algum clube para atuar, mas nesta época de fim de ano é complicado encontrar alguma coisa”, falou.
Companheiro de seleção vive situação parecida
Borges não é o único atleta com passagem frequente pela seleção que está em situação complicada após se lesionar defendendo o time nacional.
Arthur Patrianova rompeu o ligamento do joelho direito em amistoso preparatório para a Olimpíada no dia 3 de abril, teve de passar por cirurgia e por conta disso teve seu salário reduzido pelo RK Celje Pivovarna Laško, da Eslovênia. Recebe 20% do valor original até que possa ter novamente condições de estar em quadra. Também tem sua moradia e alimentação bancadas pela agremiação.
Assim, é outro que lamenta a não-existência de um seguro para lesões enquanto está treinando com a seleção e também a falta de assistência por parte da CBHb após a cirurgia.
“Algum seguro deveria cobrir meu salário e como não possuía essa foi a forma que eu e o clube chegamos para continuar com o contrato. Fico um pouco chateado sim com a posição da confederação. Mas tive o apoio da minha família, amigos, clube e até da comissão técnica da seleção”, disse Patrianova
Por ser uma lesão mais séria do que a sofrida por Borges, o atleta não acredita que estará no Mundial. O tempo para entrar em forma seria muito curto.
“Teoricamente depois do dia 21 de dezembro já estaria apto para jogar, mas sem nenhum ritmo de jogo. Então não sei se conseguiria ganhar ritmo em 15 dias depois de estar 8 meses sem jogar”, afirmou.
Confederação diz que busca solução para os atletas
O supervisor da seleção masculina, Cássio Marques, afirmou ao UOL Esporte, que o presidente da Confederação está buscando uma solução para auxiliar os atletas. Mas afirmou que a resolução ainda é um pouco complicada.
“O presidente está tentando resolver da forma a mais rápida possível. Quando fechamos contratos com as estatais, a maioria deles é para fase de treinamentos, viagens. Não temos dinheiro específico para atender atleta nesta questão de aporte financeiro. O Manoel está correndo atrás, mas não conseguiu viabilizar nada ainda”, explicou.
Para convocações futuras, a CBHb estuda a melhor maneira de fazer seguros contra lesões, a exemplo do que acontece com jogadores da NBA quando defendem a seleção de basquete.
“Este é um assunto que discutimos frequentemente com os atletas, trocamos mensagens. Estamos vendo as possibilidades que existem e uma forma de fazer este seguro. No Mundial, por exemplo, não precisamos pois todos os jogadores já são cobertos por um seguro da IHF (Federação Internacional de Handebol, na sigla em inglês). Seria mais para estes períodos de treinamentos fora das grandes competições)”, afirmou.
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